*** Capítulo 17 ***

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Os dias seguintes foram bem estranhos pra mim, estar no mesmo quarto com Alex dia e noite, me fazia lembrar de quando estávamos "juntas”, mesmo com todos os meus problemas, antes tudo parecia ser mais fácil do que agora.
Pra evitar de ficar esbarrando nela, eu passei a ficar durante o dia na garagem, trabalhando tanto com o concerto dos computadores como com a manutenção da moto também.

- Não foi tão difícil assim.. – pensei, após a finalizar com a moto
Agora eu precisava dar uma volta nela pra saber se tinha de fato deixado tudo certo. Apesar de não ter carteira ainda, John ainda me ensinado a pilotar.
Peguei o capacete colocando no braço enquanto colocava a moto para fora da garagem, e assim que sentei nela, Alex saiu de casa com uma mochila nas costas.
- Vai sair? – perguntou ela se aproximando
- Vou só dar uma volta pelo condomínio, - respondi – ainda não tenho carteira, e você?
- Eu preciso ir no banco, - disse ela segurando uma alça da mochila – você poderia me dar uma carona até lá? Não é tão longe daqui.
Eu sabia onde ficava, não tinha tanto movimento de carro nem fiscalização, e mesmo eu sabendo que isso era errado, eu concordei.
- Tem um capacete extra na bancada, dentro da garagem. – informei, colocando o meu capacete
Ela se apressou entrando na garagem, e em seguida saiu com o capacete na mão. Sentando no lugar do carona.
- Você sabe mesmo andar nisso, né? - perguntou ela colocando o capacete
- É melhor você se segurar. - respondi
Ela segurou meio sem jeito na minha cintura, e em seguida me abraçou. Acelerei um pouco pra sair, e isso fez Alex me abraçar com mais força.
Um tempo depois, chegamos em frente ao banco, e Alex desceu da moto me entregando o capacete.
- Obrigada. - agradeceu ela
- Quer que eu te espere? – perguntei olhando o banco, não parecia ter tanta gente
- Não precisa, - respondeu ela – acho que vai demorar um pouco.
- Ok, qualquer coisa você pode me ligar quando terminar, - comecei – eu posso vir lhe buscar.
- Se precisar eu ligo sim, - disse ela se afastando – melhor você ir, tia Vivian disse algo sobre você comprar salgadinhos.
- Ah, meu aniversário é hoje? – pensei, ligando a moto
Dei uma última olhada em Alex antes de sair, e percebi que ela estava um pouco diferente do que o normal. Ela me deu “tchau” com um aceno e em seguida subiu as escadas entrando no banco.

Estacionei a moto na garagem, e aproveitei que Alex não estava lá e fui ficar no meu quarto.
Consegui tirar um cochilo muito bom, eu gostava da Alex, mas nunca havia me sentido tão bem dentro daquele quarto, como estava me sentindo agora.
Pra quem tinha medo de ficar sozinha, eu estava adorando a minha própria companhia.
Aproveitei para organizar as coisas em minha mesa, jogando coisas que não precisava no lixo, e colocando o que era importante no quadro de recados.
Um dos papéis que estava lá em cima, era a lista dos filmes que Alex havia escolhido. Sentei na cadeira e pesquisei pelo filme Below her mouth.
Coloquei play nele, e já de cara comecei a ficar um pouco envergonhada, pois já começava com uma cena de sexo entre às personagens e isso acabou me fazendo rir. Imaginando como teria sido ter colocado esse filme pra ver junto com ela, acho que ela teria tido um troço.
Como eu estava sozinha, continuei vendo o filme.
Estava numa cena bem intensa, quando ouvi a porta do quarto abrindo e fechando rapidamente, me fazendo desligar somente o monitor.
- O que está fazendo? – perguntou Alex se aproximando de mim, colocando a mochila no chão – Está vendo pornô?
Mesmo com o monitor desligado, as caixas de som ainda estavam ligadas e passando o áudio do filme.
- Não, - respondi baixando o volume – não é isso.
Ela cruzou os braços se encostando na mesinha olhando para mim, esperando que eu confessasse.
- É só um filme...
Ela continuou me olhando, me fazendo revirar os olhos. Liguei o monitor novamente, mostrando o nome do filme para ela.
- É um dos que você separou uma vez para vermos, - comecei - mas acabamos não assistindo a ele.
- Sério? – perguntou ela olhando bem para o nome do filme – Não imaginava que ele fosse assim...
Ela sentou em sua cama tirando os sapatos.
- Coloca do começo pra gente ver, - pediu ela me fazendo olhar para ela sem entender qual era a dela – O que foi? Se a gente não tivesse ido dormir naquela noite, teríamos visto ele.
Fiquei meio hesitante, eu já estava um pouco excitada por ter visto aquele filme até aquele ponto, ver do começo de novo, ainda mais com ela presente, poderia não ser uma boa ideia.
- Sam? – chamou ela meio impaciente
Suspirei, colocando o filme do começo.
- Espera! – pediu ela se levantando antes de eu dar play
Ela correu até a porta passando a chave nela, e depois voltou para sua cama.
- Porque fez isso? – perguntei confusa
- Já pensou se alguém entra e vê nos duas vendo esse filme? – perguntou ela – Não ia ser legal.
- Eu deveria ter feito isso enquanto eu estava sozinha.. – pensei suspirando na mancada que eu tinha dado e acabei colocando play no filme, aumentando um pouco mais o volume da caixinha de som.
Agora era quase impossível prestar atenção no filme, a ansiedade por estar trancada naquele quarto com Alex me fazia sentir cada batida tensa que meu coração dava, e isso estava me deixando muito inquieta, tanto que percebi ela me olhar várias vezes.
- Isso não vai dar certo. – pensei, dando um suspirou bem longo

Minhas costas estavam começando a doer por ficar sentada naquela cadeira, levantei os braços inclinando-os para cima tentando alongar minhas costas, mas acabei colocando todo o peso para trás, me fazendo cair da cadeira, mesmo em cima da cama de Alex. 
- Aí meu deus! – gritou ela se aproximando de mim – Você está bem?
Me sentei na cama sentido uma fisgada no pescoço, e isso me fez fazer careta, colocando a mão sobre ele.
- Estou bem, - respondi, escorando as costas na minha cama – não foi nada demais.
- Talvez eu deva ir pegar gelo, - sugeriu ela de joelhos ao meu lado – ou posso fazer massagem onde está doendo.
- Não precisa, - disse olhando-a, ela estava tão próximo a mim, que conseguia sentir seu perfume, e eu acabei baixando a cabeça ao lembrar das noites em que dormia abraçada a ela, sentindo o cheiro daquele mesmo perfume – eu estou bem.
- Tem certeza? – perguntou ela colocando a mão no meu ombro, me fazendo olha-la de novo – sou boa com massagens, você sabe.
Ela começou a apertar meu ombro com uma mão, subindo-a por meu pescoço, massageando-o suavemente onde estava doendo, e eu acabei fechando os olhos.
Senti ela subir em meu colo, sentando sobre ele de frente para mim, continuando a massagear meu pescoço, me fazendo apoiar a testa em seu ombro enquanto ela colocava um pouco mais de força na massagem, e eu acabei deixando sair um suspiro.
- Sam? Alex? – chamou Vivian do outro lado da porta, fazendo nos duas olhar para ela – Está quase na hora do jantar, é bom vocês se arrumarem logo.
- Ok Vivian! – respondi segurando no quadril de Alex – Nós descemos daqui a pouco!
- Ok! – disse Vivian
Voltei a olhar para Alex, que olhava para o lado, ainda sobre o meu colo. Quando percebi que eu havia colocado as mãos no quadril dela, eu soltei rapidamente.
- Desculpa.
- Tudo bem.. – disse ela, levantando em seguida – Vou me arrumar primeiro.
Afirmei, observando-a ir para o banheiro. Havia algo de estranho nela.

Vivian havia preparado uma mesa maravilhosa, haviam duas lasanhas, um bolinho vulcão pequeno de leite ninho com uma vela informando nossa idade; 18 anos. Uma bandeja de salgadinhos de um lado e do outro uma de docinhos variados.
John estava ajudando Vivian a colocar os copos na mesa e Peter estava no sofá conversando com Diana. Ela estava muito bonita, seus cabelos loiros presos em forma de trança para o lado e um vestido florido bem claro a fazia parecer bem mais nova que realmente era.
Por incrível que pareça, Peter estava parecendo mais com o John do que comigo, a roupa formal combinava com ele.
Vivian nos chamou para o jantar, e ficamos todos reunidos a mesa como uma família, que agora parecia muito maior do que quando cheguei.
Durante todo o jantar, Alex ficou do meu lado, Diana chegou a comentar sobre nós, perguntando se tínhamos voltado e isso quase fez John infartar, pois os únicos que não sabiam do namoro de mentira era ele e Vivian, mas Peter acabou conseguindo mudar de assunto, ele sabia o quanto aquilo me magoava.
Cheguei a pensar que eu não era o único a ficar assim, pois Alex também não parecia confortável com isso.
- Ok, - começou Vivian percebendo que o clima havia ficado um pouco tenso – que tal soprarmos logo essas velinhas hein?
Isso fez Peter e eu ficamos meio encabulados, Vivian as vezes nos tratava como criança, mas dava pra perceber o quanto ela estava feliz em estar comemorando aquele dia conosco.
Depois de cantarmos o tão esperado "Parabéns pra você!”, estávamos quase soprando as velinhas quando John interveio.
- Não se esqueçam de fazer um pedido, hein?! - lembrou John, começando a rir
Peter e eu nos olhamos revirando os olhos juntos, sopramos as velas e elas ascenderam umas 7 vezes seguidas até que finalmente, elas apagaram.
Foi uma noite muito agradável. Ainda cheguei a ganhar um relógio de aço escuro com uma caveira desenhada onde marcava as horas de Diana, e uma jaqueta preta de couro de Peter.

Meus irmãos ainda jogaram um pouco de uno na sala, onde claro, me deixaram de fora, e depois John resolveu nos desafiar a tomar a uma dose de tequila.
Peter foi o primeiro a negar, e subiu junto de Diana para o quarto, Alex tomou apenas uma conosco e subiu logo em seguida, dizendo que precisava arrumar umas coisas e isso fez Vivian suspirar, havia alguma coisa de errado entre elas duas, mas ninguém falava nada.
- Acho melhor você subir, - disse John virando outra tequila – já está bem tarde.
- Não posso tomar outra dose? – perguntei, chupando o limão
Vivian e John se entreolharam.
- Só mais uma, - informou Vivian – depois você vai direto pro quarto.
- Ok.
John preparou mais uma dose para nós dois, e a viramos fazendo o ritual da tequila (sal, tequila, limão). Vivian não me deixou nem chupar o limão direito, e já foi me empurrando para a escada.
- Vai, sobe logo! – disse ela, quase ordenando – Não gosto de ver você bebendo, me traz más lembranças.
Aquelas duas doses não iam me embriagar, mas a obedeci, subindo direto para meu quarto.
Deitei na cama, com a cabeça rodando um pouco, e isso me fez rir. Percebi a porta do banheiro se abrir e a luz dele se apagar.
- Apaga a luz do quarto também, por favor, - pedi a ela – acho que essas duas doses me pegaram de jeito.
Vi a luz se apagar e depois ela ir para sua cama.
Eu estava quase pegando no sono, quando senti um peso sobre meu corpo.
- Alex? - chamei
Ela sentou em cima de mim, começando a beijar meu pescoço.
- O que você está fazendo? – perguntei, tentando afasta-la
Ela me olhou puxando o vestido para cima até tirar ela, e o jogou no chão. Aquelas borboletas que sentia em meu estômago, pareciam querer sair pela boca agora.
Ela me beijou segurando em meu rosto, e levou a boca até meu ouvido.
- Feliz aniversário... - sussurrou ela, me beijando intensamente em seguida
Suas mãos tentavam desabotoar minha blusa, mas eu acabei conseguindo segura-las.
- Alex! – sussurrei  - fazendo-a me olhar – Você não quer fazer isso!
Ela se soltou desabotoando o sutiã e tirando ele, ficando totalmente exposta sobre mim, como quem diz “eu quero fazer isso sim”.
E acabei não resistindo
Apesar de todos os nossos momentos juntas, isso estava longe de ser comparado a algo que eu já tivesse feito antes. Em pouco tempo, já estávamos as duas completamente expostas uma para outra como nunca havíamos ficado antes. Talvez seja isso o que aconteça quando você deixa seus instintos assumirem o controle por você.
Foi uma noite inesquecível.

Acordei na manhã seguinte e não vi Alex na cama. Eu sabia que aquilo não tinha sido um sonho, pois eu estava nua embaixo do lençol e com algumas marcas de unhas pelo corpo.
Sentei na cama lentamente olhando ao meu redor, e percebi que as coisas de Alex também não estavam lá. Peguei minha roupa que estava em cima da cama dela e me vesti. Havia um papel dobrado em cima do teclado do computador que eu sabia que não estava ali na noite anterior.
Levantei indo até ele e o peguei, abrindo-o.
Era uma carta dela.

Sam,

Desculpa não ter ficado até você acordar, mas acredito que seria muito difícil me despedir depois da noite maravilhosa que tivemos.
Sei que deve ter perguntas, e espero que essa carta possa responde-las.
Eu demorei um pouco para perceber que eu também havia me apaixonado por você. Parando pra pensar, acho que eu já estava apaixonada antes mesmo de iniciarmos com aquele plano do Peter.
Mas eu estava confusa, acabei pedindo para você me falar caso se apaixonasse por mim dando uma desculpa de que eu não conseguiria corresponder, com a intenção de que você me falasse e assim, eu pudesse criar coragem e dizer o que eu também sentia.
Eu nunca tive a intenção de te ignorar e te afastar por isso, mas você não falou, e isso só me fez pensar que meus sentimentos nunca chegariam até você.
Então, eu me forcei a acreditar que o que eu estava sentindo, era pura carência, que você nunca iria me olhar como eu a olhava e que isso ia passar, mas eu estava enganada.
Durante algum tempo, eu desejei muito ficar longe de você, mas tudo o que acontecia me levava exatamente para os seus braços.
No dia da festa, eu não estava triste apenas por causa do Caio, mas também porque minha mãe havia comprado uma passagem para que eu fosse para a Europa ficar com meu pai, ele estava doente e por isso ela mal parava em casa, cuidando dos negócios dele.
Tia Vivian não concordou com isso, pois ela sabia que eu tinha uma vida inteira aqui, e o quanto eu gostava de morar naquela casa, mesmo passando a maior parte do tempo sozinha nela. Ela até tentou convencer minha mãe a me deixar a morar com ela, mas Victória é uma pessoa muito preconceituosa, e ela tinha visto nossas fotos no Instagram. Isso só a fez querer que eu fosse embora o mais rápido possível daí, então, eu não sei se ainda volto.
Mesmo aquela relação sendo de "mentira", ela foi a mais real que eu tive, a mais verdadeira, e você não sabe o quanto eu fiquei feliz ao perceber que você também me amava.
Peço desculpas de novo pelo tapa, eu não queria fazer aquilo, mas eu fiquei muito frustrada com você. Talvez, se tivesse me dito aquilo antes, eu poderia ter feito algo para continuar com você.
Você foi a primeira garota que eu amei, ou melhor, que eu amo, e eu sinto muito por não poder viver isso com você agora, de verdade.
E espero que se um dia, nós nos encontrarmos novamente, eu possa lhe dar beijo que eu queria ter dado naquele dia na praia.

Com amor, e para sempre sua,
Alex.”

As lágrimas escorriam pelo meu rosto totalmente fora de controle. Vivian abriu a porta e ao perceber que eu estava chorando, ela se aproximou, me abraçando.
- Eu sinto muito... – disse ela baixinho, me afagando em seus braços – Eu sinto muito.

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