"Star"
Lexie
— Eu não posso acreditar que você fez isso. - diz May com a boca aberta.
Ela me ligou esta manhã perguntando se eu não queria sair pra tomar café com ela, e colocar a fofoca em dia. Claro que eu não recusei desde que ela iria pagar a nossa conta.
— Nem eu acredito. - sorrio. — Mas aconteceu. E a culpa nem foi minha.
— Como não, Lex?
— Se ele não tivesse aberto a porta tão bruscamente, talvez eu não tivesse o acertado.
Ela cai na gargalhada.
— Eu preciso conhecer esse cara. Juro pra você que enquanto eu morava lá, ele mal saia de casa. Porque eu não consigo me lembrar muito de como ele era.Pego minha xícara de café, e bebo um gole.
— É isso que eu não entendo. - digo depois de engoli o líquido preto. — Se ele não fazia essas funções antes porque faz agora?May recosta suas costas na cadeira, e começa a pensar sobre o que eu disse.
— Talvez ele possa ter feito isso antes, mas ninguém nunca se importou.Pego minha torrada, e mordo um pedaço.
— Como você por exemplo. - digo com a boca cheia.— Quem sabe? Eu não lembro de ser incomodada com barulhos dos quais você foi. Mas precisamos levar em conta que eu não sou tão fresca como você, né.
Semicerro meus olhos, e jogo um pedaço de pão nela.
— Experimenta passar um dia escutando marteladas na parede que parecem estarem sendo feitas na sua própria cabeça. Ou melhor, o barulho da furadeira entrando na sua mente como se você tivesse no consultório médico pronta para arrancar um dente.Ela engole em seco.
— Você tem razão. Tenho sorte de ter saído de lá antes. Imagina com seria para o meu bebê conviver com isso?— E como está a sua gestação afinal?
Ela pousa suas mãos em sua barriga. É o início da gravidez, então ainda não é possível perceber que ela está realmente grávida. Além do mais, May sempre foi mais carnuda do que eu.
— Completei doze semanas. O médico disse que tudo vai bem. - ela sorri fazendo movimentos suaves com suas mãos. — Mais duas semanas e vamos descobri o sexo.
— Mal posso esperar para saber se virá uma bebê May ou um bebê Chase por aí.
Ela sorri ainda mais, e levanta sua mão para abanar seu rosto. Não estava tão quente, mas desde nós escolhemos sentar do lado de fora do restaurante, perdemos o direito de nos refrescar com o ar-condicionado lá de dentro.
— Chase quer esperar o bebê nascer para escolher um nome. - revela ela. — Mas eu sinto que já sei que é uma menina, e não conte pra ninguém. - pede ela, baixando o tom da sua voz. — Já tenho um nome para chamá-la.
Meus olhos brilham.
— Qual?— Star.
No momento que escuto o nome, meus olhos se enchem de lágrimas.
— May... - sussurro quando sinto minha garganta se apertando. Fazia tanto tempo que eu não ouvia esse nome. Me traz muitas lembranças.Ela se inclina sobre a mesa, e apoia seu rosto entre suas mãos.
— É uma forma que encontrei de homenagear a nossa cachorrinha.Agora meus olhos expulsam toda a água guardado nele.
Quando eu tinha cinco anos, e ela dez. Nosso pai trouxe para casa uma pequena caixa de sapato. No início pensávamos que era algum presente para mamãe, ou algum calçado para uma de nós. Mas não era meu aniversário, e nem o de May. E o natal estava bem longe. Então acabamos acreditamos que não era para nós. Mas meu pai tinha combinado tudo com minha mãe. Era pra ser supresa. Só que May e eu acabamos espionando a caixa e descobrimos tudo.— Lembra que papai ficou chateado por não ter conseguido nos surpreender com a Star? - pergunta ela, me encarando por trás das lágrimas.
Pego um guardanapo da mesa, e limpo meu rosto.
— Mas mamãe o confortou, e ele acabou aceitando que tinha filhas mais espertas do que ele. - sorrio, e May faz o mesmo.Perdemos Star em um acidente, foi terrível. Foi difícil aceitar o que aconteceu. Ela era o nosso único bichinho de estimação. Era tão alegre e saltitante. Eu amava quando ela me acordava com muitas lambidas na cara.
— Se não tivéssemos saído naquele dia, talvez Star tivesse vivido um pouco mais com a gente.
— Não vamos nos culpar novamente, May. Infelizmente coisas assim acontecem quando têm que acontecer. Não há como sabermos.
Ela enxuga os olhos.
Naquele dia, quando Star nos deixou, May e eu estávamos indo para nossa aula de ballet. Minha mãe acabou esquecendo a porta dos fundos aberta. E Star saiu pra sua desesperada atrás de nós. Um carro. Um maldito carro acelerou demais para conseguir parar antes de acertar a nossa cachorrinha e levá-la para longe de nós. Eu nunca chorei tanto como chorei depois que voltei do ballet.
Para se redimir pelo que fez, o motorista ficou ao lado de Star até que alguém que fosse dono dela voltasse. Lembro de ter preparado um velório muito criativo para minha pequena Star.— Agora vou chegar na escola com rosto inchado, e meus alunos vão me encher de perguntas.
Ela sorri.
— Eu te amo, Lex.Levanto da cadeira, e ela faz o mesmo. Aproveito e vou até ela, e a envolvo com meus braços.
— Que bom que tenho você. - digo para ela, enquanto a puxo para mais perto. — Vocês. - corrijo quando sinto a saliência da sua barriga tocar a minha.— Espero que tudo dê certo lá com o seu vizinho. Me mantém informada, tá?
Dou um passo para trás, e meu corpo esfria com a perda do seu contato.
— Com toda certeza. - pisco. — Você é como o meu diário, só que humano.
Sorrimos mais uma vez, e seguimos caminhos opostos.§
— Professora Lexie, você pode me ajudar? - pergunta Lilly abanando sua folha de ofício no ar.
Levanto da minha cadeira, e vou até sua mesa. Ela baixa a cabeça, e começa a remexer em suas tranças.
— Não consigo encontrar o outro erro.Lancei um desafio para turma, que era encontrar sete erros que diferenciavam uma figura de outra. Lilly só conseguiu achar seis.
Aponto para o desenho na folha.
— Será que você olhou por aqui? - mostro para ela, um par de árvores que parecem terem diferentes quantidades de maçãs.Ela solta um gemido, e ergue a cabeça exibindo um grande sorriso.
— Como sou burra! Obrigada professora.Sorrio, e acaricio sua cabeça.
— Você não é burra, precisa só se concentrar mais.Aproveito que estou em pé, e passeio pelo corredor de classes para acompanhar como as outras crianças estão se saindo. Sorrio quando um menino percebe que eu estou me aproximando, e tenta esconder sua folha.
Continuo meu caminho por toda a sala.
Depois de tudo que aprendi no meu curso, e de finalmente estar fazendo o que eu gosto. Eu não consigo mais me imaginar fazendo outra coisa.
A sala de aula, é como uma segunda casa pra mim.
A sirene da escola toca, e isso alerta todos de que está na hora do momento que eles mais gostam na escola.
— Até mais professora! - exclama, Peter saindo às pressas da sala. Sopro um beijo para ele.— Te vejo depois professora. - diz Lilly, acenando com uma mão, enquanto a outra segura sua bolsa rosa.
— Sim, meu amor.
Espero todos se despedirem, e saírem da sala. Para pegar minha bolsa, e ir para sala dos professores. Quando desabo no sofá, fecho meus olhos, e começo a me lembrar da noite passada. Um sorriso brinca em meus lábios quando lembro de ter batido com meu sapato de salto alto no rosto do meu vizinho.
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Ao Seu Lado
RomanceQuando sua irmã lhe ofereceu um lugar para morar. Lexie não podia pensar em mais nada, a não ser se mudar da casa dos seus pais. Mas se ela soubesse o grande problema que iria encontrar quando morasse na casa de May, talvez ela tivesse repensado ess...