Capítulo 2

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'Você causou isso, você me fez...' O som da porta se abrindo faz com que meus olhos se desviem do livro. Encontro um homem parado me fitando de forma estranha, acho que era por isso que eu não deveria ter ficado sozinha, seu olhar está um tanto surpreso, e assustado. 

-Desculpe, não sabia que o quarto tava ocupado. -Diz sem se mover, seus cabelos castanhos na altura dos ombros, olhos azulados e a barba por fazer me indicam que o mesmo provavelmente não está no fim do ensino médio.

-Tudo bem, tá fugindo de alguém? 

-Com toda certeza. -Responde relaxando os ombros. -E você veio ler no lugar mais barulhento da cidade? -Pergunta se aproximando e se sentando na beirada da cama. 

-Não, vim obrigada e fugi pra ler, é completamente diferente. -Falo fazendo-o sorrir. 

-Ótimo, ambos estamos fugindo... E qual o seu nome, fugitiva? 

-Laila, e o seu? 

-Rafael, é um prazer, Laila. 

-É todo meu.

-E que curso você faz? -Pergunta me faazendo arregalar os olhos. 

-Ahn... 

-É de menor? 

-O que você considera de menor? Bem, perto de alguém que mede um e cinquenta eu sou muito de maior, mas perto de alguém com um e oitenta eu sou a própria formiga em pessoa. 

-Tem dezessete? 

-É. -Respondo frustrada, eu contei a história da formiga, poxa. -E você?

-Vinte, mas tranquilo. Não vou te dedurar, se você não me entregar. 

-É só a gente ficar em silêncio e ninguém nos acha. -Respondo vendo-o sorrir. 

Vejo-o abrir a boca para dizer algo, porém uma batida na porta o faz fechá-la no mesmo instante. 

-Querido, Rafaaaa. -Uma voz enjoada ecoa por detrás da mesma. 

-Acho que te encontraram. -Sussurro. 

-Não por muito tempo. Vem. -Sussurra pegando minha mão e me guiando para a varanda. 

-Minha mãe ma mataria agora. 

-Por que? 

-Tô falando e andando com um estranho. 

-Não sou estranho, sou o Rafael poxa. -Diz me fazendo rir. 

-Pra onde a gente vai? 

-Telhado. -Fala olhando pra cima. -Vem, eu te ajudo. 

Com seu auxílio e apoiando no muro consigo subir até o telhado que tem uma área mais plana, sento-me ali. Rafael sobe com maior agilidade. 

-Por que tá fugindo da menina? 

-Ex-namorada. -Responde dando de ombros.

 Assinto levantando meu olhar para o horizonte, realmente deslumbrante, as estrelas tomam o céu quase que por completo, além da lua cheia que nos permite experimentar uma pintura única. 

-Gosta de observar o céu? -A voz do homem ao meu lado me tira de meus devaneios. 

-Amo, é uma das minhas paixões. 

-Eu também, esse sempre foi meu esconderijo.

-Você não se sente pequeno nesta vastidão chamada universo? -Pergunto agora fitando-o. 

-Acho que é quase impossível não se sentir pequeno em algum momento da vida. Mas não, na verdade me acho bem importante. -Responde me fazendo rir. -O que foi? 

-Bem modesto, não? -Ele sorri. 

-É que, eu entendi que a vida seria como eu a visse, então tenho um olhar positivo sobre ela, você não? 

Suspirei sem saber muito como responder. 

-Eu não sei. 

Desvio meu olhar do seu voltando-me para a paisagem. Rafael parece compreender o fato de eu simplesmente não ter resposta para tal questionamento, então se cala, apenas apreciando a bela paisagem comigo. 

-Então você é o dono da casa. -Falo após um tempo. 

-Sim, e por ocasião você fugiu para o meu quarto. 

Sorrio. 

-Que coincidência. Você toca? 

-Sim, guitarra. Como sabe? 

-Antes de você entrar percebi a capa de um violão no chão. 

-Aprendi a tocar quando tinha uns dez anos, era isso ou entrar pro time de basquete. -Diz, e tira um pouco do cabelo que estava em sua bochecha devido a brisa. 

Um pensamento ecoou por minha mente e foi impossivel segurar o riso.

-O que foi? -Ele perguntou enquanto tentava ao máximo controlar o som da minha risada. 

-Nada, é besteira. -Digo sentindo-me mais calma. 

-Besteira que te fez chorar de rir?

-É que eu imaginei que seria muito fácil com você fazer aquele truque, que vocês homens costumam usar, para conquistar as mulheres de colocar a mecha do cabelo atrás da orelha da menina pra se aproximar. -Falo fazendo-o rir. 

-Realmente, um bom motivo. E, você pensou em usar isso? 

Meus olhos se desviam dos seus e retornam a paisagem. 

-Não, eu ao menos sei flertar, então se a conversa ficar estranha e desconfortável é porque estou te paquerando. 

-Então é pena me sentir confortável com você.

Fito-o, seu olhar está fixo ao meu. Pirragueio. 

-Acho que deu minha hora, além de que sua ex não tá mais incomodando. 

-Tá, eu te ajudo. 

Com seu auxilio consigo descer do telhado ao seu lado. Caminhamos em direção a porta, abro-a. 

-Valeu pela distração. -Ele diz enquanto caminhamos de volta para a origem da música quase ensurdecedora. O cheiro de bebida e o ar abafado indicam que o estado da grande parte das pessoas não é dos melhores. 

-De nada, e boa sorte aí pra arrumar essa bagunça. -Falo reparando nos copos, papéis e algumas comidas espalhadas pelo chão. 

-Essa parte aí não é tão animadora, mas como a ideia da festa não foi minha, eu não limpo. 

Abro a boca para dizer algo, porém ouço alguém me chamar. Viro-me. 

-Estava te procurando. -Allan diz se aproximando. -Vejo que conheceu o Rafael. 

-É, você meio que me indicou o quarto dele. 

-Porque sabia que estaria vazio e que não corria o risco dele estar bebado. Vamos? 

Assinto. Me despeço de Rafael e passo a seguir Allan desviando das pessoas no caminho.

Quase Um clichê perfeito...Onde histórias criam vida. Descubra agora