03| Azar

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DIA SEGUINTE

21:30 A.M

Isabella Mattos P.O.V

Devem ter jogado alguma maldição em mim, não é possível! Como uma pessoa como eu pode ser tão azarada a esse ponto?

Eu claramente deveria ter me mudado para Portugal quando minha irmã me chamou, mas na época não pareceu uma boa ideia, apesar de que eu ganharia bem mais do que eu ganho aqui sendo secretária de um mauricinho que acha que todas caem aos seus pés, coitado. Mas além disso tudo, é que eu não poderia deixar minha mãe sozinha, não que ela precise da minha ajuda, ela consegue se virar sozinha, tem mais dois filhos bem mais presente que eu e claro, meu pai. Mas só de ter pensado que eu viajaria de avião para outro país e ficaria rodeada de pessoas completamente desconhecidas por mim, me deu ânsia de vômito. Então preferi ficar.

São Paulo é uma cidade movimentada, até já optei por está em Nova York por engano, pois essa cidade parece não dormir de forma alguma, mas a única coisa que difere é eu sair gritando meu português para todos toda santa manhã, a cidade poluída e os carros de polícia correndo para todos os lados. Me questiono por que ter escolhido ficar, deveria ter ido, fazer o que, é a vida.

Concluí a faculdade a cerca de dois anos, depois fui atrás de cursos complementares e idiomas e graças ao meu curso de inglês conheci Gabriela, que me apresentou para Mark Tuan e assim ele me fez sua secretária. Mas tempo depois descobri o quão babaca e irritante ele pode ser. O odeio.

O Tuan é americano, por algum motivo veio parar no Brasil, a pior escolha dele, sabe falar inglês, tailandês e outra língua que não faço a mínima questão de lembrar, ou iriam dizer que eu sou obcecada por ele por saber tantas informações. Ele também abriu essa empresa, na qual trabalho, a pouco tempo, acho que no mesmo período que eu conclui a faculdade, por isso cogito a opção dele ter me contratado primeiro sem antes fazer uma entrevista, estava desesperado.

A empresa foi um sucesso, mais de mil pessoas foram contratadas, dentre eles minha amiga Gabriela e meu amigo Marcos. Somos inseparáveis. Fora os inúmeros contratos que ele fechou e que fez a empresa subir mais rápido que qualquer outra. Trabalhar aqui é um privilégio, mesmo que fosse para limpar o chão.

Não posso negar que está na cama do meu chefe foi um dos benefícios para o meu aumento repentino de salário, apesar de ele negar eu sei bem que isso tem o dedo das nossas transas, que eu fiz a questão de parar a meses atrás e depois disso ele me inferniza. Mark Tuan pode ser pior que o diabo quando quer, ele me faz comer bem mais que o pão que o diabo amassou, ele me faz trabalhar em minha folga.

Isso mesmo, na minha folga!

Agora mesmo, invés de está em casa enrolada em meu edredom quentinho, acompanhada de achocolatado e pipoca, assistindo ao último episódio de dinastia, estou em um aeroporto de aviões particulares, passando frio e fome. Cadê esse bendito homem que não chega.

— Eu vou matá-lo assim que ele pisar no solo brasileiro. — Digo batendo os dentes. Esfrego meus braços, que mesmo coberto com os dois moletom, estão arrepiados e gelados. Começo a cantarolar uma musiquinha que não tem saído da minha cabeça nos últimos dias, Halsey, Now or Never. Uso-a para destrair o frio, mas toda vez que abro a boca, seja o mínimo possível, todo meu corpo se arrepia ainda mais, como se eu tivesse digerido vários cubos de gelo.

Saco meu celular do bolso do moletom e clico no bate-papo de Mark Tuan, o xingando antes mesmo de digitar.

ISABELLA

Irei fazê-lo pagar

Tuan.

O PRÓPRIO DEMÔNIO

Ainda sou seu chefe

Respeite-me, ou será demitida amanhã mesmo

Antes mesmo de colocar o pé na empresa.

Reviro os olhos, bloqueio o celular e o devolvo ao meu bolso.

Deveria tê-lo matado quando tive chance.

Começo a rir comigo mesma ao imaginar o cena de Mark Tuan implorando pela vida, mas paro assim que um forte vento bate em minhas mãos, me fazendo tremer toda.

E deveria ter posto Luvas antes de sair de casa!

Penso, arrependo-me ainda mais por não ter feito, pois achava que o maldito já estaria aqui e só faria conduzi-lo até o hotel e por fim voltar a minha casa. Dou as costas para a pista e penso em voltar ao meu carro, está frio demais, irei congelar. Mas assim que faço e dou alguns passos, ouço um barulho e quando olho para trás vejo um avião pousando na pista, apenas sei que era ele por conta do grande nome em destaque ao lado.

Jeon's Company

Dou um suspiro, fecho o punho e caminho até meu carro, apenas giro a chave no painel e piso no acelerador, dirijo até onde o avião havia pousado e desço, batendo a porta com certa brutalidade.

Aguardo já impaciente a porta do avião sair e o homem descer para finalmente poder ir para minha casa e assiti o último episódio da minha série.

Acordo dos meus devaneios ao ouvir o barulho da porta se abrir e um homem de pele clara, terno e feição de um bebê surgir e descer assim que a escada atinge o chão. Com uma pose ereta, ele desce lentamente e sem mostrar expressão de incômodo algum, mesmo descendo com aquela mala não tão grande mas que parece ser bem pesada. Resmungo algo incompreensível até para mim e avanço dois passos.

— Seja Bem-vindo. — Digo em inglês, assim que ficamos frente a frente. Forço um sorriso e nada ele diz, apenas faz uma curva e enfia as mãos no bolso. — Como pode ser tão rude quando tenho que vir pegá-lo em meu dia de folga. — Murmuro em português, puxando de suas mãos a mala e a colocando no porta-malas do meu carro. — Por aqui. — Dito em inglês e ele assente. Dou a volta no carro e abro a porta de trás, mas ele intervém, abre e entra no banco ao lado do meu.

Que mal educado.

Fecho o punho, suspiro e vou até banco do motorista.

Calma Isa, calma! Ele é um investidor da empresa e você deve tratá-lo com respeito.

Ele retira o celular do bolso e em seguida o estica até mim, mostrando-me o endereço de qual hotel ficará.

— Ok! — Suspiro e prendo a respiração o mesmo instante, perplexa. — Pode me mostrar o endereço novamente? — Peço, piscando os olhos repetitivamente. Ele assente, digita algo e me mostra.

Os céus deve está de complô contra mim, não pode ser!

— Parece que vamos para o mesmo destino. — Digo forçando a voz mais gentil e um sorriso mais forçado do mundo. Ele franze a testa e eu piso no acelerador.

Entre Seus LençóisOnde histórias criam vida. Descubra agora