•Capítulo 28•

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"Um dia e tanto."

Lexie

É claro que depois que entro no carro, e vejo a imagem de London parado na calçada sumindo aos poucos, me arrependo por não ter cancelado a corrida e solicitado outra com seu endereço junto.
Mas diante de todo seu achismo e convencimento, eu decidi que seria bom manter um pouco de distância. Ultimamente estamos nos aproximando tanto, que chega me dar medo.
Medo de seguir por esse caminho que possivelmente me levará para um destino desconhecido. Eu sinto isso. Com London parece tudo diferente. E mesmo que eu já tivesse me relacionado anteriormente. Essa coisa entre nós é nova, e mexe muito com minhas emoções.
Meu coração nunca bateu tão forte por ninguém antes como bate toda vez que eu o vejo. Minha voz nunca soou tão fraca e debilitada antes como soa toda vez que tento dizer qualquer coisa para ele. Sem falar que venho sentindo outras partes do meu corpo - aquelas mais escondidas - ficarem muito empolgadas e inquietas toda vez que ele - acidentalmente - me toca, ou quando eu - propositalmente - o toco.
É louco.
Mas eu estou tentando entender tudo isso. Afinal de contas, ele ainda é o meu vizinho, aquele que me incomoda com incansáveis barulhos.
Sigo para meu trabalho, e já começo a desejar que eu estivesse na verdade, voltando pra casa. Isso é meio engraçado. Eu não me importava em ficar fora o dia todo, porque eu não tinha propriamente alguém me esperando. Mas depois que eu conheci London, e sei que ele está a um passo da minha casa, essa vontade de ficar menos tempo na escola tem me deixado agoniada.
— Bom dia, professora Lexie. - cumprimenta Preston acenando sua mão na frente do meu rosto, assim que me vê perdida em meus pensamentos.

Fecho meus olhos por um rápido momento. Deus, eu preciso controlar minha mente. Abro meus olhos, e sorrio para ele apenas para disfarçar todo meu embaraço.
— Oi, bom dia.

Uma de suas mãos corre seu peito, e eu vejo ondas aparecerem no tecido da sua camiseta.
— Maggie já está em casa pelos próximos cinco meses – informa ele.

Inclino minha cabeça para trás.
— Não são apenas quatro?

— Sim, são quatro de licença maternidade e um de férias que ela não tirou ano passado.

Minha boca se abre.
— Que inveja dela. - brinco, e mas minhas bochechas esquentam.

— Você pode resolver isso. - seus braços se agitam. — É só fazer um filho.

— Oh meu deus, você não disse isso. - digo, agitando minha cabeça, totalmente perplexa.

Ele cai em uma gargalhada que atrai muitos olhares das criançadas.
— Desculpe, eu peguei pesado na brincadeira.

Reviro meus olhos, e decido encerrar esse papo.
— Não faz mal. Agora se você me der licença, preciso ir pra minha sala.

Ele dá um passo meio dramático para o lado.
— O caminho é todo seu. - quando me viro para sair, ele grita atrás das minhas costas. — Café mais tarde?

Viro minha cabeça por cima do meu ombro, e respondo.
— Já tenho compromisso.

O que era uma mentira. Mas ele não precisava saber que eu preferia gastar meu tempo, depois do expediente, tomando café com uma companhia muito mais interessante.

Deixo um Preston decepcionado para trás, e sigo pelo corredor de paredes amarelas. Meus olhos seguem o rastro de trabalhos expostos pelas paredes, cada um mais belo do que o outro. Minha sala fica nesse primeiro andar, por se tratar dos menores. As turmas maiores ficam no segundo e terceiro. Mais adiante vejo um bolo de crianças se amontoado na frente da penúltima porta do corredor. Eles parecem muito animados, agitando suas mochilas pra cima e pra baixo.

— Oi pessoal, posso saber o que está havendo? - pergunto quando paro atrás deles.

Todo mundo congela, e apenas um par de olhos me encontra. É Camila, uma das minhas alunas. Ela tem os olhos mais escuros que eu já vi. É quase como olhar para dois pedaços de carvão.

— Não há nada aqui professora. - ela diz, e eu sei que essa resposta que ela usou é só para acobertar seus amigos.

Semicerro meus olhos, e observo todos. O único barulho possível de ouvir entre eles, é de suas respirações crepitando. Há sim alguma coisa. Bochechas vermelhas, cabelos suados, toda aquela agitação.
Sim, eles estão me escondendo algo.

— Ok, se não tem nada, porque era que todos estavam comemorando alguma coisa quando eu cheguei?

Camila arregala os olhos. E eu posso ver seu rosto ficar ainda mais branco do que realmente é.
De repente todos os outros começam a virar pra mim, e eu mantenho minha pose professora durona. Embora eu não consiga ser tão brava com eles, na maioria das vezes.

— É porque ela beijou o Thomas. - surge uma voz, e com ela aparece Gregor, o menino que costuma sentar sempre ao fundo. Todo mundo olha pra ele. E Gregor tira o boné da cabeça, e lança um olhar arrependido para Camila e agita os ombros quando vê Thomas.

Camila rebate na hora:
— Foi ele quem me beijou primeiro.

Quê?
Eu nem sei se ouvi direito.
Pressiono meus lábios, isso aqui, isso tudo é tão... Deus. Eles são apenas crianças.

— Mas foi porque você pediu. - rosna Gregor, agora olhando pra ela como se tivesse tentando matá-la.

— Pessoal. - eu tento, mas a confusão já está toda armada. Meia dúzia de outras crianças já estão pulando e vibrando em nossa volta.
Isso parece mais como discussões de ensino médio não de pré-escola.
Jesus.

— Eu não pedi não! - contesta Camila batendo seu pé no chão. Seu rosto está vermelho, e eu posso ver uma certa umidade brilhando através das suas pupilas negras.

— Crianças! - eu grito, e quase me arrependo. Mas todos congelam em seus lugares, e esticam seus olhos amedrontados para mim. — Vocês precisam parar já com isso. Onde já se viu brigar uns com outros? Aliás, crianças não se beijam. Apenas brincam, se abraçam e são amigos. - balanço minha cabeça, e caminho para porta, abrindo-a.

— Vocês estão tão ferrados comigo. Agora entrem na sala e sentem todos em suas classes. - ordeno, e seguro a porta aberta até que o último entre. Neste caso, o Thomas.
O único que ficou quieto e não disse nada ao seu favor ou contra, durante toda discussão. Hoje pelo jeito eu terei um dia e tanto com eles.

§

Sinto minha cabeça escorregar para o lado. Várias vezes. Mas não consigo abrir meus olhos. Estou terrivelmente cansada, e não há nenhuma maneira de eu conseguir controlar meu corpo. Estou entregue ao sono desde que empurrei meu corpo pra dentro do carro.
Eu mal confirmei meu endereço para o motorista do Uber quando senti meus olhos caindo. Agora fico me perguntando se eu estou babando.
Droga.
Isso me faz ficar em alerta, e lentamente meu cérebro desperta. Abro um olho e recordo onde estou, rapidamente endireito meu corpo, e alongo meu pescoço. Faço uma careta.

— Está tudo bem? - pergunta o motorista quando nossos olhares se encontram através do retrovisor.

Fico envergonhada, forço um sorriso para disfarçar.
— Sim, está.

Ele volta a olhar para estrada, e eu relaxo.
Mas só um pouco.
Pego minha bolsa, e procuro meu celular dentro dela. Assim que acho o aparelho, digito minha senha de acesso e abro o aplicativo de mensagens.
Deslizo meu dedo pela tela, até encontrar o contato de May. Assim que vejo sua foto, sorrio, só aparece a barriga dela no pequeno círculo.
Tá enorme.

"Oi, to pensando em fazer aquele espaguete ao molho shoyu que você tanto adora. Tá afim de me visitar hoje?"

Ela não está online, então eu fico sem resposta. Guardo o celular na bolsa, e ajeito a alça dela em meu ombro.
Logo o motorista estaciona na frente da minha casa. E a voz mecânica do GPS ecoa no carro: — Você chegou ao destino de Lexie Donnel.

Sorrio, e agradeço a corrida.

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