por que não ela?

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Três anos atrás...

Está perto do horário de almoço e eu não paro um minuto sequer nessa empresa. Estou planejando um novo desfile de peças íntimas para o começo do mês que vem e isso tem levado um bom tempo meu.

Nesses últimos anos que eu me formei tem sido assim, trabalho, trabalho e mais trabalho. Mas eu não penso em tirar férias por agora, eu sinto que eu preciso disso, correr atrás do que eu quero, fazer meu nome na área em que eu trabalho. Sei que já venho sendo reconhecida há algum tempo, mas isso não é tudo. Sei que posso parecer ambiciosa demais, mas poxa, é meu futuro se construindo e eu, sempre, vou querer o melhor para mim.

Saio dos meus devaneios quando meu celular começa a tocar e vibrar loucamente em cima da mesa. É a Clara.

-Clara? - Pergunto um pouco temerosa. Vai que seja o Alexandre atrás da linha outra vez.

-Oi, amiga. Esqueci completamente de te ligar ontem, Alexandre me manteve um pouco ocupada e acabei me desligando do tempo. - Ela fala animada como sempre e eu imagino como ele a manteve ocupada. Mas que merda, Zara, que tipo de pensamentos são esses?

-Ah, Claro, tudo bem. Mas o que você iria me falar?

-Ia perguntar aonde nós vamos almoçar antes de irmos olhar as casas, já que ontem nossa conversa na empresa foi breve.

Solto um suspiro e penso se realmente ainda quero participar disso. Estou um pouco instável no momento e depois de tudo que vem rondando minha mente ultimamente, não sei se eu serei uma boa companhia.

-Sabe, eu estive pensando se é um boa idéia mesmo eu participar disso. Quer dizer, é um momento do casal, escolher um novo lar para os dois e  não que eu vá fazer...

-Não, Zara, não pense assim. Te chamei porque você é minha irmã e sua opinião sempre foi válida para mim. Por favor, vamos! - Ela me interrompe tentando me convencer. Solto um suspiro pesado e pergunto:

-E seu marido, o que acha disso? Ele não falou muita coisa e eu não sei se... - sou interrompida de novo.

-Bobagem, o Alex te adorou. Não precisa ficar pensando essas besteiras. Além do mais, ele me apoia em qualquer coisa e chamar você foi uma delas. -Ela afirma e sei que leva consigo muitos argumentos para que eu me negue a ir.

-Tudo bem, você venceu. Tem um restaurante aqui perto que eu almoço todos os dias, podemos ir lá. Tudo bem para vocês?

-Sim, sim. Passamos ai para irmos juntos. - ela combina por fim.

-Combinado, então. Até mais, Clarinha.

-Tchau, Zaza! - ela exclama e desliga. Clara é definitivamente mais animada do que eu. Ou talvez meu humor esteja um pouco negro esses dias.

                             ***

A hora passou rápido e aqui estou eu, me encaminhado para olhar casas com minha amiga e o marido dela, depois de almoço em que só clara falou a maior parte do tempo. Eu me sinto deslocada perto deles, principalmente dele.

- Estou tão feliz, amiga. Estou sentindo que encontraremos a melhor casa do mundo. Você também está, vida? -Ela interage animada mais uma vez, olhando para o banco de trás onde estou e depois dirigindo o olhar para Alexandre. Eu apenas assinto e os observo, sentada no banco de trás do carro deles.

-Claro, que sim, amore mio. - Ele fala a última frase em italiano e me parece muito agradável aos meus ouvidos escutá-lo falar assim. Eu estou indo mal, muito mal. Mente perversa!

O caminho não é muito longo e logo chegamos até a primeira casa. Ela se encontra em uma parte bem localizada de São Paulo, onde há muitas casas lindas ao redor, inclusive a que estamos entrando nesse momento para olhar.

-Bom dia, casal. Senhorita. - o corretor nos comprimenta quando nos aproximamos da entrada. Ele aparenta ter trinta e poucos anos, cabelos escuros ,olhos da mesma tonalidade e seu corpo me parece muito bom de olhar, definitivamente.

Respondemos e entramos na casa. O corretor, cujo nome descobro ser Guilherme, nos mostra cada cômodo. A casa é realmente linda, tanto por fora quanto por dentro. Clara se afasta um pouco com o marido para explorar mais a casa e Guilherme se aproxima de mim.

-Então, vai morar aqui também? - pergunta simpático, me lançando um sorriso bonito.

-Oh não, estou apenas ajudando na escolha. - solto um sorriso amarelo.

-E o que achou?

-Bem, é uma bela casa, mas grande demais para mim. Digamos que eu goste de algo menor, porém confortável. - digo simpática e ele balança a cabeça, um gesto que indica que entendeu o meu ponto.

-Confesso que penso assim também, casas grandes me deixam um pouco perdido, devo dizer. - Ele coça a cabeça meio sem graça e eu solto uma risada, escutando passos vindo até nós no mesmo instante.

-Então, amiga, o que achou? Nós amamos de verdade. Acho que nem precisaremos olhar outras, não é, amor? -Clara diz e eu olho para os dois, saindo da minha breve interação com o corretor.

-Sim, também gostei. -Alexandre responde um tanto seco demais. Estranho. Ele encara o corretor também.

-A casa é maravilhosa, amiga. Me parece ótima para vocês, apesar de eu não precisar opinar muito nessa questão. - digo e ela balança a cabeça em negativa.

-Já pedi para parar com isso, amiga. Sua opinião é importante para mim, afinal, você sempre vai estar por aqui também. -Ela diz e noto o olhar de Alexandre em cima de mim.

-Tudo bem. - respondo sem graça e logo eles começam uma conversa com o corretor. Olho a hora no meu celular e vejo que já tenho que ir.

-Clarinha, já preciso ir, infelizmente ainda tenho muita coisa para fazer essa tarde. Vou pegar um táxi, não se preocupem comigo.

-Que isso, Zara, nós te trouxemos, nós te levamos de volta. Amor, você pode ir deixá-la e depois voltar? Temos que resolver muitas coisas aqui ainda. - ela pede e ele logo concorda. Por que não ela a me dar a maldita carona?

-Claro, eu volto num instante. Vamos, Zara. - ele me chama e eu me despeço dos dois que ficam, sentindo que essa carona me fará um mal maior ainda.

É só uma carona, Zara, não pira! Bom, é espero que seja mesmo. Afinal, não estou confiando muito em mim, principalmente na minha mente louca.

30 minutosOnde histórias criam vida. Descubra agora