H A N S
W E S T E R G A A R D
D U R A N D A L IIIO Pretor Sanguinário, O Príncipe de Nova Roma, O Terror dos Monstros, Herói das Legiões, Invictus, O Tesouro de Vênus, Revolucionário, O Filho da Loba, Julgador de Deuses.
Eu tenho muitos títulos. Mas por aqui só me chamam por um nome: traidor.
O porão escuro e empoeirado da Casa Grande é onde estou passando a maioria das minhas noites na Colina Meio-Sangue, porque o diretor do Acampamento tem medo de que a minha garganta seja cortada enquanto durmo, se ficar em um dos chalés. Mas nenhum daqueles semideuses graecus faria isso. São fracos. Ou tem medo de mim. Ou ambos.
É por isso que agora mesmo estou dormindo tranquilo. Meu sono é leve, tenho consciência da luminosidade fraca do amanhecer, só que ainda estou tendo um pesadelo. Sim, é um pesadelo, afinal, por qual outro motivo Vênus apareceria para mim, se não fosse para me atormentar?
— Você me entristece, Hans. — É como ela me recebe.
Sinto a raiva esquentar o rosto e franzir as sobrancelhas, em aborrecimento.
— Lamento não ser do seu agrado. Mãe. — Acrescento a última palavra, voltando a lustrar os meus troféus, no armário do gabinete dos pretores.
A deusa passa os olhos ao redor, me analisando dos pés à cabeça, por fim. Estou com minha armadura de ouro celestial, a túnica roxa do Acampamento Júpiter e uma coroa de louros. Extravagante, eu sei. Mas o sonho é meu.
— É só com isso que você sonha? Glória e Poder? — Casualmente, Vênus mira o próprio reflexo no vidro do armário de troféus, fazendo com que esbraveje enfurecida: — Eu nem consigo acreditar!
Dou uma risada maldosa:
— Pra mim, você está linda.
Ela está zangada, mas não é culpa minha. Vou contar um segredinho sujo. Sabe porque Vênus é a deusa mais bonita do Olimpo? A natureza dela é camaleônica, possui um truque: sua aparência se modifica para se adequar aos ideais de quem a vê. Sempre que quer me amolar, ela conta o exemplo de Percy Jackson, que vê minha mãe refletir a aparência de Annabeth Chase; ou Jack Frost, para quem a deusa da beleza mostra olhos azul-safira e um cabelo loiro trançado. Ao contrário, para mim, ela exibe madeixas acobreadas e traços alongados e elegantes, como os meus.
Minha mãe checa o próprio rosto no reflexo, fazendo isso como eu faço para ver os dentes de um cavalo.
— Estou a sua cara.
— Chama-se "genética" — debocho.
— Você entendeu o que eu quis dizer. Tudo o que acha belo é você mesmo. E sabe como isso é grave, considerando a sua situação. — A divindade se aproxima de mim, tirando um troféu dourado das minhas mãos e jogando-o no chão com um ruído metálico. Mantenho a vista fixa no objeto que rola para longe, mas o olhar de Vênus suga minha atenção para sua expressão triste e preocupada. — Já se passaram meses, Hans...
— Ainda tenho até o Equinócio.
—... Não tenho poderes para conter as Fúrias. Elas querem sangue.
— Não estou preocupado.
— Eu sei quando está mentindo — ela retruca, arqueando a sobrancelha.
— Argh! — Rosno, me virando e batendo com o punho fechado na mesa atrás de mim. — Isso é muito difícil.
Minha mãe pousa a mão no meu ombro.
— É complicado, também sei disso.
Sinto que sou o garotinho assustado que eu era na infância, meus olhos ardem com lágrimas que não permito cair. Reprimo a tristeza e o desespero crescente, esmagando-os com uma pedra fria de orgulho.
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Equinócio de Anna
Fiksi PenggemarAnna estava morta, mortinha. Ou, pelo menos, deveria. É que ao invés de um caixão a sete palmos da terra, a garota se viu sequestrada por dois adolescentes estranhos que a levaram para um lugar mais esquisito ainda: o Acampamento Meio-Sangue. Agora...