•Capítulo 5•

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"Deixe Comigo"

London

Desabo no sofá, e estico minhas pernas até a mesinha de carvalho. Pego o controle remoto, e ligo a televisão. Logo um programa de notícias locais surge na tela. Aumento o volume.
Essa é minha rotina quando não tenho qualquer coisa para fazer na rua. Trabalhar com construção tem suas vantagens, e desvantagens. Mas a coisa boa de tudo isso é que você tem um horário flexível, tem dias de folgas alternativos, e a parte ruim é que você fica sem dinheiro quando não tem um emprego em vista.
Como hoje.

Levanto cedo sempre, mesmo quando vou dormir tarde. É algo que meu corpo já se acostumou desde que eu comecei a levantar cedo para acompanhar o meu pai.
Então agora é meio que automático.
Não é sempre eu tenho algo para fazer aqui em casa, por conta das seguidas manutenções que faço, mas cortar a grama hoje foi uma exceção. Meus olhos continuam fixos na televisão, mas meu cérebro não está prestando atenção no que o cara de paletó preto está dizendo.
Desisto.

Desligo a televisão, e jogo o controle no espaço vazio do meu sofá de couro marrom. Endireito meu corpo, e fecho meus olhos. Logo eu já estou dormindo. E fico assim por tanto tempo que nem percebo.
Acordo com um barulho forte do outro lado da porta. Esfrego meus olhos, e fico momentaneamente confuso. Agito minha cabeça, e levanto do sofá. Sinto todo o peso dos meus ombros quando endireito meu corpo.

— Olá... Tem alguém aí? - diz uma voz rouca quase impossível de ouvir.

Chego na porta, e a abro sem rodeios. Meus olhos rapidamente enxergam uma pequena senhora vestindo nada além de uma camisola.
O que há com essas mulheres?

— No que posso ajudar? - pergunto, tentando descobrir o que  a levou vir até aqui.

— Tem um vazamento. - ela diz apressada. — Não consigo fazer a água parar jorrar.

Dou um passo para trás, e olho para dentro da minha casa. Depois volto a olhar para senhora. Ela ajusta seus óculos.
— Só me dê um minuto.

Corro para os fundos, e entro no depósito. Pego minha maleta de ferramentas, e saio para encontrar a senhora na minha varanda.
— Vamos lá.

Suas mãos tremem um pouco enquanto ela fala:
— Muito obrigada, eu não sabia quem chamar.

— Chamou a pessoa certa. - pisco para ela.

Sua pele enrugada cora.
— Você é um bom rapaz.

— Mas eu ainda nem mostrei o meu trabalho.
Sorrimos enquanto atravessamos a rua. Não deixei de reparar que sua casa fica na frente da casa da minha irritante vizinha.
Aproveito e dou uma rápida olhada por cima do ombros, mas como eu imaginava, a casa estava totalmente fechada.

— Ela só chega mais tarde.

Merda.
Viro para frente e dou de cara com a senhora me encarando com uma sobrancelha grisalha levantada.
— Eu... Hã. - agito minha cabeça.
O que eu falo agora?

Ela se vira para frente, sorrindo, e continua subindo os degraus da escada.
— Você a conhece? - decido perguntar quando paramos a pouco centímetros da porta.

— Conheço mais a irmã dela. Mas Lexie é adorável. Entre.

Lexie.
Parece que meu coração se aqueceu só em ouvir seu nome.

— Obrigado, - digo, ao entrar na casa.
Meus olhos rapidamente passeiam pelo lugar. É bonito. É maior que minha sala.
Em primeiro plano vejo um par de sofá envolta de um tapete vermelho. Uma estante vertical com uma televisão enorme e fina. Sinto cheiro de móveis antigos quando começo a percorrer a casa. A senhora continua me guiando até o que parece ser a sua cozinha.
Quando chegamos eu logo percebo onde está o vazamento.

— Meu deus! - exclama a senhora, indo em direção a pia. — É muita água.
Ela tenta pegar o balde, mas eu corro para pegar por ela.
— Deixe comigo.

— Vou usar toda essa água para molhar minha horta.

Deixo o balde no chão, sentindo meus braços tencionarem por causa do peso.
Abro minha maleta, e despejo minhas ferramentas em cima da mesa.
Vou até a pia, e movimento a torneira para identificar onde está o erro.
— Como começou o vazamento?

A senhora usa suas mãos para afastar seus cabelos branco do rosto.
— Foi logo quando eu abri a torneira. E não foi usado força alguma.

— Ok. Só vou até o registro desligar a água.

                             §

— Feito! - digo, quando abro a torneira e a água desce normalmente sem qualquer vazamento. — Era só um cano desencaixado.

— Muito obrigada, London certo?

— Sim. - sorri. — London.
Aproveito e limpo o suor da minha testa com a costa da minha mão.

Ela começa a vasculhar sua roupa, e puxa uma bolsinha menor que sua palma da mão.
— Quanto foi?

Levanto minhas sobrancelhas.
— Não que isso. - agito minha sobrancelha. — Não precisa pagar nada.
Não parece justo cobrar de uma senhora.
Começo a juntar minhas ferramentas. Mas ela me interrompe colocando a mão no meu ombro.

— Pegue isso rapaz. - ela oferece seu dinheiro. — É o seu trabalho fazer essas coisas, então você deve aceitar. Além do mais, você deixou o seu descanso de lado para vir me ajudar. Não vou me sentir bem se você não aceitar.

Cerro minhas mãos em punhos, e pressiono-as contra o balcão. Meus olhos fixos no alicate, e na fita isolante que eu tinha acabado de usar.
— Ok. - pego o dinheiro dela, e meus olhos se chocam com a quantidade de cédulas.
Viro para encará-la.

— Não aceito devolução. - ela ergue seus braços, e começa a sair da cozinha.

Agito minha cabeça, e não consigo deixar de sorrir. Junto todas as minhas coisas, e saio da cozinha também. Atravesso um corredor de paredes brancas, e chego na sua grande sala de estar.

— Muito obrigada mais uma vez. - diz ela, indo para porta.

Levanto meu pulso apenas para ver que hora estava marcando em meu relógio.
Já era quase três horas.
Caramba.
E eu ainda não tinha almoçado.

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