Me ajude!

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Três anos atrás...

- Zara, você está tão estranha hoje, querida. É aquele rapaz que está te deixando assim? - Quem dera fosse! Guilherme é um santo perto daquele homem...

Minha mãe está sentada próxima de mim, enquanto Judith e Mateus conversam perto da churrasqueira.

- Não é nada, apenas pensando em algumas coisas de trabalho. - tento sorrir e ela parece acreditar em mim. Pelo menos eu acho.

- Não pense nisso hoje, por favor. Vamos aproveitar o final do dia com nossos amigos! - Diz e sacode meus ombros, num gesto que eu creio que seja para me animar.

- Certo, mãe. - Jogo mais um dos meus sorrisos falsos. Instantes depois Clara chega com Alexandre e o almoço começa. Eu não consigo olhar na direção deles sem fazer uma cara dolorida. Sim, estou sentindo dor. Dor por ser uma traíra. É isso que eu sou.

Rolam vários assuntos na mesa e tudo que sai da minha parte são murmúrios e gestos concordantes. Eu nem ao menos sei do que falam.

- Então é isso, nós vamos começar a mudança semana que vem. Zara falou que ia morar com a gente. - Clara fala e essa parte eu escuto, pois engasgo com meu suco logo depois.

- Quê?

- Então alguma coisa você está prestando atenção nessa conversa, não é? - Clara me olha brincalhona - Falei apenas para você aterrissar aqui. O que está havendo com você hoje?

Suspiro aliviada. Nem sei o porquê disso. Eu não ia morar com eles sem querer. Eu nem tinha falado nada que ia. Que idiota eu sou. Percebeu agora?

- Nada... trabalho na cabeça. - sorrio sem graça e desvio o olhar. Ela vai saber que está mentindo, Zara. Disfarce! - Mas isso é besteira. Como vai ser a mudança?

Isso. Aja normalmente.

- Estamos querendo ir na quinta ou sexta dessa semana que vem. Preciso ajeitar umas últimas coisas ainda. Tipo móveis, essas coisas. - Ela diz animada e eu me permito olhar de lado, paro o seu marido. Ele me encara. Droga. Desvio o olhar e volto a prestar atenção nela.

-Certo, que bom. Essa semana vou estar um pouco cheia na empresa, mas arranjo um tempinho para te ajudar em alguma coisa. - digo solicita. Bem, quero mesmo ajudá-la. Talvez isso diminua um pouco minha culpa. Comprando móveis, Zara? Conta outra!

- Faz bem, Zara. Clara fica perdidinha nessas coisas de casa. Não sei como morou tanto tempo sozinha! - Judith fala e uma nova conversa se inicia.

- Mãe, isso é uma calúnia!

- Você sabe que não, filha. - Mateus diz com seu jeito brincalhão e a conversa se anima mais na mesa.

Eu só quero ir embora e me afundar na minha cama novamente. Como ele consegue ficar tão perto de mim e ainda conversar normalmente depois de tudo? Ele parece não ter sentimentos, eu não entendo.

Você não anda entendendo nada ultimamente... É, eu sei, valeu consciência!

Quero me livrar disso também, da minha consciência. Eu sinto que vou ficar louca, e mereço isso. Por que que tipo de amiga beija o marido da outra e ainda gosta?

Preciso ir embora daqui!

- Mãe, acho que já vou. Pode ficar aqui se quiser, pego um táxi de volta. - cochicho próximo ao ouvido da minha mãe.

- Certo. Se cuide, por favor. - Ela cochicha de volta e eu me viro para me despedir dos outros presentes.

- Gente, o almoço estava ótimo mas vou precisar ir agora. Tenho uns últimos projetos para olhar antes de levá-los para a empresa amanhã. - Minto. Novamente. É a única saída que tenho ultimamente.

-Claro, querida. Queríamos que ficasse mais, mas já que tem que ir mesmo... - Judith diz e sorrir para mim.

-Também queria...- sorrio de volta. Mentirosa!

-Até mais, Zarinha! - Mateus também se despede e eu faço o mesmo, agora me levantando para ir.

-Vem amiga, te levo até a porta. - Clara levanta junto e eu a olho amedrontada. Disfarce!

-Ce.. certo..to, vamos. -Gaguejo. Sou péssima. Sigo até minha bolsa que está perto da espreguiçadeira e a pego, constatando que meu celular já não tão molhado, está dentro.

Passo pela mesa novamente, com Clara indo na frente, quando escuto:

-Até mais, Zara. - Alexandre fala. Minhas pernas tremem e vacilam. Filho de uma vaca! Respira, respira! Me viro rapidamente em sua direção e balanço a cabeça em um aceno.

Logo depois Clara já está abrindo a porta pra mim e eu a abraçando.

-Tchau, amiga. - vou saindo, quando ela me para. Será que ela viu o beijo e agora vai me questionar?

-Ei, apressadinha! Você vai me encontrar na terça? Preciso da sua ajuda com algumas decorações da casa.

Ah, isso!

-Sim, sim! Vou sim! - digo rápido e exclamativa demais. Pelo menos não gaguejei dessa vez. Clara inclina a cabeça e me olha estranho.

-Certo. Você tá bem diferente hoje ou é impressão minha mesmo. Enfim, tchau amiga. - se despede finalmente e eu dou um último aceno, correndo para chamar um táxi.

                              ****

Chegando no prédio onde moro, pego o elevador e rapidamente chego no meu andar. Saio do cubo metálico, já me sentindo sufocada diante do meu estado e procuro minhas chaves na bolsa. Parece que coloquei meio mundo dentro dela, porque nunca vi ser tão difícil achá-la. Vou caminhando e remexendo as coisas dentro, quando a acho, embaixo de uma paleta de sombras. Porquê carrego isso mesmo? Isso não importa, preciso entrar em casa logo.

Levanto o olhar e quando olho para a direção da minha porta, tomo um susto.

Parado na frente da minha porta com um buquê de flores enorme e uma garrafa de vinho, está Guilherme.

-Gui...- estaco no caminho, o olhando abobalhada. Ele sorrir e se aproxima de mim.

-Espero não estar atrapalhando... Só achei que devíamos acabar aquela noite de drinks direito...- Fala e me entrega o buquê. Seus olhos parecem brilhar.

Oh, Deus, me ajude!

30 minutosOnde histórias criam vida. Descubra agora