Afetada

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Três anos atrás...

No caminho para o supermercado mais próximo, o ar no carro parece ter esquentado horrores, mesmo com o ar condicionado do mesmo ligado. Sinto que irei começar uma cena de hiperventilação aqui mesmo, encolhidinha nesse banco.

-Sente-se bem, Zara?- Alexandre pergunta, ao que parece, preocupado. Tento controlar minhas reações. O que é quase impossível no momento. Por que toda essa desestabilização?

-Só estou com um pouco de calor, nada demais. - Respondo e o olho rapidamente, já virando o rosto para a janela em seguida.

-Mas o ar está ligado...

-Talvez precise aumentar mais. - sugiro num fio de voz. O que está acontecendo comigo? Nem da pra primeira vez que ele me deu carona fiquei tão afetada assim.

-Está quase no último, Zara. - Ele diz confuso e logo em seguida para o carro no estacionamento do supermercado. - Quer descer e pegar um ar puro ou prefere ficar aqui até eu voltar?

Por que ele está tão comedido? Você queria que ele não estivesse, Zara? Argh!

-Fico por aqui. - respondo e ele se vai.

Meu Deus, eu preciso retomar a minha consciência! Me ajude!

Por que meu corpo parece sempre querer ceder a ele? A esse pecado? Já cansei de repetir pra mim mesma o quanto essa atração é errada, mas o desejo simplesmente não sai de mim, é como se estivesse impregnado no meu ser, como se fosse meu destino cometer esse erro.

Eu sei o que devo fazer, mas não sei se conseguirei...

A porta do carro bate novamente e eu desperto dos meus pensamentos incertos.

-Voltei. Comprei sorvete napolitano, você gosta? - pergunta e percebo que me encara. Respiro fundo e me viro em sua direção.

-Sim, é bom.- seus olhos são os mais lindos que já vi, e agora me encaram fixamente, querendo me desvendar.

-Você não parece normal. - ele diz e se aproxima mais de onde eu estou, tocando levemente meu queixo, com seus dedos.

-Por que realmente não estou. - me afasto do seu toque e ele põe os dedos de volta.

-Qual o problema? - pergunta manso, como se não estivesse havendo nada de errado, como se o clima fosse o mais normal de todos os tempos. Eu explodo.

- Você é o problema.Você e todas as malditas coisas que me disse e me fez passar todos esses dias! - Altero meu tom de voz e empurro sua mão rudemente. Ele arregala os olhos.

-Você poderia ao menos admitir que me quer. Eu fui sincero todos esses dias - ele sussurra, e me encara sério.

-Acontece, que nada disso pode acontecer. Você não deveria ser sincero comigo, deveria ser sincero com Clara e acabar com um casamento, que claramente, não tem cem por cento do seu amor envolvido. - cuspo as palavras rispidamente e viro o rosto novamente.

Ele toca meu braço e eu respiro fundo, para não me afundar de vez para o lugar que esse homem me leva.

-Olhe para mim, Sunflower. Pare de fugir...- diz baixinho no meu ouvido, arrepiando minha pele.

-Por que está assim, tão calmo comparado aos outros dias que nos vimos? - Nem sei como minha voz saiu e muito menos como me virei para olhá-lo. Mas eu fiz.

Ele acaricia meu rosto e eu perco os sentidos. Maldito!

-Eu pensei melhor, e minha forma de abordar o que eu queria não estava sendo uma das melhores, talvez de uma forma mais paciente, consiga fazer com que você me aceite melhor. Eu só preciso de uma chance,Zara, por favor...

-Eu não posso te dar uma chance, quando não há chance para nós. Você é casado, Alexandre, com minha melhor amiga...

Ele me cala com um beijo. Meu corpo incendeia na hora. Minha alma vive.

Eu agarro seus cabelos com força e ele me puxa para junto do seu corpo. Gemo quando ele morde meu lábio inferior e o lambe logo em seguida.

Nossas línguas se remexem juntas, num compasso louco e quente, que nós dois entendemos. É louco, intenso e selvagem.

Ele me solta aos poucos, dando-me leves selinhos, enquanto eu vou afrouxando o aperto no seu cabelo.

-Olha isso...ainda acha que não temos o mínimo de chance de termos mais disso tudo? - sua respiração está acelerada e seus cabelos bagunçados para cima. Lindo pra caralho. - Dì solo sì, il mio girasole.

Ele toca meu rosto mais uma vez. Eu não entendi muito o que ele disse, mas me parece algo suplicante.

Toco seus dedos em cima da minha pele e os tiro, fechando os olhos com força e encarando o vidro da frente do carro.

-Vamos voltar, estão nos esperando.

-Mas...- ele tenta falar, mas não deixo.

-Por favor..

Ele bufa e liga o carro. O caminho de volta é silêncio e cheio de mais pensamentos inadequados da minha parte.

Pensamentos esses, que já rondam minha mente faz tempo e estão mais presentes do que nunca, me ajudando a tomar uma decisão e selar meu destino de vez.

O carro para e eu olho paro a frente da casa. Minha melhor amiga está lá dentro, minha irmã de anos, que sempre foi a melhor pessoa do mundo pra mim. Lá dentro está um cara bom, legal e que tem me feito muito bem em todas as horas que passou ao meu lado. O cara que parece ser o certo.

Mas aqui ao meu lado, está o homem que eu quero. O marido da minha melhor amiga, o erro, o pecado, o desejo desenfreado.

Eu já sei o que eu quero.

-Quando eu for embora, espere trinta minutos e vá até minha casa. - ele me olha espantado e querendo dizer algo, mas eu rapidamente saio do carro.

Eu já tomei minha decisão.

Talvez eu já tivesse tomado ela a muito tempo, só não quis enxergar.

Enxergar a merda de um amor traiçoeiro e mesmo assim, o querer com todas as forças que existem em mim.

solo , il mio girasole=
Só diga que sim, meu girassol

Alguém aí sentiu falta dessa loucura aqui?

Qualquer erro, ajeito logo mais! Beijos! Feliz natal a todos!

30 minutosOnde histórias criam vida. Descubra agora