Capítulo 4 - A Heroína do Solstício de Inverno

440 65 224
                                    

A N N A
D E   A R E N D E L L E

— Então — dou de ombros com uma risada nervosa —, eu morri.

Só que a única pessoa realmente surpresa com o que estou dizendo sou eu mesma.

— Tá — a menina com boné de corujas senta-se ainda mais na ponta do assento —, e daí?

— E daí o quê?

— Marina quer saber o que aconteceu depois — explica Beatrice Dayne, do Acampamento Júpiter. — Histórias sobre a guerra das Estações contra Urano foram contadas muitas vezes ao redor da fogueira.

— Essa é a parte em que você nos diz como voltou da morte — os olhos castanho-escuros de Marina Helal brilham de curiosidade. — Sabe, Hades não queria que você retornasse do Mundo Inferior. E, no entanto, aqui estamos, com duas garotas ressuscitadas.

Beatrice batuca os dedos na mesa em que estamos, pensativa. Uma brisa quente de verão agita os seus cabelos curtinhos.

— Anna até que parece estar aceitando os fatos muito bem... Achei que eu iria direto para o hospício quando vi Quíron pela primeira vez. — Ela ri consigo mesma. — Esse dia foi louco.

— Hum, bolinhos — Vanellope surrupia uma das guloseimas, anunciando sua presença, sentando-se ao meu lado e falando de boca cheia e suja de glacê: — Qual é a boa?

Marina se apressa em responder:

— Anna vai contar o que aconteceu com ela depois da guerra.

— Ah, legal — Hiro pega o lugar do meu outro lado. — Diz aí, Anna, morrer dói?

Suspiro.

— Eu também queria saber — ponho o cotovelo na mesa, enquanto o meu cálice se enche sozinho de chocolate quente. — Só que não consigo me lembrar de absolutamente nada, desde que caí naquele fast food em Nova Iorque e atrapalhei o encontro de vocês dois.

O bolinho entala na garganta de Vanellope, que regurgita com um cacarejo forte; Hiro engasga com coca diet, espirrando refrigerante pelo nariz.

— Encontro?! — Os olhos da semideusa estão lacrimejando, as bochechas rosadas ao tossir. — Mas que encontro?

— Nada a ver! — Hiro limpa o rosto com a manga do moletom, pigarreando. — Não tinha encontro nenhum.

— É, era só um lanche amigável entre amigos.

— Um lanche amigável entre amigos amigáveis.

— Exato, eu não poderia ser mais clara, obrigada, amigo.

— De nada, amiga.

O diálogo peculiar foi encerrado com risadas nervosas.

Esquisito.

Cantarolo, pausadamente:

— Tá legal — estou me virando agora para as outras duas semideusas. — De qualquer forma, não sinto como se eu tivesse batido as botas ou sei lá. Quer dizer, a história que Elsa me contou mais cedo, sobre a guerra contra Urano... Bem, faz sentido. Eu me lembro de alguns fragmentos, mas é tudo muito surreal, como um sonho.

Marina pondera, como uma verdadeira nerd daquele chalé com a coruja:

— Você deve ter ficado semiconsciente enquanto o Céu te possuía.

—... Por isso não ficou chocada com as bizarrices greco-romanas — Beatrice conclui, estalando os dedos. — Mas como Anna voltou à vida?

Minhas têmporas doeram, me forçando a massageá-las com uma careta:

Equinócio de AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora