04| Estraga folgas

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Isabella Mattos P.O.V

Achei, jurei, que esse homem seria mais animado ou falador, que conversaria até os cotovelos, mas não ele está com a boca fechada desde que entrou do carro, melhor, desde que desceu do avião e vez ou outra observa as ruas de São Paulo. Como se fosse algo de outro mundo.

Suspiro e resmungo xingamentos pela milionésima vez, ele é igual a Mark Tuan, sente-se superior a todos. Cansada por este silêncio perturbador, ergo a mão até chegar ao painel, colocarei uma boa música, a mais animada que tiver. Mas quando iria apertar o play, o cara segura minha mão, impedindo-me de ouvir.

— Não faça barulho, estou com uma dor de cabeça terrível. — Ele diz calmamente, em inglês, largando minha mão em seguida. Perplexa, apenas assenti e o xinguei Inaudível. Quando paro por causa do sinal vermelho, me inclino um pouco, o suficiente para chegar até o porta luvas e tirar de lá uma cartela de comprimidos. Me inclino para trás e pego minha bolsa, dela tiro uma garrafa de alguma que sempre costumo andar e o entrego. Ele me olha e arqueia a sobrancelha.

— Se sentirá melhor depois que beber. — Piso no acelerador assim que o sinal fica verde.

— Obrigada. — Ele diz depois de destacar um comprimido e depois engoli-lo junto a um gole generoso de água. Forço um sorriso e reviro os olhos. Como é possível eu ter pego um ranço tão profundo por um homem que nem cheguei a tocar vinte palavras. — Aliás — Ele diz um pouco mais alto, chamando minha atenção. — Por que está tão irritada? — Respiro fundo e aperto o volante.

— Por que você estragou meu dia de folga, Imbécil. — Digo em português e ele franze a testa. — Hoje era minha folga, depois de um mês. — Digo com irônia. Ele forma um "o" com a boca e depois encosta a cabeça em um banco.

— Me desculpe! — Ele diz quase Inaudível. — Se quiser pode me deixar em um ponto de táxi que de lá irei para o hotel. — Ele me olha, após eu forçar uma risada.

— Mark Tuan me mataria. — Respiro fundo e o olho. — Ficará no mesmo hotel que eu moro, então não é um bicho de sete cabeças eu levá-lo até lá. — Dou de ombros e volto a olhar na estrada.

[...]

Quando chegamos no estacionamento do prédio, ele tirou sua mala do meu porta-malas e me seguiu até a recepção.

— Qual seu nome? — Pergunto séria e ele me olha, com um olhar intimidador. — Er.. para saber em qual quarto você irá ficar, confirmar a reserva. — Digo sem jeito, em inglês.

— Jeon JungKook. — Assinto e viro para a recepcionista.

— Qual o quarto de Jung Junkuk? — Digo, tendo toda a certeza de que pronunciei errado.

— Licença! — Ele intervém. — Gostaria de ficar com a cobertura, fiz uma reserva ontem por volta das 20:00 horas. — A mulher assente e tecla no computador.

— Me desculpe, mas não há nenhuma reserva nesse nome. — Ela diz em português e eu traduzo para ele. No mesmo estante ele arregala os olhos e leva as mãos até o balcão.

— Tem certeza? — Ele pergunta e ela assente. Espera, se ela entende inglês por que me fez traduzir para ele? — Juro que tinha feito a reserva nesse hotel. — Ele saca o celular do bolso e depois fica mexendo nele.

— Se certificou de apertar em "concluir"? — Pergunto, pois eu já passei por maus bocados por conta disso.

— Sim! Ou não.. — Ele faz uma expressão confusa e depois volta a olhar o celular. — Não! — Ele estala os lábios e me mostra o celular, que está na pasta de preenchimento de dados para ficar no hotel. — Se eu concluir, conseguirei ficar nesse hotel? — Ele pergunta para a recepcionista.

— Sim, mas não essa noite. — Ela diz e volta a fixar o olhar na tela do computador. Ele faz a mesma coisa, clica em algo e depois o guarda.

— Obrigada pela carona, pagarei por uma noite em qualquer hotel dessa vizinhança. — Ele diz e me dá as costas.

— Espere! — O chamo. — No meu apartamento tem um quarto vago, se quiser ficar. São Paulo é perigo e se verem você todo arrumado assim será assaltado assim que tirar os pés daqui. — Digo, arrependo-me em seguida, por ajudar esse estraga folgas.

— O que me garante que você não me matará? — Ele enfia as mãos nos bolsos e arquea a testa, sorrio.

— Quem me garante que você não fará isso? — Arqueio a sobrancelha. — E eu tenho pavor de sangue, então fique despreocupado. — Desfaço a pose de durona e reviro os olhos. — Agora vamos, são quase onze, os elevadores parará de funcionar daqui a pouco e eu não quero subir as escadas. — Lhe dou as costas e vou até o elevador.

[...]

— Esse é o quarto, simples, mas aconchegante. — Digo abrindo a porta, mostrando o cômodo composto por uma cama de casal, um frigobar, um closet, uma cômoda, dois criados mudos, com um abajur de cada lado. — No frigobar tem algumas coisas, não estão vencidas, me certifco disso a cada três dias. No closet há toalhas limpas e produtos higiênicos. Fique a vontade. — Espremo os lábios e saio da sua frente, mas ele segura meu braço antes mesmo que eu pudesse entrar em meu quarto, que fica de frente ao seu.

— Por que está me ajudando? Sou um estranho para você, que a fez perder, provavelmente uma noite divertida de folga. — Ele diz educadamente, com uma expressão doce.

— Porque eu zelo por meu emprego, se o deixasse dormir em qualquer hotel, correndo o risco de ser assaltado ou até mesmo morto, Mark Tuan me mataria, primeiro me demitiria e depois me demitiria. — Ele sorri timidamente e depois assente. — Tenha uma boa noite. — Forço um sorriso e entro em meu quarto, me encosto na estrutura, e logo ouço duas batidas. Reviro os olhos, suspiro e me viro para abrir e quando faço, lá está ele, sem o blazer, apenas de blusa e calça social. Quando ele passou a ser tão sexy? E como eu não reparei em todo esse físico coberto pela camisa social de tecido fino.

— Não me disse onde fica o banheiro. — Ele sorri sem jeito e eu estalo os lábios.

— Desculpe. O banheiro fica no fim do corredor. — Aponto para lá e ele segue meu dedo, logo sorrir e assente. Volto a fechar a porta, me afasto e jogo-me na cama.

Estou morta.

Entre Seus LençóisOnde histórias criam vida. Descubra agora