•Capítulo 31•

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"Convite"

London

Comemos em silêncio, acho que trazer o assunto sobre meus pais deixou o clima entre nós meio tenso. Ninguém parece querer falar algo, por causa do medo em se arrepender, ou estragar esse momento.
Meus olhares se dividem entre Lexie e May. Elas são tão parecidas quando estão perto uma da outra. Parece que May é um tipo de versão mais velha e aprimorada de Lexie. Ambas têm o mesmo tom de cabelo, aquele tipo de loiro que se parece com o espaguete que estamos comendo.
Mas os fios de Lexie caem em forma de ondas pelos seus ombros e costas. Já os de May são completamente lisos, e mal chegam até suas costas.

— Então London, - May arranha a garganta, chamando minha atenção. — Conte para nós sobre você.

Sua irmã imediatamente olha pra ela, como se tivesse repreendendo-a. Dou minha última garfada, e descanso minhas costas no encosto da cadeira.

— Faça as perguntas e eu responderei elas. - digo, e passo a mão pelos meus lábios, e queixo. Talvez pudesse ter escorregado um pouco de molho pela região. Minha pele parece pegajosa.

Lexie me dá um olhar passageiro, e por ter sido rápido demais eu não consegui sentir se ela está ok com esse papo, ou ainda querendo que ele não exista.
Enfim.
Expiro fundo.

May solta seu garfo em cima do prato, e empurra a porcelana para frente.
— Você mora sozinho?

— Sim, desde que meus pais se foram, a casa se tornou apenas minha.

— Nunca ninguém viveu com você lá depois disso?

— May! - repreende Lexie, fechando suas mãos em punhos. Um em cada lado do seu prato de espaguete quase vazio.

Eu só consigo sorrir.
— Não que eu me lembre.

May agita a cabeça, e empurra algumas mechas do seu cabelo para trás dos seus ombros.
— Você trabalha em alguma coisa além de pintura de paredes e conserto de energia elétrica?

— Bem, eu faço um pouco de tudo. Trabalho com construções em geral. Aprendi tudo com meu pai, ele trabalhava em muitas obras e sempre me levava com ele. Comecei a gostar de vê-lo construir prédios, e cavucar o chão. - meu peito se enche de saudade quando eu lembro. — Uma vez ele fez uma passagem secreta pelo subsolo, e aquilo pra mim, na época, foi a coisa mais incrível. Lembro de ficar por dias contando pra todo mundo o que ele tinha feito.

— Own. - murmura May, em um som meloso. — Parece ter sido uma infância e tanto. Seu pai deve ter sido um cara incrível.

Ele era.
Baixo meus olhos para o prato, e meu reflexo bate contra o porcelanato manchado de molho.
Aproveito e balanço minha cabeça para clarear meus pensamentos.

— Acho que fizeram meu pai e o seu na mesma fornada. - brinca Lexie, me mostrando seus dentes brancos, e alinhados em um sorriso doce. — E sua mãe... Ela fazia o que?

Lexie expõe o pescoço, e eu me pergunto mentalmente se aquele gesto era um convite. Meus lábios se contorcem com o desejo de tocar sua pele brilhosa, e beijar cada partícula dela.

Porra.
O que é que estamos falando mesmo?
Meu cérebro se atrapalha em busca de novas palavras para reformular.
— Hã... Bem, - começo, e Lexie e May se entreolham, será que elas perceberam alguma coisa? Decido ignorar isso, e continuo, por enquanto:
— Minha mãe era cozinheira. Ela trabalhava na St. Patrick School, eu fui bolsista lá por todo meu ensino médio.

— Uau que maneiro. - diz May, se servindo de suco. — Eu e Lexie estudamos no St. Michaels School. Fica uns vinte minutos de onde nossos pais moram, em Sharptown.

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