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c h a r i t y    h a s t i n g s

Logo as duas portas do elevador se abriram para mim, me dando passagem para o extenso corredor. Me despeço rapidamente de Brin e guardo o celular de volta ao bolso do sobretudo que eu usava, aproveitando para tirar a outra luva que ainda se mantinha a aquecer a minha mão, agora com elas livres procuro a chave da porta e a coloco na fechadura, destrancando o trinco e me permitindo entrar.

Uma melodia calma e harmoniosa me acolhe no interior e me sinto bastante confortável com ela. Retiro os meus sapatos com algumas manchas brancas de granizo e os coloco em um canto no hall de entrada fazendo companhia para o outro calçado que já lá se encontravam. Não demorou muito para que reparasse nos movimentos vindos da cozinha, me fazendo parar com um breve sorriso em meus lábios e os braços cruzados no peito. O homem de pele pálida e cabelos escuros se encontrava sem camisa, deixando ver o físico que o mesmo possuía, suas costas se contorciam, seu abdómen não era muito definido mas ainda assim havia linhas querendo deliniar sua barriga, seus braços eram magros mas de um jeito que o deixava bastante atraente. Neil apenas usava uma calça de fato de treino, larga em suas pernas, o tecido descaia na zona da sua cintura por isso eu podia ver a barra branca de seu boxer.

Meus dentes começaram a arrastar o meu lábio para dentro da boca e então eu 'acordei'. Neil era o namorado da minha irmã, eu não podia pensar assim sobre ele. Phoebe não me perdoaria.

Desviei meu olhar, me concentrando em desabotar o sobretudo e o dispo colocando o casaco sobre um dos espaços vagos no cabide atrás da porta. A melodia calma cobria os sons que as minhas ações produziam e, como tal, Neil ainda não tinha dado pela minha presença ali. Aproveito isso para me encaminhar para a zona da cozinha e chego por trás de seu corpo, colocando minhas mãos sobre os seus olhos, tapando a sua visão.

"Quem é?" Ele pergunta rindo, levando suas mãos até às minhas, tentando as afastar. Porém, eu não cedi e continuei a pressionar elas sobre as suas pálpebras.

"Você terá que descobrir, espertinho." Sinto o cheiro de seu perfume, por conta da nossa proximidade.

"Charity?" Ele lança e eu bufo, me afastando. Seu corpo se volta para o meu e há um sorriso brincalhão que preenche seus lábios quando ele encara minha carranca.

"Como soube?"

"Seu sotaque americano te denunciou." Ele fala, de um jeito elegante e sofisticado. Eu tinha notado que as pessoas daqui eram incrivelmente educadas, diferente do que acontece na América. Não que todo mundo lá seja rude, mas apenas não é o mesmo que aqui. "Ele é bastante irritante para dizer a verdade, mas eu me acustomei ouvindo a Phoebe falando."

E tão fácil assim, eu mudei de ideias.

Neil riu da minha expressão desapontada, eu tava exibindo demais minhas emoções e a ele nada parecia passar despercebido. Seus olhos verdes conseguiam ler através das minhas pupilas e isso era interessante ao mesmo tempo que assustador. Neil se virou de costas para mim, rodando alguns botões do fogão e então vi que ele estava preparando algo em uma frigideira.

"O que está fazendo?" Apoio minhas mãos na bancada, puxando meu corpo para me sentar sobre ela. Minhas pernas pendiam pelo ar, sem que eu conseguisse tocar no chão.

"Macarrão." Ele respondeu, mexendo a mistura com uma colher de pega comprida. "Sua irmã saiu para a universidade, ela vai ficar lá por um tempo e não sabe se vem jantar."

Era diferente o facto que Neil se refere à universidade de maneira simples enquanto a Phoebe falava 'Harvard' como se quisesse se exibir de seus feitos. Não a culpo, no lugar dela teria todo o orgulho em o comunicar para as outras pessoas, mas essa não era a meta de vida que eu queria para mim.

"Eu sei." Assinto, levemente. "Ela me encontrou na porta enquanto saia."

Neil se esticou na minha direção, seu braço passou por cima da minha coxa e eu pude sentir minha respiração falhar uns segundos. Ele não olhou para mim enquanto o fazia, seus olhos estavam baixos e concentrados em algo mais, logo ele retomou à posição inicial e meus olhos se arregalaram ao ver um pano bege ser segurado em suas mãos. Estúpida, iludida Char!

"Então..." Tento formular algo, para não ser constrangedor estar perto dele. "Como você conheceu minha irmã?"

"É uma história bem normal, se quer saber." Neil começou, limpando a sujeira à volta do fogão com o pano a ser esfregado nos salpicos da mistura que ele estava fazendo. "A gente entrou para Harvard no ano passado, tínhamos algumas aulas juntos e eu acabei emprestando meu lápis para ela. Desde aí, não conseguimos deixar de nos falar."

Um lápis? Ridiculamente romântico.

"E esse apartamento veio como nessa história?" Desvio meu olhar para o teto esbranquiçado da cozinha, apenas para não estar com o olhar fixo somente em suas costas.

"Eu morava em uma república, você sabe, festas todos os finais de semana. Era legal no início, mas cansativo depois de uns tempos. Phoebe acabou me contando que sua colega de quarto era chata para caramba e nunca estava lá, então eu dormia várias vezes no quarto das duas para me livrar de todo o barulho de adolescentes bêbados." Neil se voltou de frente, ficando escorado na bancada, ele balançou o pano bege para trás e o colocou apoiado em seu ombro. "Essa rotina durou por uns tempos, até que nosso namoro ficasse mais sólido e decidissemos viver juntos."

"Hm," Balanço minhas pernas no ar. "Você está feliz com ela?"

Neil se mostra um pouco confuso com a minha pergunta, uma ruga forma-se no meio das suas sobrancelhas que se juntam levemente. Fico um pouco constrangida pelas minhas palavras, mas eu estava curiosa. "Você acha que estaria aqui, se não estivesse feliz com ela?"

"Tem razão." Foi estúpido o que eu disse. Meu olhar baixa e as minhas bochechas queimam. Eu estava sempre escolhendo os caras errados, talvez fosse uma tara que eu tinha.

"E você?" Ele atrai de novo minha atenção. "Se vê morando em Cambridge para ano?"

"Não." Soou rápida, o deixando um pouco perdido. É claro que Phoebe já deveria ter contado para ele dos planos que nossos pais tinham para nós. "Eu não quero ir para Harvard, eu não anseio isso como a Phoebe ou nossos pais. Eu não me vejo cuidando de uma empresa ou trabalhando em alguma, o trabalho de escritório não se encaixa em mim como eles fazem parecer."

"Então, o que se encaixa Charity?" Sua voz vinha num tom curioso.

"Mistério." Sorrio para mim mesma. "Eu adoro isso, a sensação que você está no escuro sem ter para onde ir. Você tem que usar sua própria cabeça para escolher um caminho, achar pistas e chegar a uma conclusão. Nem todas as fontes que você encontra são viáveis e distinguir a verdade da mentira pode ser complicado às vezes. Você tem que fazer as perguntas certas."

Neil ri, seu peito sobe enquanto o faz e acabo sorrindo com a minha pequena divagação. Eu nunca tinha dito isso em voz alta para ninguém. Claro que a ideia já estava na minha cabeça, eu adormecia pensando nisso, mas parecia algo tão impossível e distante que eu acabava abanando minha mente e afastando esses pensamentos.

"Voce está suando como uma verdadeira agente de fbi." Neil falou brincando, mas sua afirmação teve um maior efeito do que deveria para mim.

Talvez eu estivesse destinada a sê-lo.

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há imenso tempo que não tínhamos um cap dedicado à vida da char então aqui está hihihi

uma história com vários pontos de vista pode ser difícil às vezes e eu vou tentando focar no que ajuda mais a desenvolver a história, mas claro que tento dar o seu espaço um bocado para todos

xx Buhh

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