30 minutos

Longe daqui

Dias atuais...

Guilherme, depois de ver o meu estado fragilizado, decide que a conversa pode ficar para depois.

O que agradeci internamente.

Ele faz uma comida leve para jantarmos, não o impeço, estou exausta demais para isso.

Não falamos nada. Apenas nos encaramos em silêncio em quanto comemos.

Eu também errei com ele. Não fui quem ele esperava e muito menos fiz coisas admiráveis. Mas ele também não tinha que ter feito o que fez.

É tudo muito complicado e só quero dormir de novo. Para fugir do mundo outra vez.

Depois de comermos, ele coloca a louça suja na pia e se aproxima de mim, estendendo sua mão para que eu pegue. Faço isso e ele faz o caminho até meu quarto, onde inesperamente solta minha mão e me levanta em seus braços, me pondo deitada na cama.

-Por que está fazendo isso, Guilherme? -Pergunto, baixinho.

-Eu já disse. Eu te amo. E agora você precisa de ajuda.

-Se você me amasse não teria...e eu não preciso de ajuda, eu...- Ele toca meus lábios com seu dedo indicador.

-Durma um pouco, Zara. Você está precisando disso.

Não falo mais nada e fico o olhando, aos poucos meus olhos vão se fechando e a escuridão me toma para ela.

                              *****

Acordo com o meu celular vibrando ao meu lado. Já é manhã. Suspiro e olho quem me liga. É Clara.

Faz dias que ela não entra contato, e por mais que seja bom para mim, para eu que não jogue toda a merda no ventilador entregando meu estado caótico, decido atender.

Esfrego minhas têmporas e suspiro mais uma vez, antes de aceitar a chamada.

-Alô?

-Oi, amiga, tudo bem? - sua voz soa animada.

Não ando nada bem. Mas preciso fingir.

-Vou bem. Esqueceu de mim? - -pergunto baixo. Bem que ela deveria esquecer uma amiga como eu. Mas ela não sabe.

-Você não parece muito bem. Aconteceu algumas coisa?- pergunta, percebendo o desânimo na minha voz.

-Só um pouco cansada. Mas me fale sobre você e todo esse sumiço.

-Nós ainda vamos conversar sobre esse cansaço, ok? E desculpa meu sumiço, estou trabalhando muito e lidando com algumas coisas importantes. Foi por isso que liguei, tenho uma novidade!

Eu já sei qual é sua novidade, clara.

-Entendo. Conte-me, então! -Tento soar mais animada.

-Estou grávida, amiga! Finalmente, depois de todos esses anos fazendo tratamento para isso, eu e Alexandre teremos nosso primeiro filho! Não te contei assim que soube por que queria ter a certeza, está cem por cento segura e, tive toda uma semana atarefada. Enfim, só pude te contar agora.

-Que felicidade, amiga! Estou muito feliz por você. Graças a Deus você realizará o seu sonho. Agora é só felicidade!

E eu destruída.

Mas apesar disso, estou realmente feliz. Ela merece essa felicidade. Lutou muito para isso.

Eu não devo mais está no meio disso. E assim tomo um decisão. Uma que eu deveria ter tomado há anos.

-Sim. Vai ser tão maravilhoso, Zaza. Já estou imaginando como vai ser tudo. O sexo, o rostinho... Sou uma bobona, não é? - pergunta e escuto um fungado. Está chorando de felicidade.

Sorrio. Ela merece mesmo tudo isso. Menos ele. E isso não posso dizê-la, não teria como.

E talvez até eu mereça algo, mas longe daqui.

-Você não é boba, Clarinha. Apenas está feliz por algo que almejava muito. E eu também tenho uma novidade.

É agora.

-O que? Sabia que sua estranheza tinha algo...

-Eu decidi morar fora, Clara. - solto de uma vez. Não sei exatamente para onde vou, mas irei.- Estarei indo embora.

-Mas...mas logo agora, Zaza? Eu não quero ficar sem você, ainda mais agora...- escuto um barulho de algo caindo. - Meu Deus, você está bem, Alexandre? Amiga, eu retorno a ligação daqui a pouco.

A ligação é finalizada.

Puta que pariu! A ligação estava no alto falante? E o que houve com Alexandre?

Olho para o celular em minhas mãos um tanto chocada. Não queria que ele soubesse agora, não assim. E como você acha que ele iria saber? Não daria para ser por você, afinal, não estão se falando, Zara!

Sinto a presença de alguém na entrada do meu quarto. Olho na direção da mesma e encontro Guilherme me olhando. Ele ainda está aqui?

-O que você ainda está fazendo aqui?- -pergunto, me sentando na cama.

-Você vai embora do Brasil? - ignora minha pergunta.

-Sim.

-Estarei indo com você, Zara. - diz, resoluto.

E eu levanto da cama rapidamente.

Ele não pode está falando sério.