Egoísta

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Três anos atrás...

Fatinha me olha abismada e eu não sei como reagir. É como se o mundo estivesse parado.

-Zara...quer que eu chame o segurança? -Fatinha pergunta. Ela parece estar com medo. Quem não estaria? O homem parece um touro bravo.

Me recomponho e tento conduzir a situação com um pouco de sanidade.

- Não, tudo bem, amiga. Eu vou conversar com ele. Eu te chamo se precisar. - respondo com a voz mais firme. Ela me olha desconfiada, mas deixa a sala. Olho para Alexandre de novo e ele se aproxima.

-Por que não respondeu minhas mensagens? - sua voz é fria e comedida. Ao contrário do seu comportamento a pouco.

-Eu não tenho obrigação de respondê-las e muito menos devo falar com você. - falo e empino o nariz. Não vou baixar a bola. Não posso.

Mas ela começa a baixar, quando Alexandre literalmente ri na minha cara. Filho da mãe!

- Não sabia que você poderia ser tão engraçada. Você não vai me ignorar depois do que aconteceu, Zara. Não vai mesmo.

-Eu vou ignorar, sim. Aquilo não devia ter acontecido. Não vai mais acontecer. - quase grito e me viro de costas, tentando me acalmar. Não quero que todos da empresa sejam testemunhas de uma confusão.

-Vire para mim e me encare. Você sabe que não pode fugir. - Sua voz me passa uma emoção de posse e poder. Um poder que eu não quero que ele tenha sobre mim. Mas eu sei que tem, porque eu me viro para olhá-lo.

-Para de me perseguir, por favor, não podemos...

-Não diga que não podemos. Não quando me beijou daquele jeito. - ele fica mais perto, agora segurando meu rosto com as duas mãos. Saio de perto do seu toque e o olho com indignação.

-Clara sempre foi minha amiga, Alexandre. Ela não merece isso. Se você não a ama, termine esse casamento de uma vez. - Meus olhos começam a lacrimejar e ele me encara, como se estivesse sentindo algum tipo de dor.

-Eu não posso...

-Por que não pode? Prefere destruí-la? Me destruir? - não consigo e começo a chorar. Nunca fui muito chorona, mas minhas emoções se afloram perto dele.

-Eu não quero destruir ninguém, acredite. Tudo que eu quero é ter você no momento. - Ele não se escuta? É horrível ele dizer isso, tão simplesmente.

-Você não pode me ter, pelo amor de Deus. Quantas vezes eu vou ter que dizer? Me deixe em paz! - dessa vez eu grito em meio ao choro que me toma. Alexandre me abraça e me aperta entre seus braços.

-Por favor, não chore, sunflower. Me escute. Nós podemos fazer isso, nós podemos ser um do outro se quiser... - me desvencilho do seu abraço e enxugo as lágrimas que teimam em cair, com força.

-Não! Isso não vai acontecer. Eu já tenho outra pessoa e não faria isso com a minha melhor amiga. - quando termino de falar, é como seu eu tivesse dito algo que pudesse matá-lo, pois ele avança para cima de mim e prende contra a minha mesa. Eu não consigo respirar, não consigo me mexer.

-Quem é ele? - pergunta com raiva.

-Você não precisa saber e...

-Diga para mim. - sua voz é mais fria do que antes. Ele parece se segurar para não explodir. Se esse modo já me causa medo, imagina quando for o extremo.

-Eu não vou dizer. - Me mantenho firme e ele aperta minha cintura. Aguenta firme, Zara.

-É o corretor, não é? - como ele sabe? Mas também, como não? Ele já me viu na presença de Guilherme algumas vezes.

Não respondo e ele ri de novo, um riso falso e sem humor.

-Quem cala, consente. Mas já aviso, você não vai ficar com ele. Você é minha, e sabe disso. - Ele afrouxa o aperto na minha cintura e eu saio de perto dele.

- Eu não sou sua e nem de ninguém. Você é um cara louco e que não tem amor a ninguém. É egoísta!

- Se não é minha, será. E eu sou louco mesmo, por isso não tente fugir de mim, do que sente. Porque eu irei até onde eu puder para provar que você sucumbe a mim.

-Isso jamais vai acontecer. - Assim que termino de falar, ele me puxa para o seu corpo e cheira meu pescoço. Minha pele arrepia na hora. Droga!

-O que eu disse se concretizando mais uma vez. Não tente resistir. Está claro que não consegue. -  ele beija meu pescoço e lambe. Meu corpo amolece, meu sangue ferve.

-Me solte, Alexandre...- peço, perdida no seu calor tão próximo a mim.

-Eu não estou te prendendo, sunflower. - quando ele diz isso, percebo o que está acontecendo. Eu sendo fraca e ele ganhando o jogo. Abro os olhos que eu nem percebi que os tinha fechado e o empurro para longe.

-Saia daqui, Alexandre. Agora! - Grito. Não me importo mais que ouçam. Só quero que ele vá embora. Que a tentação para o errado vá junto.

Ele me olha e maneia a cabeça, assentindo.

-Eu vou, mas ainda não paramos aqui. E quanto eu ser egoísta, te garanto que você vai afundar no egoísmo comigo. - Dizendo isso, me olha uma última vez e se vai.

O que ele quis dizer com isso? Merda! Eu não posso ter paz? Pela primeira vez na vida eu odeio o fato de Clara estar morando no Brasil. Se ela não estivesse aqui, ele também não é estaria e... balanço a cabeça e esqueço esse pensamento. Ela não tem culpa do marido cafajeste que tem. E da amiga péssima também...

Volto a sentar na cadeira em frente a mesa e tento organizar meus pensamentos mais uma vez. Que inferno de homem!

Por que eu sou tão fraca perto dele? Isso não devia acontecer, ele devia me causar nojo e repulsa...

Ouço a porta abrindo novamente e olho rapidamente, com medo que seja ele de novo. É a Fatinha. Suspiro aliviada.

-O que aconteceu aqui, amiga? Você tá mais pálida que papel! - ela se aproxima e anda até o outro lado da mesa, onde estou.

Eu poderia falar a verdade para ela? Não Zara, é tudo fodido demais e os julgamentos vêm também... É, por mais que eu confie nela, o que aconteceu não deve ser exposto.

-Não foi nada. É que briguei com a Clara ontem e ele veio tomar satisfações. Ele não gira muito bem. - Minto na cara dura.

- E precisava daquela fúria toda? Eu ouvi alguns gritos e...desde quando vocês duas brigam? - ela me enche de perguntas, mais desconfiada do que nunca. Tenho que me esforçar mais na mentira, se eu não quiser que ela descubra.

-Calma. É só que ela vem me deixando louca com alguns assuntos relacionados a casa nova dela e eu acabei me estressando. O marido dela veio apenas saber porque ela estava tão arrasada. - Coitada da Clara. Não merece nem mesmo que seu nome seja citado. Ela não merece nada disso. Eu sou uma péssima amiga.

-Hum. Você quer uma água? Tá meio agitada...- Tenho certeza que ela não acreditou, mas fingi que sim. Ela sabe que não quero falar. Bom.

-Quero, sim, obrigada. - tento sorrir e ela assente, saindo da sala para buscar a água. - E Fatinha, não se preocupe, está tudo bem.

Ela para e se vira para mim.

-Espero que esteja.

Suspiro mais uma vez. Estou exausta. Quando penso que tudo está se resolvendo, o furacão retorna para derrubar minha casinha e tudo que construí em volta dela.

Comentem o que estão achando, gente. Isso me ajuda muito.



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