***Capítulo 5***

195 20 0
                                    

- Que garotinha linda...

Uma voz ecoava em minha mente.

- Que cabelo macio...

Mãos sujas e molhadas pegavam em meu cabelo.

- Você é tão bonita...

As mesmas mãos agora pegavam na minha coxa.

- Fique quieta!

Senti alguém tampando minha boca colocando o corpo por cima do meu.

- Não vai doer nada querida, apenas relaxe...



- Não! - gritei sentando na cama assustada - Não! Não! Por favor!


Não conseguia parar de gritar e chorar, estava tão desesperada que acordei todos na casa. Vivian e John foram os primeiros a chegar. Peter chegou depois ficando parado na porta sem saber o que fazer. Eles tentaram me acalmar, mas tudo o que eu fazia era chorar e afastar eles de mim cada vez que tentavam me tocar.


Depois de uns minutos, Vivian conseguiu me segurar e me abraçou tentando me manter calma.


- Peter, - chamou ela - traz água e o remédio dela em cima da mesa por favor.


Peter afirmou indo pegar eles, e quando voltou, os entregou a Vivian, que me mesmo me segurando, me fez tomar eles voltando a me segurar em seguida.


- Vai ficar tudo bem.. - disse ela ao meu ouvido


Aquilo me fez chorar de novo, mas dessa vez eu não estava chorando de medo, mas sim de alívio. Aquela pessoa que me abraçava parecia tanto entender o que estava acontecendo comigo, e eu conseguia sentir seu coração batendo tão forte, tão vivo.


- Está tudo bem, - disse ela novamente, abraçada a mim - você não está sozinha, lembra? Eu estou aqui.


Abracei-a com toda força que eu tinha em resposta, e acabei fazendo-a suspirar fundo. Não era o primeiro abraço que ganhava dela, mas acredito que naquele momento, ela percebeu que eu me sentia segura com ela.


Depois de uns minutos, o remédio começou a fazer efeito e acabei adormecendo em seus braços, não lembro que horas eram quando acordei novamente.


Mas eu já estava sozinha e com o rosto babado. Acabei levantando indo no banheiro lavar o rosto e quando voltei, ouvi minha vizinha falando ao celular. Olhei para a janela e me aproximei dela, Alex estava muito tensa andando de um lado pro outro, dessa vez parecia bem preocupada. Ela sentou na cama gesticulando muito como se a outra pessoa que estava na linha pudesse vê-la. Abri a janela e fiquei ali parada sentindo o vento frio e o aroma das flores em meu rosto. Fiquei lembrando de minha mãe, ela gostava de flores, iria amar aquele lugar, quando dei por mim, eu estava chorando de novo.


Alex desligou o celular e me olhou. Acho que falou alguma coisa, mas não entendi.


Ela se aproximou de sua janela e fez um gesto com as mãos do tipo "está com os fones?"


Neguei enxugando as lágrimas.


- Noite difícil hein? - perguntou ela apreensiva - Está melhor?


Afirmei, apesar de não me sentir tão bem assim.


- Você ouviu algo que falei no telefone?


Neguei novamente e dessa vez eu estava falando a verdade.


- Porque? - perguntei


- Por nada.. - disse ela me olhando como se quisesse falar alguma coisa.


- Tem certeza? - insisti


Ela pensou por um momento, como se procurasse as palavras certas para isso.


- Melhor não, - disse ela - você parece que não está muito legal pra conversar, e além disso, ninguém consegue entender essas minhas "coisas".


- Porque não tenta? - perguntei ainda a olhando


Ela suspirou, mordendo o lábio inferior


- Ok, - disse ela baixinho - você por acaso acredita em sonhos?


Fiquei sem entender.


- Tipo, eles têm significados? - perguntou ela de novo


Aquilo me parecia sem sentido, mas tentei continuar a conversa.


- Acredito que eles tenham algum significado sim, - disse fazendo-a prestar bastante atenção em mim - tipo, têm pessoas que acham que o sonho, é algo relacionado ao dia que você teve, a um lugar que você foi ou viu, ou algo que almeja muito, sabe?


Ela ficou me olhando com atenção.


- E já tem pessoas, que acham que sonhos são avisos, - continuei - algo que seu subconsciente quer te falar, entende?


Ela afirmou, como se realmente estivesse prestando atenção em tudo o que eu falava.


- E o que você sonha? - perguntou ela - Quando você acorda gritando, o que te deixa assim?


Senti um arrepio na nuca com essa pergunta. Fechei os olhos tentando não pensar nos meus pesadelos, mas já era tarde de mais. Voltei a olhar pra ela com minhas mãos suando muito e acho que ela percebeu que eu não estava bem.


- Desculpa, - ela parecia preocupada - eu não queria te deixar mal.


Balancei a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos ruins e em seguida escorei na janela.


- Eu, - dei uma pausa olhando para ela - eu tenho pesadelos com... com um acidente.


Ela continuava atenta ao que eu falava.


- Às vezes, - continuei - eu fico revivendo algumas noites, momentos não muito legais...


Ela afirmou, esperando que eu falasse mais, mas eu ainda não conseguia fazer isso.


- Você poderia ler livros sobre o assunto. - falei, mudando de assunto.


- Tem livros sobre isso? - ela perguntou e eu afirmei.


Ela ficou olhando para o nada por um tempo, provavelmente pensando em tudo o que falei.


- Eu, - disse fazendo-a voltar a olhar para mim - eu já vou indo.


- Ok.. - disse ela voltando a morder o lábio inferior


A forma que ela fazia isso, eu não sabia porquê, mas mexia comigo.


- Sam? - chamou ela - você me acha estranha?


Pensei um pouco nisso antes de responder.


- Às vezes, - respondi - mas até que eu gosto desse seu jeito.


Ela sorriu, um pouco envergonhada.


- Boa noite, Alex.


- Boa noite, Sam.


E com isso, ela fechou a cortina de sua janela e eu voltei para a cama. Ao me deitar, desejei não ter pesadelos de novo.


IM-PERFEITAOnde histórias criam vida. Descubra agora