IM-PERFEITA

*** Capítulo 13 ***

Ainda estava procurando uma roupa para vestir quando Peter voltou para meu quarto. Ele já estava todo arrumado, usando um jeans meio surrado e uma blusa dos X-Men.
- Camisa maneira. – elogiei, fazendo-o ficar todo se achando
Peguei uma calça jeans preta, e uma blusa branca com detalhes vermelhos nas mangas.
- Essa não, - disse Peter tirando a blusa de mim, indo até meu guarda roupa – deixa eu olhar aqui.
Ele o olhou as blusas nos cabides dentro do guarda-roupa como se procurasse por algo em específico, e acabou tirando uma blusa de manga longa preta, com umas linhas brancas nas mangas.
- Essa fica melhor, – disse ele me entregando-a – acho que Alex vai gostar.
Aquele comentário me fez corar e ele começou a rir quando percebeu. Vesti a roupa no banheiro, me olhando no espelho que tinha dentro dele, meu cabelo havia crescido um pouco, eu estava um pouco mais forte de quando havia chegado naquela casa, e parecia um pouco mais confiante.
- Vai passar maquiagem? – perguntou Peter atrás de mim, me fazendo dar um cascudo nele.
- Você sabe que não uso essas coisas.
Ele passou a mão onde eu havia acertado, e depois me olhou como se estivesse vendo um fantasma.
- O que foi? – perguntei
As feições dele mudaram, e ele acabou sorrindo.
- Você está bonita, - elogiou ele – estilo tomboy, mas está bonita.
- Tomboy? – pensei – Acho que isso é mais uma coisa que devo pesquisar.

Ficamos de encontrar Alex na casa dela para irmos juntos, quando chegamos lá, apertei a campainha e ficamos esperando no início da escadinha de frente a porta. Quando ela se abriu, Alex saiu usando um vestido vermelho que ia até às coxas, com um decote de parar o trânsito e usava uma bota cano alto preta. Seus cabelos estavam soltos e pareciam um pouco maiores. Ela estava incrivelmente perfeita.
- Nossa... - disse Peter de boca aberta.
Ela se aproximou de nós meio sem jeito, e sem perceber, eu acabei dando a mão a ela para ajudar a descer a escada.
- Você está linda! – disse olhando para ela admirada
Ela segurou em minha mão com o rosto corado, e depois segurou em meu braço.
- Obrigada, - agradeceu ela colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha - você também está.
Peter havia chamado um taxi e ele já havia chegado. Abri a porta de trás para Alex, e depois que ela entrou, eu sentei ao seu lado.
Durante todo o caminho, eu não conseguia parar de olhar para ela, ela estava tão bonita, isso só fez meu coração apertar mais ainda.
- Porque estou me sentindo assim? – pensei, levando uma mão até o peito
- Está tudo bem? – perguntou Alex, me fazendo olhar para ela de novo
Eu não consegui falar nada, então ela tirou o cinto que a protegia, e se aproximou mais de mim, segurando em minha mão.
- Estou aqui, ok? – informou ela com o rosto próximo ao meu
Eu afirmei, e continuamos a viajem em silêncio.
A festa iria ocorrer em uma boate perto de uma praça muito frequentada na cidade, eu não conseguia lembrar o nome dela, mas sabia que ia dar muita gente.
Chegamos em frente ao prédio onde a festa já estava acontecendo, e descemos do taxi. Ainda tinha muita gente do lado de fora.
- Vou procurar Diana, – informou Peter – nos encontramos lá dentro.
Ele saiu em seguida deixando nós duas sozinhas.
- Então. – disse olhando para ela
Ela segurou minha mão de novo, me puxando para dentro do prédio. Passamos por uma pequena recepção onde foram colocado pulseiras cor neon em nossos pulsos, que indicavam que fazíamos parte da festa organizada pela nossa turma.
Quando entramos no grande salão, consegui ver a fundo, um palco pequeno com uma mesa de mixagem e um DJ, controlando as músicas e luzes atrás dele. Do nosso lado esquerdo, um mini bar com barmens fazendo apresentações enquanto preparavam drinks, e um pouco mais a frente, um espaço com poltronas e banheiros.
- Está bem lotado, - comentou Alex olhando pra toda aquela gente dançando no meio de tudo aquilo – sei que não se sente muito a vontade com ambientes assim, - continuou ela me fazendo olha-la – se começar a se sentir mal, me fala, que voltamos para casa, ok?
Eu afirmei, fazendo-a segurar mais firme em minha mão. As amigas dela passaram por nós, nos puxando para o meio da multidão e acabamos nos misturando.
O DJ tocava músicas de David Gueta, Lady Gaga, e outros que não conseguia identificar. Todo mundo estava se divertindo, principalmente Alex, que dançava e ria muito como naquela tarde na praia.
Peter e Diana não paravam de se beijar e isso acabou me deixando um pouco desconfortável, mas fiquei pior quando percebi que Caio estava próximo ao mini bar, olhando para Alex.
Aquela dor em meu peito começou novamente, me fazendo por a mão em cima dele, e eu acabei me afastando deles indo para uma parte mais calma.
- Droga... – resmunguei
- Ei, - chamou Alex se aproximando – está tudo bem?
Eu apoiei a outra mão na parede a minha frente, sem saber o que estava acontecendo, não era uma crise, se fosse, eu estaria passando muito mal, mas aquela dor...
- Sam? – chamou Alex novamente
Eu a olhei tentando sorrir.
- Não é nada com o que se preocupar, - informei – só preciso respirar um pouco, dançar muito assim não faz meu estilo.
Ela se escorou na parede ao meu lado, ainda me olhando.
- Se estiver acontecendo alguma coisa, - começou ela – você vai me falar?
Eu afirmei, me escorando também, ficando bem próximo a ela.
Vi Peter ir até o DJ e falar algo com ele, em seguida, a música que começou a tocar fez todo mundo chiar, ele havia pedido para tocar Thinking Out Loud de Ed Sheeran, e de uma forma inesperada, ele ficou de joelhos na frente de Diana, provavelmente pedindo ela em namoro.
- Oh! - murmurou Alex – Ele é corajoso, na frente de todo mundo.
Isso me fez rir. Alex ficou na minha frente pedindo minha mão.
- Dança comigo? – pediu ela 
- Eu não sei dançar assim - informei, segurando em sua mão
- Eu te ensino. - disse ela, me puxando para perto – É só acompanhar meus pés.
Ela passou os braços por meu pescoço, me fazendo abraçar sua cintura. Não era assim tão difícil dançar lentamente, as vezes eu quase pisava nos seus pés, e isso acabava fazendo a gente rir.
- Você está pegando o jeito. – disse ela me olhando
- Tenho uma boa professora. – me gabei, fazendo ela sorrir
Percebi ela olhar para o lado, e logo em seguida aquele sorriso sumiu, me fazendo olhar para trás. Caio estava nos olhando, e isso voltou a me incomodar.
- Ele está olhando para você desde que chegamos.. – disse baixinho, fazendo-a voltar a me olhar
- É, eu percebi... – disse ela, me abraçando mais forte colocando o rosto em meu peito
Eu sabia que ela gostava muito dele ainda, e sabia que nosso namoro de mentira não iria passar daquilo, a única coisa que eu poderia fazer agora, era deixá-la seguir o seu coração, e se fosse para eles voltarem a ficar juntos, mesmo depois de tudo e ela fosse ficar feliz com isso, eu iria ajudar.
- Você quer ir lá falar com ele, não quer? – perguntei baixinho, fazendo-a parar de dançar
Ela me olhou segurando em meu ombro.
- Você se importaria se eu fosse? – perguntou ela sem me responder, mas eu já sabia a resposta – Hoje não seria só nosso aniversário de namoro, mas é o dele também.
- Se é o que você quer...
Ela olhou para baixo, afirmando. A dor em meu peito era mais intensa agora.
- Vai lá, gente se vê depois, ok? – consegui falar, tentando não transparecer o quão aquilo estava me doendo
Ela afirmou novamente, ainda olhando para baixo.
Me aproximei para um beijo de despedida em seu rosto, quando o DJ colocou uma música da Sia remixada, fazendo todo mundo voltar a pular e dançar, isso acabou fazendo um dos caras próximo a gente esbarrar nela, e o beijo que deveria ser no rosto, acabou sendo na boca.
Nos olhamos por um momento, e a vontade que eu tinha de continuar aquilo foi muito maior que meu controle, e eu acabei puxando ela pra perto de mim, beijando-a novamente. Um beijo no qual ela retribuiu segurando firme na minha nuca, um beijo que a cada segundo parecia ficar cada vez mais intenso como se nós duas quisesse ele há tempos. Eu conseguia sentir seu coração bater acelerado também, eu conseguia sentir sua vontade enquanto ela me segurava, pressionando seu corpo no meu, eu consegui sentir aquela sensação na qual ela havia descrito como “estar quase perdendo os sentidos”.
Mas de repente, ela parou me empurrando, colocando a mão na boca. Me fazendo sentir culpada por ter prosseguido com aquilo.
- Desculpa, - disse passando a mão no cabelo em agonia - eu sinto muito, eu...
Ela me olhava como se fosse chorar, me deixando mais desesperada ainda.
- Você, - disse ela dando uma pausa – você se apaixonou por mim, Sam?
- E-eu... – gaguejei
- Não mente pra mim, por favor! – pediu ela se aproximando de mim, com os olhos cheios de lágrimas – Você se apaixonou por mim?
Eu não queria confessar aquilo, não daquele jeito. Vi Peter e Diana nos olhando no meio da multidão, e ela quase chorando na minha frente. Um nó havia se formado em minha garganta, eu conseguia sentir meu coração batendo loucamente no meu peito. Eu não poderia mais esconder aquilo, já não tinha mais forças pra isso, então apenas afirmei baixando a cabeça.
Ela me deu um tapa, segurando em minha blusa em seguida.
- Eu disse pra você me falar! – as lagrimas começaram a rolar por seu rosto – Porque você não falou? Porque?
Ela soltou minha blusa devagar, e em seguida saiu correndo.
Fiquei parada no meio da multidão sem saber o que fazer. Peter se aproximou de mim falando algo, mas eu não conseguia entender nada, tudo o que eu conseguia ouvir, era o “ba-dum” do meu coração, que agora estava começando a bater lentamente e dolorosamente. Minha visão começou a ficar borrada, e meu corpo acabou começando a se mover sozinho, passando por entre toda aquela multidão, indo em direção a rua.
Minhas pernas começaram a vacilar, me fazendo perder a força em uma delas, e eu acabei caindo com um joelho no chão. Eu estava ficando com falta de ar, e parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento. Até que a voz dela chegou a mim, mas não era comigo que ela falava.
Olhei para o lado, no beco próximo a boate, e vi que Alex e Caio estavam conversando bem próximos, ele tentava segurar nela contra sua vontade, e com isso minha força voltou, me fazendo ir até eles.
- Está tudo bem aqui? – perguntei tentando me manter em pé
Mas Caio veio pra cima de mim, dando um soco na minha cara.
- Caio! – gritou Alex – Deixa ela em paz!
Mas ele parecia não ouvir ela, continuou me dando socos no estômago, no rosto, e quando eu caí no chão, ele começou a me chutar.
Alex tentou parar ele, mas ele lhe deu um tapa derrubando ela no chão também, isso me enfureceu. Levantei, empurrando ele usando a força do meu corpo, acertando-o na parede, começando a revidar os socos que ele havia me dado e só parei de bater nele, quando Alex pegou no meu braço, me fazendo olhar para ela.
- Sam, já chega! – pediu ela – Por favor.
Me afastei, tentando não cair, com o sangue escorrendo pelo rosto.
Peter e Diana saíram da boate como se procurassem algo e ao nos ver, se aproximaram tentando entender o que tinha acontecido.
- Sam... – murmurou Alex olhando para mim com os olhos cheios de lagrimas
- Eu não consegui falar antes, - comecei – quando eu percebi, já era tarde de mais, eu sinto muito.
Ela voltou a chorar, partindo mais ainda mais meu coração.
- Você deveria ter falado antes, - disse ela entre soluços – porque não fez isso?
Eu me aproximei segurando no rosto dela.
- Porque eu não queria perder você, - respondi sentindo aquele nó se formando de novo – e eu fui egoísta de mais, só pensei em mim.
Ela colocou as mãos no rosto chorando com mais intensidade.
- Sei que não pode retribuir isso, - continuei – mas acho que você merece alguém melhor do que ele.
Olhei para o Caio que havia ficado com o olho inchado, depois voltei a olhar pra ela, que parecia não conseguir mais me olhar.
Dei um beijo em sua testa começando a chorar também, e sai dali o mais rápido que pude, ignorando Peter e Diana que tentaram me impedir de ir embora.
Eu havia perdido algo que nunca foi meu, e tudo o que eu mais queria, era sumir.