23| Coréia do Sul part. 1

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Isabella Mattos P.O.V

Trabalhar fora. Parece até piada ou um sonho impossível de alcançar – parece pensamentos de uma pessoa que não tem os pés no chão –, no entanto, a proposta está em minha frente nesse exato momento, é quase impossível de acreditar.

Sempre quis me aventurar fora do país, acho que esse deve ser ou deve ter sido do sonho de alguém em algum momento. Mesmo a minha condição financeira me permitisse, os problemas me consumiram cedo demais e eu fui incapaz de realizá-lo.

Agora, com papéis, passagem, tudo de necessário para viajar na minha frente, é quase que inacreditável de acreditar. Parece uma brincadeira de mau gosto, mas não, é real.

— Eu tenho uma filial na Coreia do Sul que não vai bem. Você é boa com contabilidade, sei que se você for a filial vai ser reerguer novamente, sem correr o risco de cair nas mãos da empresa adversária e até você irá lucrar com isso. Além de que você saber ser lide de equipe, a nossa de lá precisa disso, alguém para guia-los — Mark Tuan jogou mais alguns papéis em uma pasta sobre a mesa e cruzou os braços, encostando-se na mesa enquanto seu olhar sério era direcionado a mim. Eu nunca tinha o visto tão sério. — Como você não sabe o idioma, precisará estudar. Você sabe conversar em inglês perfeitamente, conseguirá se virar, no entanto, precisará do coreano para sobreviver. Se você aceitar ir, lhe pagarei um curso completo lá mesmo e além do seu salário, você ganhará um dinheiro a mais para se manter, se você quiser. Lhe darei acomodações, para que tenha privacidade, um bom apartamento no melhor edifício e bairro, tudo custeado pela minha empresa. No fim do curso, você se tornará oficialmente a representante da filial coreana. Em outras palavras, a presidente.

Peguei os papéis e verifiquei. Eram tantas palavras grifadas que eu não sabia por onde começar ler e questionar. Tudo ainda parecia surreal.

— Estão listadas aí as universidades que oferecem o curso de coreano. E apartamentos de cada corretora de imóveis, você pode levar para casa, pesquisar e em duas semanas me dá a resposta. — Ele afastou-se da mesa e sentou-se em minha frente, agora com o olhar mais sério que antes. — Emprego aqui não está fácil, Isa. Sei que ainda está desempregada e eu eu sinto muito por ter sido um completo babaca com você. Não viu implorar para você ficar, seria ridículo depois de tudo que eu fiz. Então deixe-me apenas ajudá-la para ao menos compensar tudo que eu lhe fiz. Eu usarei todos os meus métodos para que você possa sorrir novamente e um dia, quem sabe, me perdoar.

As palavras de Tuan pareciam sinceras e meu coração vacilou. No entanto, eu não iria me permitir cair em seu jogos de palavras e me machucar novamente. Respirei fundo e recolhi os papéis.

— É uma boa proposta. Eu aceito, porém ainda, vou precisar das suas semanas para revisar isso, sabe, para saber qual é o mais caro.

— Você não vai ter dó do meu bolão né? — Ele espremeu os lábios.

— Não mesmo — me coloquei em pé. — Vou conversar com meus pais e me despedir de todos. Nos vemos em duas semanas. — Caminhei até a porta. — Ah, vou querer uma grana adianta para comprar uma roupas e outras coisas para levar. Como não tenho trabalho, estou zerada. 

— E o seu apartamento? — Ele franziu a testa.

— Não se preocupe, vou desocupá-lo em duas semanas. Bye! — Bati a porta, me encostei na mesma e respirei fundo. Eu devo está ficando louca.

──┈⊰᯽⊱┈──

Cheguei em casa coloquei a papelada e a bolsa sobre o centro de mesa, logo depois me joguei-me sobre o sofá, extremamente cansada do dia cansativo. Fisicamente e mentalmente.

Respirei fundo e olhei os papéis, fechei os olhos com força, tentando me livrar da tentação de me submeter a olhá-los agora, já que estou tão cansada. No entanto, a curiosidade grita alto em meu ouvido e eu não resisto. Levanto-me e vou direto para o banheiro e depois de aliviada retorno a sala, com  toalha em volta do pescoço.

O primeiro grupo de papéis eram da lista de universidades que ofereciam cursos de coreano, o preço e o que cada uma oferecia. A olhei cautelosamente, mesmo queva lista fosse longa e na metade meus olhos já ardessem. No fim, sublinhei a Yonsei University e a Seoul National University. Pesquisei no google e busquei por vídeo e entre a SKY, as duas eram as mais bem faladas e a Yonsei bem mais cara.

Em seguida, peguei o primeiro grupo de papéis de uma corretora de imóveis do quão não sabia pronunciar o nome. Havia apartamento se todos os tamanhos, de gostos variados. Deixei as páginas marcadas daqueles que me agradaram e que, já convertido para o real, tinham até um valor considerável.

Depois de olhar tudo, já havia decidido tudo. Agora tinha que me organizar, falar com o síndico sobre a minha saída, me despedir dos meus amigos e o mais importante: falar sobre a oportunidade que me surgiu para a minha família.

Reuni tudo e o guardei em um canto da estante e me direcionei para a cozinha logo depois, no entanto, a campainha foi tocada no instante em que eu abri a geladeira. Suspirei e fui atender, me surpreendendo com Gabriela. Fazia tempo que eu não havia, devido minha saída da empresa, ela mal tem tempo para respirar.

— O quê houve? Eu não consegui vê-la depois que saiu da sala do Tuan. — Ela entrou no apartamento em passos rápidos, se desfazendo dos saltos e a bolsa. — Ele a implorou para voltar para a empresa ou para ele? — Ri sem mostrar os dentes e neguei. Fechei a porta e fui a cozinha, peguei alguma morangos e fui para a sala.

— Bem, quase isso. — Peguei um morango e coloquei na boca. — Ele me ofereceu uma oportunidade. Boa até.

— Qual?

— Trabalhar fora. Vou tornar-me representante de uma das filiais de Mark Tuan. — Gabriela abriu a boca e ficou sem reação, parando no meio do caminho o morango que levava para a boca.

— Qual? — Ela perguntou novamente.

— Na Coreia do Sul.

──┈⊰᯽⊱┈──

As duas semanas não haviam passado completamente, mas eu estava ansiosa e precisava entregar tudo a Tuan o mais urgentemente possível. Eu já havia conversado com a minha família e bem, como sempre, todos apoiaram minha decisão, no entanto, pude perceber o tom de voz da minha mãe de preocupação em relação a minha saúde mental, já que eu não estava completamente bem mesmo alguns anos depois. Mas assegurei a ela que eu ficaria bem, que lá eu buscaria por um psicólogo assim que chegasse e continuaria com as consultas.

Gabriela preparou uma despedida em minha casa. Nada muito grande, eu, ela e alguns amigos com quais trabalhava. Eu estava ansiosa, se eu não fosse agora, não iria mais.

Joguei os papéis sobre a mesa de Tuan e imediatamente ele me olhou, assutado, já que sua atenção estava toda na tela do computador. Me sentei no sofá próximo ali e logo ele me seguiu, trazendo consigo os papéis enquanto o olhava.

— Você não levou leve mesmo — ele tirou os óculos e colocou os papéis de lado.

— Quando eu vou? — Fui diretamente ao assunto.

Entre Seus LençóisOnde histórias criam vida. Descubra agora