Capítulo 15 - O Reverso da Moeda

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J A M I E   B E N N E T T


Salto no empurrão que arremessa Emma no solo, retirando-a da trajetória mortal do pássaro de ferro em chamas. Rolamos sem controle pelo chão duro, num abraço desconfortável.

Estou meio tonto ao parar, percebendo meu corpo sob o dela, cobrindo-a como uma concha. Sem pensar, me levanto num pulo, puxando a espada da bainha, rápido, com um riscar metálico.

— Corre! — Ordeno; e sem nem esperar que ela obedeça, agarro sua mão.

Ela tropeça nos próprios pés enquanto a arrasto. Há arranhões ardidos pelos meus braços e minhas costas latejam de dor. Ao contrário do que eu mesmo esperava, não choramingo pelos ferimentos. Não o faria nem se quisesse, pois o pânico e adrenalina que me dominam é ainda mais forte.

Emma dá uma guinada violenta para a direita quando a puxo, e um solavanco quando paro, trombando em mim. O dedão do meu pé reclama de dor, eu havia topado na raiz de uma árvore.

Nesse segundo, ouço o cuspir das chamas do dragão, só a alguns metros de onde estamos, seguido do clarão laranja das labaredas. O calor é imediato, aquece minha pele. O jato de fogo passou tão perto, que os cipós do emaranhado de árvores que nos esconde entra em chamas.

A revoada demoníaca de pássaros é infernal, o ruído metálico de suas asas me dá agonia.

— O-o que são essas coisas? — Emma gagueja.

Meu olhos alarmados percorrem os monstros, que voam no espaço estreito da floresta.

— São Pássaros de Estinfália. Deve ter um ninho por perto. Ou foram enviados para nos atacar. Ou ambos.

Me sinto um fracasso de guerreiro ao notar meus joelhos tremendo, nem sei como me mantenho de pé. O cabo da espada de bronze é escorregadio e pesado nas minhas mãos suadas. Tenho um total de zero por cento em experiência de combate contra monstros.

Ainda assim, me projeto à frente da filha de Phobos assustada, ficando entre ela e a ave que pousa diante de nós.

Engulo seco, tentando parecer firme ao instruir:

— Fique atrás de mim.

O pássaro de ferro é ligeiramente maior que uma garça e certamente fatal. Agora, ele abre as asas de penas afiadas como pontas de facas, crocitando, anunciando a iminência de um ataque. O bicho tem olhos pretos brilhantes e ariscos, além de um bico fino e curvado, feito para picar e rasgar semideuses infelizes em seu caminho.

Ainda assim, o monstro hesita em avançar, como se travasse um impasse interno e infinito.

A indecisão da criatura é um erro mortal.

— MORRAAAA!!!

De surpresa, Astrid salta e passa a lâmina do machado no pescoço da ave. Berrando, a filha de Ares continua golpeando furiosa.

A cada investida, o pescoço do monstro vai ficando mais empenado, sem nunca se quebrar, porém. A ave de cabeça torta supera a surpresa inicial e tenta bloquear as investidas.

— Poupe suas energias, graecus! — Hans exclama, surgindo dentre as árvores junto com os outros, empunhando sua espada de ouro. — São Pássaros de Estinfália, nossas armas são inúteis contra eles!

Astrid permanece socando o machado na ave indestrutível, embora pergunte confusa:

— O quê?!

— Ele tem razão! — Digo. — Além de fogo de dragão, só um barulho muito alto é capaz de mandá-las embora. Foi o que Hércules fez, tocou castanholas e depois atirou flechas banhadas no veneno da Hidra.

Equinócio de AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora