•Capítulo 21•

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"Amigos"

                           London

"Muito espertinho você"

Releio a mensagem que recebi um par de minutos atrás, e não consigo desarmar o sorriso que está estampado na minha cara.
Ela me descobriu. Caralho. Mas eu sabia que isso ia ser fácil. Afinal fazer uma chamada do seu celular para o meu foi totalmente pensado. Mas eu só não esperava que ela fosse usá-lo.
Ajeito o travesseiro contra a cabeceira, e me sento na cama apoiando minhas costas no bolo macio atrás de mim.
Meus olhos percorrem meu quarto, enquanto minha mente pensa em alguma maneira de estender a nossa conversa.

Digito de volta.
"Você me pegou" 

Os pontinhos avisando que ela está escrevendo surge em minha tela, e meu corpo queima imediatamente.

"Qual a razão de você ter meu número?"

Sua pergunta me pega desprevenido.
A razão?
Meus olhos se fecham, e a imagem dela surge em minha cabeça. Ela é tão bonita quanto um sol se pondo. Como eu poderia perder a chance de tentar uma aproximação?

Eu digito a primeira coisa que surge, pena que é uma grande mentira:
"Talvez pelo caso da sua irmã lhe pedir pra entrar em contato comigo?"

Há uma demora para sua mensagem retornar. E à espera faz borboletas brigarem em meu estômago.
"Seja sincero"

Ouch.
Engulo em seco.
Será mesmo que ela está realmente querendo entrar nesse jogo?
Não sei o que falar, então apenas digito:
"Quero ser seu amigo"
Sinto vontade de me esconder embaixo das cobertas, mas sei que ela não pode ver meu rosto porque está do outro lado da tela.

"Amigo? Faça-me rir, London"

Porque ela não acredita?
Digito com pressa:
"É sério. Aquela oferta de paz que lhe propus semana passada, também foi sério, viu? Só no caso de você ter esquecido."

Sua resposta vem logo de cara.
"Ok"

Franzo meus olhos.
"Ok vamos ser amigos, ou ok você acredita que meu pedido é sério?"

"Ambos, eu acho"

Porra.
Começo a gargalhar sozinho em meu quarto escuro. Finalmente um refresco nessa noite abafada.
"Você não sabe o quanto isso me deixa feliz"

"Revirando os olhos"

Dou risada ainda mais. Pena que ela não estava aqui para escutar. Espera. Como sou idiota. Levanto da cama, e vou até a janela do meu quarto. Abro uma fresta, e começo a comemorar, comemoro alto o suficiente para que ela possa escutar do outro lado. A noite está tão silenciosa, e isso ajuda meu trabalho.
O eco da minha risada atinge o local certo.
A janela do quarto dela.

Meu celular apita, e corro meus olhos pela tela.

"Estou começando a repensar"

Um alerta.
Mas isso não me impede, e dessa vez, eu exagero.

                            §

Quando a claridade da rua invade meu quarto, eu sei que já é hora de levantar. Mas meu corpo está tão cansado que eu só me viro para o outro lado, e durmo mais um pouco.
Tento dormir na verdade, mas não consigo. Há uma voz no fundo da minha cabeça me avisando que vou me atrasar para o trabalho se eu continuar fechando os olhos. Então eu desisto.
Esfrego meu rosto tentando espantar a preguiça, e relutantemente jogo minhas pernas para fora da cama. Me sento. E alongo meus braços.
Um rápido lampejo da noite passada emerge em minha mente. Sorrio quando lembro que agora Lexie e eu somos amigos. Mal posso esperar para ver como ela vai se comportar pessoalmente.
Levanto da cama após o meu alongamento, e sigo até o roupeiro. Escolho minha roupa para o dia de hoje, e vou para o banheiro.

                               §

Quando saio para o trabalho encontro Lexie verificando a caixa de correios. Desta vez meus olhos se demoram nela. Ela não consegue me ver porque está de costas. Mas daqui onde estou - minha varanda - eu consigo ver a forma como seu robe cinza abraça seu traseiro pomposo.
Passo o peso do meu corpo de uma perna para outra, e fico esperando até que ela se vire e me veja. Ajeito a alça da minha mochila em meu ombro, e esfrego meu queixo.

— Olá? Bom dia. - cumprimento quando ela fecha a porta da caixinha, e traz com ela um envelope branco.

Seu corpo para surpreso, mas ela sorri, e o sol brilha através dos seus cabelos.
— Bom dia.

Dou alguns passos, e estou fora da minha varanda. Caminho pelo meu pátio, e atravesso para o espaço dela.

— Precisamos começar de novo. - digo, esticando minha mão. — Prazer, eu sou London Thompson, e você é?

Suas bochechas ficam levemente vermelhas. E sua mão custa a pegar a minha.
— Lexie Donnel. - diz ela, unindo nossas mãos.
Seu toque é gentil, e amigável. Mas eu não consigo deixar de querer que esse momento não acabasse. Minha pele soa e transpira para dela.

— Amigos agora? - indago, quando ela puxa o braço e nós perdemos o contato.

Lexie usa sua mão para afastar uma mecha dourada que escorregou para sua testa franzida.
— É o que parece.

Esfrego minha mão suada sobre minha calça.
— Então tá. - fico sem saber o que dizer. — Nos vemos mais tarde?

Ela ergue os ombros.
— Talvez, sei lá.

Dou alguns passos para trás, e a observo. Se seu corpo fosse desenhado seria praticamente como o formato de um violão. Sem muito exagero, é claro.
— Preciso correr agora. - agito meu pulso e vejo que já são quase oito da manhã. — Até logo, Lexie.

— Até mais. - acena ela, e eu começo a me afastar de costas. Assim eu consigo continuar olhando para ela.
Lexie balança a cabeça, e seus fios rebeldes cobrem metade do seu rosto. Continuo recuando, e não percebo onde piso até minha bunda bater no chão.
Merda.
Caio para trás, mas agradeço pela minha mochila proteger minhas costas.
Meu traseiro dói.
Descanso minha cabeça no gramado, e olho para o céu a tempo de ver uma nuvem sorrindo para mim.
Caramba.
Eu não me lembrava de levar um tombo assim desde o tempo do colegial.

— Tá tudo bem? - pergunta uma voz ao longe.

Ergo minha cabeça apenas para encontrar Lexie próxima dos meus pés.
Assinto, e faço uma careta.
— Acho que quebrei meu quadril, apenas.

Ela cobre a boca com suas mãos. E eu sei que há uma risada que ela não está querendo deixar sair. Seus olhos brilham em divertimento. Enfim.
Não há muito que ela possa fazer para se esconder de mim. Lexie é muito fácil de ler.

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