*** Capítulo 7 ***

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Desci a escada naquela manhã um pouco mais tarde do que de costume, era final de semana e não tínhamos aula. Peter tinha ido para o treino de basquete na escola e John estava trabalhando.
Ouvi um barulho vindo da garagem e fui lá olhar, Vivian, estava separando algumas caixas com algumas peças de computadores e notebooks.
- Bom dia, Sam. – disse ela ao me ver
- Bom dia, Vivian.
Aproximei de algumas caixas olhando as peças dentro delas.
- Isso tudo é lixo? – perguntei pegando uma placa mãe
Vivian passou a mão na testa e se aproximou de mim.
- Não, - respondeu ela – isso tudo é pra concertar. John pegou esse serviço pra ocupar a mente há alguns anos, mas agora ele não tá dando conta, terei que devolver tudo aos donos.
Tinha umas 4 caixas cheias ali.
- Eu posso tentar concertar alguns, - disse a Vivian – posso fazer isso no meu tempo ocioso.
- Sério? – perguntou ela curiosa, mas sorrindo ao mesmo tempo
Eu tinha conhecimento sobre tecnologia desde pequena, sempre ajudava a concertar as coisas com meu pai e com o John, acho que aquilo iria não só ajudar ele, mas a mim também.
- Bom, tudo bem então, – disse ela me entregando uma das caixas – você pode levar essa primeiro.
Eu a recebi observando ela olhar atentamente para as outras.
- Essa é a que está mais atrasada, - continuou Vivian – depois eu levo as próximas da lista dele, ok?
Afirmei levando a caixa até meu quarto, precisei organizar a mesa onde meu computador ficava para dar espaço aos computadores que fosse ajeitando.
Era muita coisa, então me preparei, colocando os fones do MP3 no ouvido colocando as músicas de minha mãe no aleatório, e a primeira a tocar foi a Take on me, do A-ha, minha mãe adorava essa música, sempre que ela começava a tocar ela dançava me fazendo rir. Como eu sentia falta dela...
Deixei o volume no máximo e comecei a testar o primeiro computador; verifiquei os defeitos, fiz limpeza, troquei o que precisava trocar e fui para a parte de instalação para terminar.
Estava sentada na cadeira olhando para a tela do computador, quando senti uma mão tocando no meu braço, levantei da cadeira num susto.
- Calma! – pediu Vivian tentando me acalmar de longe
Respirei fundo tirando os fones do ouvindo,  colocando a mão sobre o peito em seguida, sentindo meu coração batendo muito acelerado.
- Eu te chamei, - explicou ela - mas você não respondeu, então eu entrei, não queria te assustar.
Contei até seis tentando controlar a respiração e quando consegui, olhei pra ela mostrando que estava tudo bem.
- Eu trouxe mais essa pra você.
Ela havia colocado mais uma caixa no chão, com mais peças e outros computadores.
- Ok, - disse mais calma – obrigada.
Ela passou a mão em meu cabelo saindo do quarto em seguida. Me sentei novamente voltando a olhar para a tela do computador que ainda estava carregando a barra de instalação, e por um momento, lembrei do momento que tive com Alex no ônibus.
Empurrei a cadeira para trás deslizando por causa das rodas que ela tinha, até chegar em frente a minha janela.
Alex estava com o seu namorado, ele tentava abraça-la, segurar sua mão, mas ela se esquivava. Quando ele tentou beija-la, ela lhe deu um tapa tão forte, que até eu pude sentir.
O cara a olhou como se fosse revidar, mas apenas se virou e saiu do quarto. Ela fechou a porta com força e começou a chorar. Dei um leve suspiro vendo-a daquele jeito, olhei para a tela do computador e ele já estava reiniciando. Eu não poderia interferir nos assuntos deles, então voltei para a frente da mesa e continuei com o serviço.

Já era muito tarde quando decidi parar, estava me sentindo cansada e suja, precisava muito de um banho. Desliguei o MP3 me espreguiçando na cadeira, levantando em seguida. Fui até o banheiro tirando a roupa indo para de baixo do chuveiro. Eu não gostava muito de toque, mas sentir a água caindo sobre minha pele, me dava uma sensação muito boa. Quando terminei, me enrolei na toalha e saí ainda com os cabelos pingando. Tirei uma bermuda e uma camisa de dentro do guarda-roupa jogando-os na cama, me desenrolei da toalha enxugando o cabelo em seguida, e acabei reparando no meu reflexo no espelho.
Meu corpo nu tinha muitas cicatrizes, nos braços, nas costas, na minha barriga descendo até minha virilha. Eu a toquei, e isso acabou me trazendo más lembranças. Balancei a cabeça tentando afasta-las e abri minha gaveta de roupa íntima.
Olhei para aquelas calcinhas e senti algo estranho, pareciam ser femininas de mais, e isso acabou me fazendo procurar as boxes que eu havia pedido a Vivian para comprar para mim. Vesti a primeira que achei, e em seguida peguei a bermuda em cima da cama. Quando senti o vento entrando no quarto e o aroma das flores vindo junto, percebi que a janela estava aberta. Peguei a blusa vestindo-a em seguida e ao me aproximar mais da janela vi que Alex estava parada na frente da dela, seu rosto parecia ter saído do forno de tão vermelho que ele estava, e isso me fez pensar que ela deveria estar ali há algum tempo.
- Estava me olhando? – perguntei em um tom que só ela ouvisse
– Você é uma garota? – perguntou ela boquiaberta
- Não, – respondi ironicamente – sou um robô que veio do futuro.
Ela revirou os olhos.
- É claro que é uma garota! – disse ela subindo em sua cama, ficando mais perto da janela – Eu vi você! Minha mãe também disse que você era “ela" daquela vez, como não percebi isso antes?
Algo naquela conversa começou a me deixar ansiosa.
- Você é lésbica? – perguntou ela de novo - E essas cicatrizes? Quem é você de verdade, Sam?
Aquela pergunta me fez ficar com um nó na garganta, meu coração já batia acelerado e eu já não conseguia me concentrar direito.
- Eu... – tentei falar algo, mas já estava entrando em pânico.
- É claro! - disse ela como se tivesse desvendado o mistério – Você é a irmã deles, a que se perdeu em um acidente, Sam de Samantha, não é? Eu ouvi falar muito de você, mas nunca pensei que você fosse ela, você vestida não parece com uma garota, mas nua...
Minhas mãos começaram a suar frio, e minha visão ficou escura, acho que devo ter apagado, porque quando abri os olhos, eu estava na cama de um hospital.

- Como se sente? – perguntou Vivian sentada em uma cadeira próximo a minha cama
Alex se aproximou com os olhos vermelhos, como se tivesse chorado, e parecia muito preocupada.
- Estou bem, - consegui falar – como eu vim parar aqui?
- Alex viu você desmaiando, - começou Vivian – não conseguimos acordar você e achamos melhor chamar uma ambulância.
O médico entrou assim que ela parou de falar, ele estava com uma prancheta na mão, e se aproximou de nós, fazendo Vivian levantar.
- São todos da família? – perguntou ele, olhando para Peter e John que estava um pouco mais atrás de Alex
- Sim, doutor, - respondeu Vivian – o que aconteceu com ela?
Ele explicou que eu havia tido de uma crise de Pânico, e que no meu estado atual, com as medicações que eu já tomava, seria necessário aumentar um pouco a dosagem para evitar que os desmaios continuasse.
Eu iria precisar fazer uma nova bateria de exames, e após os resultados, se estivesse tudo em ordem, eu estaria liberada.
Fiz exatamente tudo o que pediram, desde exames de sangue a um EEG (eletroencefalograma), que servia para detectar algum tipo de anormalidade neurológica.
Enquanto eu fazia os exames, eu pude perceber que Alex e Peter pareciam bem próximos, e isso me deixou confusa. Eles não se falavam, mas estavam ali, um do lado do outro conversando como se fossem melhores amigos, e por alguma razão, isso me deixou muito irritada.
Quando o médico voltou com o resultado dos exames e viu que tudo parecia normal, ele me liberou, entregando a Vivian novas receitas e uma guia nova para psicóloga.
- Não deixe de ir para a psicoterapia, - aconselhou ele – ok?
Afirmei, saindo da sala do médico com Vivian em seguida. Alex e Peter levantaram do banco e John chegou com um copo de café na mão.
O caminho de volta para casa foi bem tenso, eu estava no banco de trás entre Alex e Peter, e estava sentindo como se estivesse atrapalhando algo.
Chegando em casa, fui direto para meu quarto e quando vi a cortina aberta, a fechei na mesma hora, sentando na cama depois. Meus irmãos me olharam e fecharam a porta do quarto como se soubessem que eu queria ficar sozinha.
Ouvi Vivian falando com Alex e em seguida a porta se fechando. Esperei uns minutos antes de ir me deitar, escorada na janela. Alex me chamou algumas vezes da janela dela, bem baixo como se não quisesse chamar a atenção de minha família, mas como eu não abri minha cortina, ela se calou, e eu acabei me deitando em seguida.

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