Capítulo 89

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A médica continuava fitando-a, sua expressão era de muita dor. Eu sabia que alguma coisa estava errada.

- Ele está se recuperando. Vocês são muito jovens, irão fazer mais filhos, tenho certeza disso. - Os olhos da médica estavam marejados de dor.

- A senhora é péssima para mentir.

Virei-me para o lado e fiquei estática.

- Angel, você precisa reagir pela sua filha! Quando meu filho acordar, o que eu direi a ele? Lute minha filha!

- Ele está vivo? - Eu já estava chorando

- Sim ele está! - Ela passou a mão no rosto para limpar as lágrimas.

- Ele não está bem não é?

- Ele está se recuperando! Então faça sua parte, você sabe como ele é...

Balancei a cabeça afirmativamente. Sonhamos tanto com o nascimento da nossa filha, agora ela estava perto de nascer com pouco mais de sete meses e ia nascer prematura.

As enfermeiras aplicavam injeções sem parar, o soro foi trocado.

- A sala está pronta doutora! - A enfermeira entrou avisando.

- Vamos!

Saíram empurrando a maca que eu estava, não conseguia prestar atenção em nada, minha cabeça doía muito. Coloquei a mão na minha barriga, e falei mentalmente com a minha filha.

Venha em paz minha princesa, não era a hora de você chegar, mas o Papai do Céu quis assim, então a mamãe quer que você seja uma boa menina! Nasça bem saudável, e traga muita felicidade para nossa família. O papai não vai estar presente, mas precisamos ser forte, quando ele souber que você nasceu, ele vai reagir! A mamãe conta com você viu? Te amamos muito.

Minha cabeça doía demais, fechei os olhos na esperança vã que ela diminuísse.

- Angel, Angel! - Vou longe uma voz me chamando. Era minha irmã.

Os enfermeiros não pararam e ela ia correndo junto com eles.

- Vou ficar aqui rezando por vocês! Vai dá tudo certo minha anjinha.

Eu vi desespero nos olhos da minha irmã, eu podia imaginar como ela estava se sentindo, tivemos tantas percas nas nossas vidas, mas agora era hora de nascimento.

- Cuide dela se alguma coisa acontecer comigo. - Falei num sussurro de voz. Eu tinha que deixá-la a par do meu desejo, caso alguma coisa acontecesse comigo.

Os olhos da minha irmã eram de pânico. As pupilas dilataram, ela abriu a boca em sinal de espanto, mas controlou-se.

- Vai dar tudo certo! Pensamento positivo, minha sobrinha vai nascer saudável, e eu só arredo o pé daqui com vocês três!

Então ele ainda estava vivo! Não era mentira da Janeth. Ela ia lutar com toda a sua força para sua filha nascer bem! Chorei de emoção.

- Ele tá vivo? - minha voz saiu fraquinha.

- Claro que está! Daqui a pouco vocês estarão juntinhos para cuidar dessa princesinha. - A irmã falava tão carinhosa.

As palavras de Amanda fizeram meu coração se encher de esperança. Ele está vivo! Nós vamos ser muito felizes ainda! Teremos outros filhos e ele estará presente. Eu só não posso perdê-lo, não eu não posso, isso eu não posso.

Amanda foi barrada na próxima porta que entramos.

- Com licença senhorita Smith, se você vai acompanhar o nascimento da sua sobrinha, apresse-se para se vestir.

- Eu posso ir? - A médica assentiu. - Tudo bem doutora! Já estou indo!

- Eu amo você! - Eu tinha que dizer isso.

- Eu também te amo! - Ouvi minha irmã gritar.

Entramos na sala de cirurgia, tudo estava pronto nos esperando, vi rostos conhecidos nos aguardando, era Harold e Frank, meus olhos encontraram o de Harold e meu coração acelerou, eram tão parecidos com o de Jack...

- A pressão subiu. - Um enfermeiro falou.

- Aplique mais sulfato de magnésio, rápido! - Janeth gritou.

Os enfermeiros foram rápidos na aplicação do medicamento.

- Angel, o que  foi filha! - A voz dela era suave.

- Os olhos de Harold, lembraram-me os de Jack...

- Oh minha filha desculpe por tudo! - A voz dele era mansa. - Seu marido está se recuperando, e para não se sentir sozinha, nós viemos assistir a chegada da nossa princesa, para tentar diminuir essa falta que ele faz. Nossa primeira neta, a mais nova Parker!

- E eu não ia deixar essa oportunidade de irritar meu irmão, que eu vi ela nascer e ele não! - Apesar do tom de brincadeira, vi muita tristeza nos olhos de Frank, sempre tão bem humorado.

- Não esqueçam que ela também é uma Smith! - Amanda entrou na sala de cirurgia.

Apesar de eu estar muito feliz com a presença deles, eu os trocaria pela presença de Jack, não é egoísmo ou ingratidão. Mas nós a fizemos juntos, queria que ele tivesse ao lado também nesse momento.

Fizemos nossa viagem de lua de mel inteira falando sobre o nascimento da criança. Ele dizia que não sairia do meu lado, e queria cortar o cordão umbilical da filha.

Tantos planos, tantos sonhos, interrompidos por uma lunática que não aceitava perder o ex-namorado. E o pior de tudo que não era por amor e sim por orgulho e status social. 

- Angel, por favor acalme-se, precisamos tirar a criança! - Janeth pediu.

Minha irmã ficou atrás de mim, me dando apoio, lembrei-me do sonho que tive com meus pais. Eu precisava ser forte e lutar pela minha filha e pela minha família.

Fechei os olhos e tentei controlar minha respiração, meus braços estavam abertos, cheios de aparelho ligados à ele.

Daí-me forças Senhor! E faça de mim conforme a Sua vontade!

Imediatamente meu coração encheu de paz e tranquilidade, eu só pensava ver o rostinho da nossa filha.

- Baixou! Agora Janeth! - Harold falou.

Tentava não pensar em absolutamente em nada, rezava baixinho, pedia a Deus para nossa filha vir em paz e cheio de saúde e que também para reestabelecer a saúde do meu esposo. Que ele ficasse imediatamente curado, pois precisávamos criar nossa filha.

Alguns minutos depois, Janeth falou:

- Está nascendo Angel!

E em pouco tempo o choro rouco da bebê ecoava pela sala de cirurgia. Uma emoção indescritível tomou conta de mim, era nossa filha, fruto do nosso amor.

- É a cara do pai! - Janeth estava com a voz embargada.

Vi um médico pegar a criança, limpar, e colocá-la imediatamente na incubadora.

Ao longe eu ouvi um homem falar:

- Dr Parker, para o senhor comparecer com urgência  na uti.

- O que aconteceu?

- É o seu filho...

Não consegui ouvir mais nada, meu Jack? O que aconteceu com ele? Minha cabeça estava latejando de dor. Os aparelhos começaram a apitar.

- Nós a estamos perdendo doutora!

- Angel não! - Amanda gritou.

- Tirem-na daqui! - A médica ordenou.

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Amantes na noite (Lovers at night)Onde histórias criam vida. Descubra agora