4ª Capítulo.

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Já estava escurecendo quando chamamos Doug para pagar a conta,Chris e eu dividimos a quantia. Assim que tudo foi pago nos despedimos do meu amigo e saímos da lanchonete...

— Foi divertido. — Comento — Temos que marcar outro em breve.

— Claro,estou a sua disposição. — Responde Chris sorridente — Inclusive irei acompanhar o senhor até sua casa.

— Não precisa,nem fica tão longe assim.

— Eu insisto Leny,quero conhecer seu bairro.

— OK então.

Pessoas comuns não costumam passear pelo meu bairro apesar de todos os moradores serem amistosos. Nessa manhã quase não vi ninguém além do Otto e da Deija,mas se Chris quer conhecer o lugar onde moro,por mim,tudo bem.

...pelo caminho ainda tínhamos muito assunto para falar...

— Então Chris,você trabalha? estuda?. — Pergunto — Da última vez que eu perguntei você disse que estava meio enrolado.

— É,bom,no momento ando procurando um emprego,estou disposto a qualquer coisa,mas tem sido difícil ultimamente. — Ele responde — Você trabalha naquela livraria,certo?.

— Sim,a dona do lugar é amiga minha,passe por lá um dia desses.

— Claro que irei. — Chris se agita — E a sua mãe?...você não me disse nada sobre ela.

Eu não falei muito dela em nossas muitas trocas de mensagens,eu sempre a descrevi como alguém simpática e teimosa. Chris é fã de seus livros e nem imagina que sua escritora favorita é minha mãe,por isso quero fazer uma surpresa.

— Quando chegarmos em minha casa você vai conhecer — Concluo.

— Pra que tanto mistério?. — Ele cruza os braços

— Vamos,não seja um estraga surpresas.

Diferente de mim Chris sempre reclamava sobre os pais,eles o tratam com uma certa indiferença,mas isso não quer dizer que se odeiam. Mensagens irritadas e cheias de desabafos,eu sempre tentei transmiti o máximo de positividade a ele...no fim a gente acabava rindo de tudo.

— E o seu...ah sim,deixa pra lá. — Ele queria dizer alguma coisa.

— Você deve estar se perguntando se eu sei onde meu pai está,verdade?. — Comento.

— Pensei em falar,mas não queria entrar no assunto...

— Eu não tenho notícias dele já faz um tempo,ele foi embora quando eu tinha 9 anos. — Explico.

— E você sente falta?.

— Com minha mãe sempre por perto nunca precisei. — Respondo sorrindo.

— Mal posso esperar para conhece-la.

...

Ao chegar em meu bairro apresento alguns dos moradores para Chris,sua reação ao saber sobre as condições de cada um não podia ser diferente...surpresa.

— ...ali mora a Samantha,ela trabalha como modelo e é ativista,já sofreu muito por estar acima do peso,mas hoje em dia se aproveita disso positivamente para ensinar as pessoas a amarem seus corpos. Um pouco mais a frente fica a casa do casal Ned e Fátima,os dois são HIV positivo,eles são cozinheiros em um restaurante italiano...a comida deles é incrível. O vizinho se chama Cleveland,um senhor de idade,ele já teve um tumor na cabeça,isso causou uma deformidade no lado esquerdo de seu rosto. Aquela casa é da família Langerak,o filho mais velho,Max,tem esquizofrenia e pinta as coisas que vê.

...continuamos andando. Logo passamos em frente a casa de mais um conhecido,na varanda vejo aquele rapaz de pele pálida e cabelos castanhos que usava uma roupa toda preta combinando com os óculos escuros...

— Olha,aquele é o D.W. — Aceno para o rapaz — Ele tem autismo e acha que veio de outro planeta.

— D.W?. — Chris pergunta — O que significa?.

— Ninguém sabe,embora eu desconfie que seja Donovan Wilson. — Falo movimentando os ombros — Ele costuma usar sempre essa roupa e ficar em cima das árvores de cabeça para baixo. D.W mora sozinho e não se sabe de onde ele veio e quem são seus pais.

— Nossa...

Apesar de misterioso Donovan não era o único. Muitos consideram esse bairro como amaldiçoado pois os habitantes dele em sua maioria são "diferentes" seja por nascimento,depois de algum acidente ou doença.

...e...talvez...essa suposta maldição também tenha nos dado a força para preencher cada dia problemático com um sorriso...

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(Continua No Próximo Capítulo)

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