Quando acordei naquela manhã, parecia que eu ainda estava perdida, tinha adormecido na areia da praia com uma garrafa de vodka do meu lado. Meu celular havia descarregado, e minhas roupas estavam sujas de sangue, foi aí que lembrei o que tinha acontecido na noite anterior.
Levantei com um pouco de dificuldade, minhas pernas não me obedeciam direito, e minha cabeça doía muito.
Cheguei em casa quase meio dia, e assim que abri a porta da frente Peter levantou do sofá num susto, correndo em minha direção, me abraçando em seguida já aos prantos.
Vivian saiu da cozinha parecendo muito aflita.
- O que aconteceu com você? – perguntou ela quase chorando ao me ver daquela forma – Eu te liguei a noite toda!
- Desculpa, - disse colocando a mão sobre a cabeça - eu apaguei na praia.
John desceu a escada e quando me viu, se aproximou de mim, me levantando pelo colarinho
- Onde você estava? – perguntou ele muito bravo
- Na praia. – respondi sem me importar com o que ele estava fazendo
Ele me soltou ao sentir o cheiro de vodka em mim
- Você está bêbada? – perguntou ele ficando mais irado
Eu não estava bem, minha cabeça doía de mais e tudo o que eu queria, era deitar em minha cama e morrer.
Ignorei a pergunta dele subindo as escadas, assim que cheguei em frente a porta do meu quarto, tentei abrir ela, mas não tive muito sucesso.
- Eu estou falando com você! – gritou ele vindo atrás de mim
Assim que consegui abrir a porta e dei um passo a frente, ele me puxou pelo braço me empurrando contra a parede.
- Qual é o seu problema? – perguntou ele aos gritos
Vivian e Peter se aproximaram um do outro olhando para nós.
- Não é da sua conta. – respondi indiferente
Ele me segurou pelo colarinho da blusa de novo, me dando um soco na cara, fazendo sair sangue de minha boca
- Covarde. – disse olhando nos olhos dele, com a boca ensanguentada
Ele ficou mais puto ainda, me puxando pela blusa, levando-me para dentro do quarto, me dando socos cada vez mais fortes.
- Você não quer ser homem?! – gritou ele enquanto me batia – Vamos! Age feito um então!
Cai de joelhos enquanto ele me chutava, gritando comigo, querendo que eu revidasse. Vivian e Peter tentaram parar ele, mas ele era forte de mais, e acabou empurrando Vivian, fazendo-a cair no chão.
Eu odiava ver um homem agredir uma mulher.
Levantei partindo para cima dele, e só foi preciso dar dois socos na cara dele para ele parar.
- Eu não sou homem John! – gritei – Mas também não sou uma garota como as outras! Não consegue entender isso?
O olho dele inchou muito rápido
- Eu só queria a minha irmã de volta! – confessou ele colocando uma mão no rosto
- E eu estou aqui, – disse batendo em meu peito – eu estou aqui, viva!
As lágrimas começaram a cair pelo meu rosto.
- Eu quase morri naquele acidente, John - comecei – eu vi nossos pais morrerem sem eu poder fazer nada pra impedir isso, eu fui maltratada, torturada e estuprada várias vezes durante todos aqueles anos.
Todos eles me olhavam sem reação alguma.
- Mas tudo isso, - continuei – incluindo minha aparência, não mudou quem eu sou de verdade, quem eu sempre fui, eu ainda sou a irmã que tem medo de trovões, eu ainda sou a sua irmã. Quantas vezes eu vou precisar dizer isso?
Ele baixou a cabeça, saindo do meu quarto em seguida fazendo Vivian ir atrás dele. Peter veio até mim sem reação, apenas me olhava querendo me tocar, mas parecia não conseguir fazer isso. Ouvi o carro de John saindo numa arrancada, e minutos depois, Vivian voltou tentando se recompor, mas dava pra perceber que ela havia chorado e tentava se controlar pra não continuar.
Ela me ajudou a levantar e me guiou até o banheiro.
- Peter, - chamou Vivian – pega o kit de primeiros socorros no meu banheiro, por favor.
- Ok. – disse ele
Vivian me levou até o box do banheiro e me ajudou a tirar a roupa, quando Peter voltou, ele me viu de costas e ficou paralisado ao ver todas as minhas cicatrizes.
- Pode sair agora. – pediu Vivian recebendo o kit das mãos trêmulas dele
Ele hesitou por um momento, mas ao ver meu olhar, ele baixou a cabeça e saiu do quarto.
Depois que Vivian me deu o banho, saímos do banheiro e sentamos na cama. Ela limpou minha boca colocando um curativo pequeno em seguida.
- Está sentindo dor? – perguntou ela
Eu afirmei, olhando-a.
- Onde que dói? – perguntou ela pegando um spray
Eu tirei a toalha mostrando minhas costelas e ela passou o spray em seguida.
- Eu vou pegar água pra você tomar o remédio, - disse ela levantando - vista-se enquanto isso.
Eu afirmei, olhando-a sair do quarto. Fiquei com vontade de chorar, mas tentei ao máximo não fazer isso.
Levantei indo pegar uma roupa e me vesti. Vivian voltou com um copo com água e me entregou junto a um Tylenol.
- Se deite, - ela disse – descanse um pouco, depois a gente conversa sobre o que aconteceu.
Eu afirmei, e ela me deu um beijo na testa.
Ela era uma mulher incrível, não sei como John conseguiu conquistar uma pessoa tão boa e adorável como ela.
Me deitei com um pouco de dificuldade, querendo esquecer tudo o que tinha acontecido.
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IM-PERFEITA
Romance"Após sofrer um acidente de carro, Sam se perdeu no mundo. Sem família e amigos, ela precisou assumir uma personalidade que pudesse fazê-la sobreviver aquela vida na rua. E quando foi encontrada, começou a sentir que não se encaixava mais em lugar n...
