•Capítulo 4•

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"Cortina Branca"

Lexie

Levanto da cama, e sigo até a janela. Afasto minha cortina branca para o lado, apenas o suficiente para que meus olhos possam olha a casa ao lado. Está tudo tão calmo agora. Nem parece que um par de horas atrás eu estava pisando firme no cabo daquele cortador de grama. Como eu desejava estar de salto alto fino. Talvez conseguisse fazer algum estrago naquele fio. Agito minha cabeça.
Como alguém pode ser tão inconveniente?
Alguns passarinhos cantam enquanto se escondem entre as folhas da seringueira. Ele tem duas. E elas fazem uma sombra ótima em sua varanda. A estrutura das nossas casas são praticamente iguais, então eu consigo ter uma ideia - um pouco vaga - de como a sua é por dentro. Uma sala pequena, uma cozinha, um quarto e o banheiro. Eu só não consigo imaginar como deve ser a decoração dos ambientes. Será que ele tem preferência por alguma cor? Paisagem? Ou frases de reflexão?
Agito minha cabeça quando percebo o que estou fazendo.
Meu deus, Lexie.
Sorrio comigo mesma, e me afasto da janela.
Eu não sei porquê, mas eu quero saber mais sobre ele. 
Vou para meu roupeiro, ignorando meu coração batendo rápido, e pego uma calça jeans escura, e uma regata branca. Também pego meu blaser rosa claro. Inclino meu corpo para baixo, e alcanço a maçaneta da gaveta, ela range quando eu abro para pegar minha lingerie. Levanto, e fecho a gaveta empurrando-a com um dos meus pés. Antes de sair do quarto, dou uma rápida olhada para o relógio em cima do criado, oito e meia pisca na tela.
Bufo em protesto, se eu não tivesse sido acordada contra minha vontade, eu podia estar dormindo até agora. Já que eu só saio para o trabalho às dez horas.
Droga.

                           §

Quando saio para rua sinto a temperatura do dia começar a esquentar meu corpo. Talvez eu não precisasse ter vestido o meu blaser. Então, eu aproveito que ainda estou esperando o Uber chegar, e tiro o blaser. Penduro em meu braço enquanto aguardo na frente da minha casa.
Estou ansiosa e não sei o motivo. É tão ruim isso.
Meus olhos passeiam por todos os lados, observando atentamente as paisagens. A extensão do meu pátio é bem grande, e o gramado parece em ótimo estado. Isso me dá algum tempo antes de ter que chamar alguém para cortá-lo. Meu coração dá um pulo.
Ei, não pensa você que eu vou chamar ele.
Jamais.
Nunca.
Olho para rua, e vejo um carro branco se aproximando. Aqui as casas são muito perto umas das outras, e isso faz com que nós escutemos tudo que acontece na vizinhança.
Às vezes.
Desço da varanda, e me aproximo da calçada. Meus olhos caem para rua que separa a minha casa da casa da senhora Sarah, minha vizinha de frente. Acho que nossas propriedades estão separadas apenas por cinco passos.
O carro chega, e meu celular apita informando que o Uber chegou no local. Abro a porta do passageiro, e entro. O clima aqui dentro está bem mais fresco.
— Lexie? - pergunta o motorista enquanto me ajeito no banco de trás.

— Sim, bom dia.

Ele faz um breve aceno com a cabeça, e começa a conduzir o carro.
— Bom dia, - ele sorri, e eu vejo pelo retrovisor. — Tem preferência pelo caminho ou posso seguir o GPS?

— Pode seguir pelo GPS. - dou de ombros. E aproveito para colocar meu blaser preso na alça da minha bolsa.

— Ok.

Descanso minha cabeça no encosto do banco, e viro meu rosto para encarar a janela. Mas na mesma hora que levantei meus olhos para ver a casa do meu vizinho, o carro acelerou e me levou pra longe.
Vinte minutos depois, eu dou adeus ao motorista, e encerro a corrida no aplicativo dando-lhe cinco estrelas. Guardo meu celular na minha bolsa, e sigo para o meu destino.
Enquanto caminho pelo extenso estacionamento, prendo meus cabelos em um rabo de cavalo. Está ficando bem quente.
Sorrio para alguns pais e crianças chegando na escola. Aceno para um par de colegas minhas. E sigo em frente.
Meu corpo só relaxa quando entro dentro do prédio. Agradeço seja lá quem foi que inventou o ar-condicionado. Meus ouvidos já começam a se encherem de vozes graves e algumas finas, barulhos de coisas caindo e de mochilas de rodinha, e muita correria. Era sempre assim todos os dias aqui na escola.
Mas eu adoro.
Desde pequena eu sempre gostei de dar aulas para minhas bonecas e ursos de pelúcia. Minha irmã mais velha sempre dizia que eu seria uma ótima professora. Minha mãe dizia que eu levava muito jeito com crianças. E meu pai até hoje ainda me cobra netos. Sorrio enquanto atravesso o corredor de paredes amarelas e portas vermelhas. Meus olhos se encantam com as pinturas expostas feitas por todos os alunos da West Garden.
São todos magníficos. 
Desde os simples rabiscos de um sol, até os desenhos mais elaborados.
Meus passos são interrompido quando uma porta se abre na minha frente.
— Olá professora Lexie. - cumprimenta Maggie saindo da sala.

— Uau cada vez isto está maior? - aponto para sua barriga enorme.

Ela me dá um sorriso caloroso.
— Entrei na última semana. Mal posso esperar para ver meus bebês correndo por aí.

— Calma aí, - sorrio, admirada pela sua capacidade de conseguir ainda trabalhar estando no último estágio da sua gravidez de gêmeos. — Não vamos apressar o tempo.

Ela usa uma de suas mãos para esfregar sua testa. Eu consigo ver algumas gotas de suor brilhando em sua pele negra.
— Você tem razão. Mas eu só quero que eles nasçam de uma vez, - ela pisca. — Depois o tempo pode se arrastar para sempre.

Agito minha cabeça sorrindo, e laço minha mão até sua barriga. Dou uma acariciada em sua pele sobre o seu jaleco azul marinho. Meu coração bate mais forte quando sinto vibrações dentro da sua barriga.
Isso é tão mágico.
— Já se decidiu sobre os nomes?

Ela curva seus lábios carnudos em um bico, e balança sua cabeça negando.
— Estamos na duvida entre Paine e Mason, ou Louis e George.

Ergo minha mão.
— Se você está aceitando opniões externas, eu fico com Louis e George.

Ela solta uma gargalhada.
— Vou adicionar isso à lista. Tenha um bom dia, querida.

Pouso minha mão em seu ombro.
— Você também Maggie.
Nos afastamos, e seguimos nossos caminhos.

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