Fim de noite

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Minha amiga me olhava com os cabelos espetados para todos os lados, cara de mau, mão na cintura e uma travessa com alguma comida queimada na mão. Eu sei que é errado rir, mas eu não me aguentei.

- Até você decidiu rir de mim hoje, Zara Suelen Novais de Nóbrega? - Eita, falou meu nome todo. Paro a risada aos poucos e encaro seu olhar assasino direcionado a mim.

-Desculpa, amiga. É que a cena foi no mínimo muito engraçada - quando começo a querer rir de novo, ela levanta uma faca na minha direção, paro na hora. - Ei, mulher da faca, não está mais aqui quem riu!

Ela abaixa a faca e agora me olha com um olhar triste.

-Eu sou péssima mesmo. Nem um frango à moda italiana eu consegui fazer!- ela fala triste e indignada.

-Não fique triste. Sei que é legal conseguir fazer uma receita que você nunca tinha feito, mas você também sabe que nunca foi lá essa cozinheira toda. Nunca conseguiu nem mesmo fritar um ovo, Clarinha! - digo sincera. Ela me olha e começa a gargalhar, me junto a ela.

-Você, em? Pelo menos o Alexandre disfarça! Tentei fazer algo diferente hoje porque ontem paguei mó mico ficando bêbada tão rápido e quis me desculpar fazendo isso. - Ela agora abaixa cabeça voltando a ficar triste.

-Ei, não precisa ficar assim. Você não pagou mico algum, essas coisas são normais e seu marido deve entender.- me aproximo mais dela e lhe dou uma abraço.

-Tudo bem, vou esquecer isso. Obrigada por estar aqui, zaza. - pisco pra ela e sorrio.

-Agora, vamos deixar essa tristeza de lado e vamos chamar quem sabe cozinhar de verdade. Estou morta de fome e não quero comer esse tal de frango à moda italiana queimado! - Brinco e ela me encara séria.

-Zara!!! - ela bate no meu ombro e rimos. Senti falta dessa nossa interação. Nós nunca brigamos em tantos anos de amizade. Sempre entendemos e fomos sinceras uma com a outra.

Voltamos pra sala e a Clara explica tudo que aconteceu envergonhada. Seu pai suspira aliviado e acaba levando um tapa no ombro da mulher. Alexandre levanta e vai até a esposa sorrindo.

-Querida, não tem problema. Eu faço um novo almoço, não precisa ficar assim. - Ele diz todo carinhoso e Clara derrete em um abraço que recebe dele.

-Tudo bem. Vamos, vou te ajudar! - Ela diz voltando a ficar animada. Alexandre logo se apressa em dizer:

-Ah, não precisa, meu amor. Por que você não mostra para a Zara o vestido que eu te dei para a inauguração do restaurante? - Ele sorri torto e bagunça um pouco o cabelo a olhando. Ele é mesmo muito bonito. Que? Nada de ficar reparando demais, Zara!

-Vamos, amiga. Tenho mesmo que te contar umas novidades. - Ela olha de mim para ele e acaba aceitando. A puxo rumo a escada e ele me lança um olhar agradecido e...admirado? Acho que não, prefiro imaginar que foi só a primeira opção. Afinal, não tem o que admirar em mim.

Quando já estamos no quarto deles, Clara vai até o closet e começa a falar.

-Não pense que eu não percebi o complô de vocês para me tirar de perto da cozinha. - Ela finge irritação e volta com um vestido vinho nas mãos.

-Você sabe que foi melhor assim, lembre do que aconteceu agora à pouco. - rio e ela joga o vestido em mim.

-Para de graça e olha o vestido. - Nos sentamos na cama e eu começo olhar o vestido. Ele é lindo, longo, colado ao corpo e com uma fenda linda no lado direito.

-Nossa, amiga. Passou dicas de moda para o seu marido? Está lindo de morrer.- Ela rir e eu continuo olhando os detalhes do vestido.

-Ele aprendeu muito rápido sobre as coisas que eu gosto. Está aí o resultado. - ela fala toda orgulhosa do marido.

-Vejo isso. Que bom, amiga. Ele é um homem bom pra você.

-Eu não podia ter achado um melhor. - Ela sorrir apaixonada e vai guardar o vestido de novo.

Eu nunca amei um cara como ela parece amar o Alexandre. Claro, sempre tenho meus casos e já namorei. Mas nada assim, a ponto de casar e viver á dois verdadeiramente. Acho que eu ainda não estou pronta para isso. Prefiro continuar solteira por tempo indeterminado. Liberdade de fazer o que quero e com quem quero, sempre foi uma das coisas que mais amei e amo na minha vida. Mas Clara não, ela sempre foi a romântica incurável da nossa amizade e ver que ela encontrou alguém de verdade, me faz ficar muito feliz por ela.

Depois de alguns minutos conversando e contando as novidades das nossas vidas, Judith nos chama para o almoço. Descemos e o cheiro invade minhas narinas. Sabe aquele cheiro de comida tão bom que te dar vontade só de ficar sentindo o cheiro? Estou assim agora.

-Nossa, isso está com um cheiro ótimo! - Elogio assim que chego perto da mesa.

-É frango á moda italiana. - Alexandre diz enquanto termina de colocar outras coisas na mesa.

-Está vendo, Clara? Devia ter deixado o menino fazer logo de primeira. - Mateus reclama e leva mais um tapa no ombro.

-Você não aprende, não é, Mateus Júnior de lima Maldonado?- Judith fala chateada e todos rimos com a careta que ele faz.

-Parem vocês dois. O que importa é que agora vamos finalmente almoçar. Parece tudo muito gostoso, amor. - Clara diz e dar um selinho no Alexandre antes de sentar. Faço o mesmo e começamos a almoçar. Estava tudo realmente muito bom e os elogios não paravam de chegar para Alexandre.

-Obrigado, gente. Recebi a confirmação de que irá dar certo inaugurar o meu restaurante sexta que vem. Como eu já vinha ajeitando tudo faz um tempo e agora que vim morar no Brasil, tudo se encaminhou mais rápido ainda. - Ele nos conta com um sorriso genuinamente feliz no rosto.

-Que maravilha, meu amor! - Clara exclama feliz e lhe dar um beijo.

- Agora teremos comida da melhor qualidade de graça? - Mateus fala brincando. Eu retiro o que eu disse sobre ele ser mais fechado que a Judith. Parece que as coisas mudaram.

-Pensarei no assunto. - Alexandre pisca para ele entrando na brincadeira. - Zara, você está convidada para comparecer também. - Ela me convida, enquanto bebe mais um pouco do seu vinho.

- Claro, eu adoraria. - respondo simpática e a conversa continua entre todos.

Já são sete horas da noite quando volto para casa. O dia foi muito bom, em contraste com meu pequeno mal humor com o trânsito. A família da minha melhor amiga me faz bem.

Quando chego em casa, tranco a porta de volta, e sigo para meu quarto. Já de banho tomado e pijama vestido, pulo na minha cama e começo assistir um filme qualquer que passa na tv. Um bom programa para o final de um domingo, pelo menos para mim.

Estava vendo a cena em que o casal do filme começa a brigar, quando meu celular apita avisando que uma nova mensagem chegou. O pego e olho na tela pra ver do que se trata. Número desconhecido. Estranho e abro a mensagem de uma vez.

Queria tocar e sentir o cheiro dos seus cabelos algum dia. - 19:50

Meu cenho franze na hora e olho confusa para a tela do celular. Como assim sentir o cheiro dos meus cabelos? Eu não passo meu número para quase ninguém, a não ser contatos de trabalho. Como essa pessoa conseguiu? Será que estou sendo perseguida? Se isso for uma brincadeira, eu mato quem está fazendo.

Quem é? - 20:00

Pergunto e a maldita pessoa não responde mais. Que merda! Como se dorme depois dessa?



30 minutosOnde histórias criam vida. Descubra agora