Acordei na manhã seguinte sentindo alguém mexer no meu cabelo, abri os olhos lentamente e percebi que era Alex, ela já estava arrumada para ir a escola.
- Bom dia! – disse ela sorrindo
- Bom dia, - respondi me sentando - que horas são?
- Ainda é cedo.. - disse ela cruzando as pernas – não consigo dormir até mais tarde quando não estou em casa.
- Você dormiu bem? – perguntei, me levantando
- Sim, - respondeu ela, se sentando em minha cama – graças a você.
Dei um sorriso meio sem jeito, fazendo-a sorrir.
- Ok, - disse sem graça – vou tomar banho.
Ela afirmou cruzando as pernas, entrei no banheiro tomando um banho bem rápido, e sai em seguida de toalha até o guarda roupa.
- Você já foi tomar café? – perguntei a Alex, enquanto pegava minhas roupas íntimas na gaveta
- Não, - respondeu ela – achei melhor te esperar.
Peguei na toalha com a intenção de tirar ela, mas ao perceber que Alex ainda me olhava, acabei voltando para o banheiro, vestindo uma calcinha box e um top preto, e em seguida a calça jeans.
- A gente pode tirar umas fotos antes de sairmos? – perguntou ela me fazendo colocar uma parte do corpo para fora do banheiro
- Fotos? – perguntei sem entender
- Sim, - respondeu ela ficando em pé com o celular na mão – pensei que talvez, pudemos ter algumas, para compartilhar nas redes sociais. Todo casal que tá começando faz isso.
- Claro. - respondi ao vestir a blusa e sair do banheiro
Me aproximei dela, colocado o óculos no rosto enquanto ela bagunçava meu cabelo.
Tentamos fazer algumas poses para as fotos, mas não estava dando muito certo.
- Vem cá. – chamou ela segurando em minha mão, me levando até a cama – senta aí. – pediu ela
Me sentei olhando-a, tentando entender o que ela queria fazer, e logo ela sentou nas minhas pernas, de lado, passando o braço por meu ombro.
- Me abraça de novo, - pediu ela me olhando – como você faz as vezes...
Percebi que ela se referia aos momentos que eu ia tentar acalmar ela.
Abracei sua cintura, encostando o rosto em seu pescoço ouvindo alguns cliques e depois olhei para ela.
Nossos olhares se encontraram e por um breve momento, fazendo-a morder o canto do lábio.
- Você é fofa as vezes, sabia? – perguntou ela
Aquilo me fez rir.
Ela saiu do meu colo ajeitando a blusa
- Onde vai postar elas? – perguntei curiosa
- No meu Instagram, - respondeu ela- não tem como ninguém não acreditar se eu compartilhar lá.
Eu ainda não estava muito ligada a essas redes sociais, mas sempre via Peter abobalhado enquanto mexia nelas, e a partir do momento que Alex postasse aquelas fotos, não teria como voltar atrás, teríamos que seguir com plano de qualquer jeito.
Tomamos café junto de Vivian, e depois saímos com Peter para a parada do ônibus.
- E o plano? – perguntou Peter no meu ouvido
- Alex já começou a colocar em prática, – respondi baixinho – vai postar umas fotos no Instagram dela.
- Fotos? – perguntou Peter curioso.
Quando o ônibus chegou, subimos todos juntos, e como de costume, as amigas de Alex a chamaram pra sentar junto com elas.
Ela me olhou como se me esperasse fazer algo, mas eu acabei travando ao ver suas amigas me olhando. Acho que ela percebeu, pois antes de ir sentar com elas, ela segurou minha mão dando um beijo em meu rosto.
- Até daqui a pouco.. – disse ela baixinho
- Até... – consegui dizer, indo me sentar com Peter
Ele começou a rir de empolgação, quase sem acreditar que estávamos fazendo mesmo aquilo, e não parecia ser o único “pirando” o que tinha acontecido, as amigas de Alex também pareciam bastante agitadas ao lado dela.
Na sala de aula, o professor de química Hernesto Santos, que lembrava muito o Doutor House da série de tv, havia passado uma atividade para ser trabalhada em dupla. Alex juntou sua mesa a minha, e começamos a fazer a pesquisa no livro.
Sempre que eu tirava a atenção dele, eu percebia que todos dentro da sala estavam olhando pra gente, principalmente as amigas de Alex, que pareciam querer me comer viva.
- O que foi? – perguntou Alex ao me ver afastando a gola da camisa
- Acho que suas amigas querem me matar. – respondi voltando a olhar para o livro - O que você disse a elas?
Ela começou a rir
- Nada de mais, - respondeu ela – elas só estão com ciúmes, depois de um tempo passa, quando comecei a sair com o Caio foi do mesmo jeito.
Mesmo ela dizendo aquilo, eu não consegui relaxar, os olhares de suas amigas eram muito intensos, devem ter me matando em pensamento várias vezes durante aquele tempo.
Assim que o intervalo chegou, saímos da sala de aula juntas e na metade do caminho para o pátio, Alex tentou segurar minha mão, e eu acabei afastando ela sem querer. Deixando-a meio sem jeito.
- Desculpa... – disse baixinho
- Está tudo bem, - disse ela – já sabíamos que isso poderia acontecer, certo?
Continuamos caminhando, e eu acabei lembrando de uma pergunta que ela havia feito antes.
“- Mas você pode tocar em outras pessoas?”
Em nenhuma das vezes que ela me pediu para tocar nela, eu tive travamento ou passei mal. Eu que teria ter a iniciativa algumas vezes, para parecer recíproco.
Passei uma mão por suas costas, abraçando sua cintura com um braço enquanto caminhávamos e isso fez ela me olhar meio sem jeito.
Chegamos na parte arborizada do pátio, onde costumava me sentava com Peter e ele já estava lá sentado embaixo de uma árvore de jambo, escorado nela. Ao nos ver juntas, realmente como um casal, ele começou a tossir como se tivesse se engasgado, isso me fez correr até ele e bater algumas vezes em suas costas, tentando fazer ele desengasgar.
- Não sei porque isso, - comecei quando ele pareceu ficar melhor – foi você quem deu a ideia desse plano.
Alex se aproximou, sentando na grama, enquanto olhava para ele.
- É que ver você tão próxima assim de alguém, - começou ele me olhando – está tudo bem mesmo pra você? Eu não tinha pensado sobre isso quando dei a ideia.
Dei de ombros indo sentar ao lado de Alex.
- Até agora está tudo bem, - respondi – tenho treinado algumas coisas com ela antes.
Ela se ajeitou, vindo sentar entre minhas pernas, pegando um pacote de batata Ruffles da bolsa que havia trazido.
- Você quer? – ela ofereceu batata a ele, que negou, voltando a se escorar na árvore – E você? – perguntou, me olhando entre minhas pernas
- Só uma. – respondi
Fiz um gesto para pegar do saco, mas ela tirou uma de dentro, me mostrando para que eu pegasse com a boca.
- Diga “ah” – pediu ela
Aquilo era meio constrangedor, mas fiz o que ela pediu, comendo a batata em seguida.
Peter estava completamente envergonhado com aquela situação, e tentou ao máximo não ficar olhando pra gente.
Ouvi alguns burburinhos um pouco atrás de nós, e depois passos apressados.
- Alex? – chamou Caio aparecendo ao nosso lado – Será que podemos conversar?
- Eu estou ocupada agora, - respondeu ela friamente encarando ele – não está vendo isso?
Era a primeira vez que a via tão fria daquela forma.
- Vem comigo. – pediu ele segurando no braço dela
- Não me toca! – pediu ela tentando se soltar
Mas ele parecia estar segurando forte no braço dela, pois sua expressão era de dor.
Sem pensar duas vezes, segurei no braço dele me levantando em seguida.
- Ela não quer ir com você cara, - disse apertando o braço dele para que ele a soltasse – deixa de ser otário!
Ele a soltou, me empurrando, com a intenção de me dar um soco em seguida, mas Alex ficou no meio tentando me defender.
- Caio, não! – disse ela firmemente
Ele nos olhou como se estivesse com nojo.
- Você está brincando né? – perguntou ele – Você está saindo com... – ele deu uma pausa, olhando para mim dos pés a cabeça – Com isso? – terminou apontando para mim
- Estou, - respondeu ela – e qual o problema?
- Não tem dois dias que você dizia que me amava, - começou ele – e agora você me aparece com isso? Ou você estava mentindo pra mim, ou já estava me traindo com ela!
- Eu não sou igual a você! – gritou ela um pouco alterada, como se fosse começar a chorar a qualquer momento – Você me traiu, e depois ficou dizendo que deveríamos abrir a relação, mas você só me queria pra sexo, era dela que você gostava, seja homem e fale a verdade ao menos uma vez!
Ele mordeu o canto da boca chateado.
- Vai dizer que você não gostava da nossa transa? – perguntou ele – Eu tenho um pênis Alex! Acorda! Essa garota aí nunca vai te dar prazer como eu!
- Ela não precisa de um Caio, - começou Alex – ela me deixa molhada só com o toque, coisa que você demorava horas pra conseguir!
Aquilo realmente era constrangedor, ficou ainda mais quando vi Peter me olhando por causa daquele último comentário.
- Qual é Alex? – perguntou Caio – Isso é ridículo!
- Por favor, vá embora. – pediu ela colocando a mão na cabeça
Ele me olhou em seguida como se quisesse me matar, mas acabou virando o rosto voltando para os amigos.
- Você está bem? – perguntei ao ver que ela estava com o punho fechado, e aparentemente trêmula.
Ela se virou para mim com a cabeça baixa, encostando a testa em meu ombro.
- Me abraça, - pediu ela baixinho – por favor.
Eu a envolvi em meus braços, abraçando seu corpo quente e trêmulo, enquanto ela chorava com o rosto escondido em meu ombro.
Ficamos assim até o sinal do final do intervalo tocar.
***
Os dias seguintes foram um pouco mais tranquilos, Caio nos via, mas não fazia nada, apenas olhava e virava o rosto. As amigas de Alex começaram a me chamar pelo nome e não me olhavam como se quisessem me matar, mas sim curiosas, parecia que o comentário de Alex durante a briga havia se tornado um tema comum entre elas, e isso sempre me fazia sair de fininho da conversa e ir atrás do meu irmão.
Fiquei me perguntando quanto tempo aquele plano iria levar, mas estava funcionando que era uma beleza.
- Ei, Sam? – chamou Alex deitada em meu colo enquanto eu lia o livro “Jogos Vorazes”.
Eu a olhei ainda com o livro nas mãos. Estávamos embaixo da árvore de novo no intervalo, aquele havia se tornado meu lugar favorito de toda a escola, era tranquilo e bem fresco. Peter também estava com a gente, mas ouvindo música com o fone no ouvido e olhando umas HQ's que eu havia emprestado.
- Você me disse que nunca tinha tido um relacionamento antes, - começou ela – mas você já chegou a gostar de alguém?
- Gostar? - pensei
Até o acidente, eu nunca tinha parado pra pensar em “garotos” como minhas amigas faziam, normalmente eu sempre ficava ouvindo sobre as histórias delas e dava opiniões, mas era só isso.
- Acredito que não, - respondi, fechando o livro – porque?
Ela ficou pensativa, olhando para as folhas da árvore.
- Eu estava pensando nisso - respondeu ela levando a mão até a boca, mordendo a ponta do polegar – se você já tinha gostado ou se sentindo atraída por alguém.
- Porque estava pensando nisso? – perguntei curiosa
Ela se sentou rapidamente, balançando as mãos um pouco agitada.
- Só curiosidade! – disse ela corada – Eu só queria saber que tipo de pessoa seria.
Nunca tinha parado pra pensar nisso, acho que eu era mais do tipo que não acreditava no amor, até aquele momento, a única pessoa que tinha mexido de certa forma comigo, era ela, mas eu não ia dizer isso.
- Acho que, - comecei com uma pausa, pensando nas palavras que eu poderia dizer e continuei – acho que o tipo de pessoa que poderia me atrair sem ser fisicamente, seria uma pessoa que me passasse confiança, que entendesse meus hábitos estranhos e minhas pequenas coisas de nerd, e ainda assim, me amar pelo que sou.
- E sendo fisicamente? – perguntou ela – Tipo, você espera encontrar isso em um garoto ou uma garota?
- Boa pergunta... – pensei
Olhei para os grupos de pessoas andando pelo pátio, observei com atenção a garotos e garotas, e voltei a olhar pra ela. Mais uma vez, a questão sobre minha orientação sexual estava sendo observada, eu achava alguns garotos bonitos, mas nenhum deles me atraia ao ponto de eu sentir vontade de beijar eles, já as garotas, elas conseguiam me deixar nervosa e isso incluía Alex, mas eu também não poderia dizer isso a ela.
- Eu não sei, - respondi com sinceridade – mas acho que isso não importa muito pra mim, com tanto que seja algo recíproco, já seria suficiente.
Ela sorriu, dando um beijo em minha bochecha.
- Você é realmente muito fofa as vezes, - disse ela me fazendo corar – o que vai fazer hoje a noite?
- Nada, eu acho.. – respondi – porque?
O intervalo havia terminado.
- O que acha de vermos um filme lá em casa? – perguntou ela se levantando
- Eu topo! - disse Peter, guardando os fones de ouvido
Me pergunto há quanto tempo ele estava ouvindo nossa conversa. Ela me deu a mão, me ajudando a levantar e ficou bem próximo a mim.
- Você não está convidado, - disse ela olhando para ele – foi mal.
Ele revirou os olhos se levantando.
- Daqui a pouco vocês vão acabar namorando de verdade, - comentou ele – e ao invés de ver filmes, vão está se pegando.
- Claro que não! – dissemos eu e Alex ao mesmo tempo
Peter começou a rir saindo de perto da gente, tanto eu como ela, ficamos sem jeito, quase não demos as mãos para voltar a aula, e acabamos passando o resto do dia sem nos olharmos direito.
Mesmo quando cheguei em frente a casa dela no começo da noite, eu ainda sentia meu rosto esquentar de vergonha.
- Acho melhor eu voltar pra casa e dizer a ela que não estou me sentindo bem.. – pensei
Mas meu corpo não se moveu, eu já estava com a mão próximo a campainha, e acabei apertando ela quando senti um gato passar pelas minhas pernas.
- De onde ele saiu? – me perguntei quando vi ele correr para o jardim
Ouvi passos correndo dentro da casa e em seguida a porta abriu.
Alex estava usando um short preto colado e um moletom cinza.
- Você demorou! – disse ela fazendo um gesto para que eu entrasse.
- Sua mãe não vai achar ruim? - perguntei ao entrar
- Ela está trabalhando, - respondeu ela fechando a porta a trás de mim – se duvidar ela nem vem pra casa hoje.
Olhei para o interior da casa, era a primeira vez que eu estava ali, era um pouco parecida com a de John por dentro, excerto o cheiro, o jardim dela deixava a casa muito perfumada.
Ela caminhou até o sofá, e se sentou nele, pedindo para me sentar ao seu lado.
- Eu separei uma lista dos possíveis filmes que podemos ver hoje, - começou ela quando me sentei – espero que não se importe.
Ela pegou o controle da tv, colocado na aba de seu hd mostrando alguns dos filmes que ela havia baixado, quase todos eram filmes sobre garotas que gostavam de garotas, entre eles tinha: Amor por direito, Imagine you and me, Below her mouth, Azul é a cor mais quente e Assunto de meninas.
O que me chamou mais atenção foi Imagine you and me, a sinopse era a seguinte:
“No dia do seu casamento, Rachel conhece a florista Luce e sente uma forte atração por ela. Ao se reencontrarem, a amizade entre as duas cresce tanto quanto as dúvidas de Rachel em relação ao marido. Ao saber que Luce é gay, sua vida vira do avesso.”
- Você quer ver eles comigo? – perguntei olhando pra ela, que afirmou - Tem certeza?
Ela afirmou novamente meio sem jeito.
- Eles parecem ser bons, você não acha?
E eram, pela sinopse eles pareciam ser muito bons, mas todos eram LGBT, e isso me deixou curiosa sobre ela, fiquei me perguntando qual seria sua intenção com aquilo.
- Por mim tudo bem.. - respondi
Ela sorriu, me entregando o controle e levantando em seguida.
- Vou fazer pipoca, - disse ela indo até a cozinha – escolhe aí o filme.
Olhei para o controle em minha mão, e depois para a tv. Parecia ser uma missão difícil pra mim, naquele momento, eu preferia ver um filme de terror do que romance. Fiquei passando de filme pra filme até ela voltar.
- Ainda não escolheu? – perguntou ela voltando com um balde de pipoca e dois copos de refrigerante.
Ela sentou do meu lado, me entregando um copo.
- Eu gostei desse, - informei fazendo ela olhar pra tv – está bom?
Ela afirmou, e eu acabei dando play em “imagine you and me".
A pipoca acabou com menos de 20 minutos do filme, ela colocou o balde e os copos em cima da mesinha de centro a nossa frente, e pegou uma almofada colocando sobre as pernas.
Durante algumas cenas, ela começou a abraçar a almofada e chegava até a sorrir vendo o casal do filme.
- Está gostando? – perguntei baixinho
Ela afirmou se aproximando de mim, encostando a cabeça em meu ombro.
- Você quer que eu... – fiz um gesto de que passaria o braço pelo ombro dela, e ela permitiu, aconchegando em mim.
- Acredita que eu nunca fiquei assim com nenhum dos meus ex’s?! – informou ela olhando para TV - eles achavam filmes românticos chatos.
- E o que vocês faziam? – perguntei inocentemente
Ela mordeu os lábios, e em seguida riu, me fazendo perceber a pergunta ridícula que eu havia feito, e isso me deixou envergonhada.
- Deixa pra lá... – disse olhando para o lado
Ela continuou rindo, mas acabou parando ao perceber o quanto envergonhada eu estava.
- Os caras normalmente só pensam em sexo, Sam - começou ela, baixando a cabeça – pelo menos, os que namorei pensavam assim.
- Você sente falta? – perguntei, fazendo-a me olhar e continuei – De sexo, você sente falta?
Ela corou se afastando de mim.
- Que pergunta é essa?
- Você pareceu triste ao dizer isso, - comecei, olhando para baixo – pensei que fosse porque estivesse sentindo falta.
- Ah... – ela murmurou, voltando a abraçar a almofada – Sexo é bom, mas acho que deve ser melhor quando você faz realmente com vontade, quando você arrepia com o toque, e fica tão excitada ao ponto de estar quase perdendo os sentidos...
- Você nunca sentiu isso? – perguntei curiosa – Com seus ex's?
Ela segurou firme na almofada, mordendo o lábio inferior.
- Na verdade não, - respondeu ela – nenhum deles me fez sentir algo assim.
Ela colocou os pés no sofá, abraçando as pernas junto com a almofada, escondendo parte do rosto.
- Com você é tudo tão diferente... - continuou ela, fazendo meu coração palpitar
- Mas nós não namoramos de verdade.. - disse sem pensar
- O que? – ela parecia confusa, mas ao perceber o que tinha falado, ela tentou disfarçar – Exato! Não namorados de verdade, somos amigas...
Afirmei e ela voltou a aconchegar em mim, voltando a assisti o filme.
Sem perceber, acabei começando a fazer carinho nela e ela segurou em minha mão, retribuindo ele.
- Mas acho que esse é o namoro de mentira mais real que já tive... – disse ela baixinho.
Eu não sabia o que dizer quanto aquilo, eu não tinha tido nenhum relacionamento antes, mas gostava do que eu e ela tínhamos. Mesmo que fosse um relacionamento de mentira, eu queria continuar perto dela, queria continuar ao seu lado.
Peguei na almofada em seus braços, tirando-a dela, em seguida a coloquei no braço do sofá atrás de mim, onde me escorei, abrindo os braços para ela, como quem chama para perto.
Ela deu meio sorriso, vindo deitar em meus braços, ficando com uma parte do corpo entre minhas pernas.
Ficamos assim, em silêncio, até o filme terminar.
- Você quer ver outro? – perguntei olhando para ela
Ela se afastou de mim, bocejando.
- Acho que não, - respondeu ela, coçando os olhos – vou acabar dormindo nele.
Aquilo me fez rir.
- Então é melhor eu ir pra casa, - disse, me levantando do sofá – assim você pode descansar.
- Você não quer conhecer meu quarto? – perguntou ela corada
Eu olhei pra escada e depois pra ela.
- Claro, eu adoraria.
Ela segurou minha mão, me guiando pela escada até seu quarto. Assim que entramos nele, a primeira coisa que me chamou atenção foram os desenhos nas paredes.
Do lado direito, haviam vários mandalas de diferentes formas, tamanhos e cores; do esquerdo, tinha uma paisagem que parecia muito com Valfenda, de O Senhor dos Anéis; e a frente, onde ficava a janela, tinha o castelo de Hogwarts, de Harry Potter.
- Caramba... – murmurei completamente admirada – Foi você que desenhou tudo isso?
Ela fechou a porta atrás de mim, se aproximando.
- Você gostou? – perguntou ela, com as mãos atrás das costas
Eu afirmei, totalmente encantada com aqueles traços.
- Posso fazer algo assim no seu quarto, se quiser.
- Eu iria adorar!
Ela passou por mim, sentando na cama.
- Desenhar pra mim, é como uma terapia, - disse ela – eu esqueço de tudo quando desenho.
Ela olhava para as paredes como se olhasse mais a fundo. Mais além do que estava ali. E por algum motivo, eu senti que deveria ir embora.
- Bom, eu acho que já vou indo, então.
- Porque você não passa essa noite aqui? – perguntou ela – Já que minha mãe não volta hoje, você poderia ficar comigo.
Era realmente difícil ver Victória em casa, deveria ser ruim para ela, quase todas as noites dormir sozinha numa casa tão grande como aquela. Ela deveria se sentia muito solitária.
- Eu só não tenho cama extra, - continuou ela – vamos ter que dividir essa aqui. – ela deu uma batidinha na cama
- Ah, eu não sei... – dormir na mesma cama que outra pessoa não seria uma boa ideia, ainda mais na dela – Eu poderia dormir no chão? Caso eu dissesse que sim?
Ela negou, se afastando para dar espaço para mim na cama
- Vem, senta aqui, eu não vou te morder.
- Morder? – pensei ficando nervosa
Eu sabia que ela não faria isso, mas de toda forma, aquilo me deixou muito nervosa.
Caminhei até ela, e me sentei na cama meio sem jeito.
- O que me diz? – perguntou ela
Olhei para a cama, para o tamanho dela, parecia ser um pouco maior que uma cama de solteiro mas não chegava a ser uma cama de casal.
Olhei de volta para ela que me olhava com aquele jeito “pidão” e acabei não resistindo.
Ela sorriu, pegando o celular.
- Vou avisar a tia Vivian, - começou ela – eu tenho umas blusas grandes no guarda roupa, você pode pegar e se trocar se quiser.
Olhei para o guarda roupa, pensando nessas roupas.
- Não eram dele, - respondeu ela como se lê-se meus pensamentos – eu comprei algumas depois que dormi com você, achei confortável.
Afirmei indo até ele, ao abrir, notei que realmente tinha poucas, e uma delas ainda tinha etiqueta.
Peguei uma delas, me voltando para Alex.
- Tem problema se eu ficar sem a bermuda? – perguntei – ela é pouco apertada
Alex negou.
Fui ate o banheiro trocando de blusa, e quando voltei, ela já havia se trocado também.
Usava um vestido até as coxas lilás e quando me viu só de blusa e calcinha box, ela olhou para o lado, como se estivesse com vergonha.
Caminhei até ela, esperando ela se deitar pra eu deitar ao seu lado, e acabei ficando com conchinha com ela.
Durante algum tempo estava tudo bem, mas depois, ela começou a se mexer e mesmo tentando ao máximo não encostar nela, era quase impossível.
- Perdeu o sono? – perguntei
- Não, - respondeu ela baixinho – eu demoro pra encontrar uma posição boa pra dormir às vezes.
Ela continuou se mexendo, mesmo que tentasse fazer isso com cuidado, mas cada vez que fazia, seu corpo encostava no meu e me deixava muito tensa.
Quando seu quadril encostou próximo a minha virilha, eu o segurei fazendo-a me olhar.
- Algum problema? – perguntou ela – Fiz algo errado?
- Não, - respondi encostando o rosto na nuca dela, eu deveria estar com o rosto corado pois sentia ele quente, e não queria que ela me visse assim – está tudo bem.
- Tem certeza? – sussurrou ela – Se você quiser, eu posso mudar de posição.
Eu a olhei enquanto ela se ajeitava na cama, ficando de frente para mim, mas ainda com uma parte do corpo próximo a minha.
- Assim está melhor? – perguntou ela
Afirmei.
Ela ficou me olhando, como se quisesse perguntar algo, mas mordeu o lábio inferior e baixou o olhar.
- O que foi? – perguntei
- Eu posso abraçar você? – perguntou ela – Tipo, acho que conseguiria dormir logo se ficasse em seus braços, como fizemos durante o filme...
Hesitei por um momento, se eu fizesse isso, poderia ser que eu não dormisse de forma alguma. Mas por alguma razão, eu apenas fiz um gesto para que ela viesse mais para perto. E foi o que ela fez.
Ela se aconchegou em mim fazendo meu coração bater mais rápido, e quando ela sentiu isso. Ela pôs a mão em meu peito e me olhou.
- Eu não vou machucar você.
- Eu sei... – respondi, fazendo carinho em seu rosto – tente dormir.
Ela segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos e fechou os olhos. Ficamos um tempo assim até eu perceber que ela havia pegado no sono.
Suspirei fundo olhando para o teto, até perceber que nele haviam estrelas desenhadas.
Isso me lembrou de quando dormi na rua, sozinha e com frio. Mas naquela noite, nenhuma de nós estaríamos sozinhas sob as estrelas e muito menos no frio.
Isso me fez sorrir.
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IM-PERFEITA
Romance"Após sofrer um acidente de carro, Sam se perdeu no mundo. Sem família e amigos, ela precisou assumir uma personalidade que pudesse fazê-la sobreviver aquela vida na rua. E quando foi encontrada, começou a sentir que não se encaixava mais em lugar n...