*** Capítulo 12 ***

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Havíamos começado com aquele plano, algumas semanas depois que as aulas haviam começado, já estávamos chegando nas férias do meio do ano e ainda “namorávamos" de mentira.
Tínhamos criado uma rotina de um casal que para muitos, era considerado a “rotina perfeita”.
Na semana, eu me reunia com Diana e outros da turma para estudar na biblioteca. Peter as vezes ia lá para ficar olhando para Diana, acho que ele tinha se apaixonado, e outras vezes, era Alex quem ia para ficar perto de mim.
Uma vez ou outra depois da aula, íamos todos juntos para a lanchonete, ou saíamos para parques de diversões, cinema ou jogos de futebol. Por incrível que pareça, todos os amigos de Alex aceitaram nossa “relação” numa boa.
Quando eu não dormia na casa dela, ela ia dormir na minha, tirávamos fotos, fazíamos vídeos, a parte mais difícil ainda era dormir na mesma cama que ela, mas quando isso não acontecia, eu sentia falta. .
Já nos finais de semana, eu ficava em casa ajudando Vivian com os afazeres e concertava computadores para John. Mas como morávamos uma ao lado da outra, mesmo não precisando fingir um relacionamento na frente de ninguém, acabávamos ficando juntas nas horas livres, só de bobeira.
Nos não brigávamos e acho que não havia ciúmes, era perfeito até de mais.

Naquela sexta feira, era o último dia de aula antes das férias, os amigos de Diana iam dar uma festa de despedida das aula, e me chamaram para ir.
Estávamos na sala ainda, quando ela me convidou.
- Vamos lá Sam! - chamou ela - Vai ser divertido!
- Não sei não, - disse sem saber como dar um perdido nela - tenho que terminar um trabalho.
Alex estava na cadeira ao meu lado, como sempre desenhando no caderno.
- Você pode deixar isso para amanhã!
Ela estava insistindo muito, parecia que todos da sala iam e queriam minha presença.
- Não sei, eu vou pensar, ok?
Ela sorriu
- Pensa com carinho. – disse ela piscando para mim, me deixando com vergonha e depois saiu de perto
- Acho que ela gosta de você - disse Alex sem olhar para mim
- Diana? - perguntei olhando para ela – Sem chance, ela e Peter parecem estarem tendo alguma coisa.
Ela continuou desenhando, e por um momento, cheguei a pensar que ela tivesse ficado com ciúmes. Me aproximei mais dela e percebi que ela parecia um pouco triste ou talvez chateada. Ela me olhou sem muito ânimo, e tentou sorrir como se estivesse tudo bem.
- Você vai a festa? – perguntei tentando distrai-la
- Não sei, - respondeu ela voltando a olhar para o caderno – participei da organização, mas não estou muito no clima de festas hoje.
- Porque?
Ela suspirou olhando para o caderno.
- Faríamos 3 anos hoje...
Ela estava se referindo a Caio, e só em pensar que ela ainda pensava nele daquele jeito, me deixou um pouco chateada. Mas eu não sabia o que falar, então apenas segurei em sua mão.
Eu não gostava de ver ela triste, ainda mais por causa daquele cara.
Quando o sinal do final da última aula tocou, a turma toda começou a comemorar. Ela soltou minha mão guardando as coisas na mochila e levantou.
- Acho que vou direto pra casa hoje, - disse ela – a gente se vê depois?
Eu não queria deixar ela ir assim, e acabei tendo uma ideia.
- Espera, - pedi segurando de novo na mão dela – você poderia ir a um lugar comigo?
- Sam...
- Por favor.
Ela parecia muito hesitante, mas acabou cedendo.
Peguei minha mochila e saímos juntas da escola, fugindo de todo mundo. A fiz pegar um ônibus diferente, deixando-a curiosa, mas quando ela viu o mar a nossa frente, ela sorriu, eu amava o seu sorriso.
Descemos do ônibus, caminhando um pouco, passando por um calçadão e algumas barracas até finalmente chegar no quebra mar.
Sentei na areia olhando para ela, que acabou sentando em seguida no meio das minhas pernas, me fazendo abraçar ela.
Ficamos um tempo em silêncio, olhando para as ondas indo e vindo.
- Porque me trouxe aqui hoje? – perguntou ela me olhando
- Antes do acidente, - comecei, sem olhar para ela – quando eu estava triste, eu costumava fugir da escola e ir a praia, ficar perto do mar sempre fazia eu me sentir melhor, achei que seria uma boa ideia trazer você aqui.
- Raramente você fala sobre o que aconteceu antes dele, - notou ela – mas fico feliz quando compartilha algo comigo.
Continuei olhando para o mar, aquilo realmente me fazia bem. Fechei os olhos afim de sentir aquela brisa, e acabei percebendo que Alex fazia um barulhinho, como se estivesse cantando. A olhei prestando atenção, tentando identificar que música era aquela, e ela acabou começando a cantar.

Baby
Tanto a aprender
Meu colo alimenta a você e a mim
Deixa eu mimar você, adorar você
Agora, só agora
Por que um dia eu sei
Vou ter que deixá-lo ir

Sabe, serei seu lar se quiser
Sem pressa, do jeito que tem que ser
Que mais posso fazer?
Só te olhar dormir
Agora, só agora
Correndo pelo campo
Antes de deixá-lo ir

Muda a estação
Necessário e são
Você a florescer
Calmamente, lindamente

Mesmo quando eu não mais estiver
Lembre que me ouviu dizer
O quanto me importei e o que eu senti
Agora, só agora
Talvez você perceba
Que eu nunca vou deixá-lo ir
Que eu nunca vou deixá-lo ir
Eu não vou deixá-lo ir!

Ela cantava muito bem, sua voz passava calma do mesmo jeito que as ondas do mar.
- De quem é essa música? – perguntei olhando para ela
- Da Pitty, - respondeu ela retribuindo olhar – o nome dela é “Só agora”, é uma das minhas favoritas.
Aquela letra era muito bonita, será que tinha algum significado?
Ela me deu um beijo no rosto levantando em seguida.
- O que foi isso? – pensei colocando a mão onde ela tinha beijado
- Que tal um mergulho? – sugeriu ela tirando os sapatos.
- Nos não viemos com roupa de banho...
Ela tirou a farda ficando só de roupa íntima, correndo para o mar, dando gritinhos como se a água estivesse muito fria.
- A água tá ótima! – disse ela rindo
Isso me fez rir também, tirei meus sapatos e minha roupa, colocando tudo dentro da mochila e fui até ela, mergulhando em seguida. Submergi bem próximo a ela, e isso a fez me abraçar.
Acabamos jogando água uma na outra momentos depois, e tentamos passar por todas as ondas sem mergulhar nelas, nos divertimos bastante ali.
Nos jogamos na areia algum tempo depois, ela rindo como criança.
- Tenho gostado muito desses nossos momentos sabia? – confessou ela me olhando – As vezes queria que eles nunca acabassem.
Retribui seu olhar enquanto ela se virava e ficava de frente para mim. Percebi que seu olhar as vezes descia de meus olhos para minha boca e vice-versa.
- Está sujo? – perguntei passando o indicador nos lábios
Ela negou, rindo.
- Tem certeza?
Ela afirmou, segurando em meu rosto com uma mão
- Você é incrível, sabia?
Fiquei completamente sem jeito, e provavelmente devo ter ficado vermelha, por que minha reação a fez rir de novo.
- Ah merda... – pensei olhando para ela sorrir
Dizem que quando você percebe que se apaixona, você faz uma cara de idiota, e acho que foi isso o que aconteceu agora.
Todas as fichas haviam caído, e o mais difícil seria admitir aquilo. Eu havia feito uma promessa, mas como eu poderia me afastar dela agora? Como eu poderia dizer que eu havia me apaixonado e ter meu coração partido?
Eu não queria perder aquilo, eu não queria perder ela, mesmo sabendo que aquela relação era de mentira, eu queria continuar vivendo ela.
- No que está pensando? – perguntou ela
- Nada... -  respondi me sentando, sentindo um pouco de culpa
Ela sentou também ainda me olhando.
- Fala vai.. – pediu ela empurrando meu ombro como sempre fazia pra conseguir algo
- Eu só... – dei uma pausa pensando no que dizer –
Também queria que isso nunca acabasse.
As feições no rosto dela mudaram, por um momento, ela pareceu preocupada, mas começou a aproximar o rosto do meu, fazendo meu coração bater muito rápido, como se quisesse sair pela boca.
Eu estava com tanta vontade de retribuir o que eu achava que ela queria naquele momento, que acabei fechando os olhos quase encostando a os lábios nós dela. Mas uma bola acabou caindo no meu colo, me assustando, me trazendo de volta a realidade.

Um garotinho correu até a gente e pediu desculpas pedindo a bola de volta. Alex a entregou, voltando a olhar para mim.
- Acho melhor irmos para casa. – sugeriu ela olhando pra mim meio sem jeito
Ela levantou, vestindo a roupa em seguida, colocando a mochila nas costas e me dando a mão para que eu levantasse também.
Eu estava sentindo que havia estragado tudo com ela naquele momento, que eu provavelmente tinha entendido tudo errado e que aquela bola caindo, era um sinal do universo mostrando que isso não deveria mesmo acontecer.
Dei a mão a ela, me levantando e me vestindo também. Voltamos para casa de mãos dadas, mas com um clima estranho entre nós duas.

John estava sentado na varanda, quando subi os degraus da calçada. Ele apenas me olhou e voltou a ler um livro que estava em suas mãos.
Entrei em casa subindo direto para o meu quarto, entrei no banheiro pra tirar a roupa molhada e quando saí, Peter estava lá sentado na cadeira.
- Pra onde você foi depois da aula? – perguntou ele
Eu estava de toalha, me sentindo indefesa e interrogada com aquele jeito dele.
- Hum, levei Alex a praia, - respondi – porque ?
Ele levantou vindo em minha direção, como se fosse brigar comigo.
- Eu fiz uma coisa hoje, - começou ele – e eu queria que fosse a primeira saber.
- Ok, você tá me deixando nervosa. – disse segurando na toalha
- Eu beijei a Diana, – disse ele nervoso – e ficamos de nos encontrar na festa hoje a noite.
- Sério? – fiquei muito surpresa
Ele afirmou sorrindo, eu fiquei tão feliz por ele, que acabei abraçando-o, deixando-o totalmente rígido.
Quando percebi o que eu havia feito, eu tentei soltar ele, mas ele retribuiu o abraço começando a chorar, e eu apenas permaneci ali, abraçada ao meu irmão.
- Estou feliz por você Peter. – disse baixinho
Ele agora soluçava, e eu acabei abraçando ele mais forte.
- Obrigado. – disse ele depois de um tempo, me soltando
- Ei! – chamou Alex da janela olhando pra gente – O que aconteceu? Porque você tá chorando?
Peter e eu nos aproximamos da janela, ele enxugando as lágrimas e eu tentando manter a toalha no meu corpo.
- Peter começou a namorar com a Diana. – informei
E ele bateu no meu braço.
- Nos só ficamos, - corrigiu ele – ainda não a pedi em namoro.
- E isso é motivo pra chorar? – perguntou Alex confusa
- Não é isso, - disse Peter me olhando – aquilo foi choro de felicidade, só isso.
Ela sorriu, e do nada começamos a rir
- Eu preciso ir me arrumar, - informou Peter – tenho uma festa para ir, vocês duas deveriam e também.
Eu e Alex nos olhamos.
- O que você acha? – perguntei
- Acho que é uma boa ideia, - respondeu ela – vou ir me arrumar também, precisamos comemorar esse dia tão especial do Peter.

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