Capítulo 24 - O Juramento do Herói Caído.

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A S T R I D   H O F F E R S O N

— É inútil.

A voz de Hans é uma sentença áspera. Interrompo minha busca por passagens secretas na parede, ou por qualquer caminho viável na pilha de rochas e terra que entupiu metade do templo. Espio por cima do ombro, além da pira sacerdotal. Ao lado do bloco de mármore que sustenta as estátuas, está sentado o semideus, de cabeça baixa.

Uma semana atrás, eu não daria a mínima para ele e, pelo contrário, acharia bom vê-lo sofrer. Só que agora o peso da culpa aperta meu peito e me corrói por dentro. A imagem do pretor cruel e sanguinário caiu por terra no minuto em que percebi que quem havia voltado por mim havia sido Hans. Ele não precisava ter feito aquilo, eu já estava condenada. E, no entanto, estamos prestes a morrer juntos.

Cômico, se não fosse trágico, ironizo em pensamento. A última coisa que eu precisava era me sentir em dívida com esse cara.

Suspiro, avaliando a situação. Embora abalada, meu raciocínio tornou a funcionar apenas por ter saído da escuridão. Não posso dizer o mesmo sobre Hans. Aos poucos, a aura do Rio Cócito vai afetando sua sanidade, abatendo seu ânimo.

— Me fala de novo sobre esse lugar — peço, mais para distraí-lo dos próprios pensamentos. — Não sei nada sobre Roma.

Ele bufa, desanimado.

— O Senado queria honrar a compaixão de César, mas Clementia amaldiçoou o templo.

— É mesmo? — Pergunto por perguntar, concentrada em sair daqui. — Que tipo de maldição?

— Algo sobre perdoar — ele deu de ombros —, pouco importa, nunca vamos sair daqui.

Nem presto atenção à falta de otimismo, acidentalmente pisando em fragmentos crocantes de cerâmica. Retiro o pé, encontrando os cacos do que um dia deve ter sido uma linda ânfora com pinturas greco-romanas, mas que hoje não passa de um monte de lixo. Me curvo, forçando a vista para os desenhos. Em um dos cacos, dois rivais brandem espadas. No outro, reverenciam uma deusa.

Tento montar o quebra-cabeças da história, comentando:

— É estranho pensar que a deusa da misericórdia ia querer ferrar alguém.

— Olha ao redor, graeca — Hans aponta, exausto. — Por qual razão estamos aqui senão por castigo divino?

Sopro uma mecha de cabelo, aborrecida, porque faz sentido.

Mas se a deusa Eleos queria mesmo nos ferrar, pondero, então por que ela nos guiou para o seu templo, ao invés de nos deixar morrer naqueles túneis?

Estalo os dedos.

— É porquê não é um castigo divino, é uma provação divina — decifro o enigma, entusiasmada. — A maldição é um teste.

Ele ergue a sobrancelha, pouco convencido.

— Um teste?

— É — insisto —, acho que se a gente passar no teste, vamos conseguir sair daqui.

A esperança acende seu olhar e o ar de desafio o instiga, posso ver que suas engrenagens começam a funcionar.

E logo quando eu estava me achando inteligente como uma filha de Atena, o semideus lança a pergunta:

— O que temos que fazer para passar no teste?

— Não sei — admito, desconsolada. — Algum palpite?

Ele fixa a vista num ponto qualquer, reflexivo.

— Não estamos aqui por acaso, nós dois — Hans argumenta, um segundo depois, enquanto eu me aproximava. — Clementia é a deusa da misericórdia, mas perdoar envolve muita coisa. Resignação, benevolência. Empatia.

Equinócio de AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora