Capítulo 5

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Chegamos à uma rocha onde há uma abertura perfeita das árvores que nos permite fitar o céu. Há também um telescopio. 

-Isso é seu? 

-Na verdade é do lugar, eu disse que era um lugar próprio pra se ver um eclipse. -Diz me auxiliando a subir nesta rocha. 

-Obrigada. -Falo sentando-me ao seu lado. 

Fito o local ao meu redor incrivelmente iluminado pela luz natural da lua e das estrelas, meu olhar recai sobre o homem ao meu lado, seus lábios grossos praticamente chamam meu olhar, e me questiono como desviar meus olhos do mesmo. Seus olhos castanhos e traços suaves chamam atenção onde quer que passe, isso tenho certeza. 

Pisco, desviando meu olhar dele, daqui a pouco ele vai pedir água pelo tanto que estou o secando. Alguém me ajuda!

-É filha única? 

-Sou, e você? 

-Tenho um irmão  

-Qual a idade dele? 

-Sua idade.

-Mais velho tem fama de ser bem mimado. 

-Filha única também. -Meu riso ecoa. 

-Então, estamos quites? -Questiono fitando-o. 

-Pelo visto sim. 

Meu olhar se desvia do seu para sua boca, o mesmo passa lentamente sua língua por seus lábios. Pirragueio. 

-O eclipse, né? A gente veio ver. -Falo olhando para o céu. 

-É, mas acho que encontrei uma visão mais bela. -Sussurra. Torno a fitá-lo e o mesmo tem um sorriso nos lábios. 

-Me chamou pra sair por que o Allan pediu? -Pergunto. 

-Não, se ele pedisse iria te levar em um lugar bem caro, afinal ele quem pagaria.-Responde me fazendo rir. 

-Parece justo. 

-Te chamei pra sair porque te achei interessante, e pensei que seria legal. 

Desvio meu olhar novamente para o céu encontrando o espetáculo que viemos ver, a lua estava parcialmente escondida. 

-É  perfeito, não? 

-Sim, é incrível. -Falo sem conseguir desviar os olhos do céu. -Parece ter sido pintado à mão. 

-Bem, eu acredito que foi. 

-Como assim? 

-Bem o céu é uma tela em branco, todo amanhecer e anoitecer é uma pintura diferente, a gente que não sabe apreciar a obra do maior Pintor do universo. 

Respiro fundo apreciando sua forma de ver e admirar a vida, uma forma diferente de se ver, contudo uma forma única. Gostaria de prestar atenção em detalhes como esse.

Fito-o, o mesmo tem um sorriso de lado e os olhos fixos ao meu. Não sei dizer em que momento ao certo nos aproximamos, contudo estamos tão próximos ao ponto de sentir sua respiração contra meus lábios. Uma mecha de seu cabelo se solta do coque, quase que por impulso a coloco atrás de sua orelha e o seu riso preenche todo e qualquer vazio do local. 

-A gente tava no clima, Laila e você faz isso! -Diz me fazendo rir. 

-Eu disse que dava pra usar o truque do cabelo. -Falo também rindo. 

Aos poucos sua expressão se torna séria, uma de suas mãos se encaixa em meu maxilar, nos aproximamos, e nossos lábios se unem. 

Nos desvinculamos. Droga, ele beija muito bem.

-Vem, vamos apreciar o eclipse. -Diz me puxando para seu abraço, e pela primeira vez na vida eu simplesmente vivi o momento sem pensar no que viria amanhã, ou se ele viria.

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Voltar ao normal não foi fácil, na verdade eu diria que foi cruel... Nova Jersey parecia estranha, e mesmo três meses depois do fim do verão ainda me sinto diferente, estranha. Como se as coisas não fossem mais se encaixar. os sentimentos vividos por mim nas últimas férias me vem a tona, a forma com que me senti livre fez com que me apaixonasse pela vida ainda mais, contudo ao retornar tudo mudou.

-Vai se atrasar de novo. -A voz da minha madrasta ecoa pela cozinha. 

-Não vou não. -Falo pegando uma maçã. -Tchau! -Falo jogando um beijo no ar enquanto saio de casa.

A brisa do outono bate contra minha pele e me arrependo de não ter pego um casaco. A escola não é tão longe da minha casa, então em dez minutos estou adentrando ao corredor de armários e popularidade. Claro que estou no lugar errado, mas isso não vem ao caso.

-E aí, Laila? - A voz de Aline faz com que interrompa meus passos para esperá-la.

-E aí?-Falo assim que a mesma chega ao meu lado e então retomo a caminhada.

-Animada pra aula do Harley? -Faço uma careta. -Ele é mó bonito!

-Sabe que é altamente errado se envolver com o professor?

-Não se eu me envolver na minha mente.-Responde me fazendo rir. Aline é uma das poucas amigas que realmente considero, nos conhecemos desde sempre, além de poder contar com ela pra tudo. Ela tem minha altura, olhos esverdeados, cabelos ruivos e algumas sardinhas espelhadas pela pele morena.

-Você é doida! -Falo abrindo a porta da tão conhecida sala.

-E você é a racional, por isso somos amigas. -Diz caminhando até seu lugar, no meio da sala.

-Festa no O'connor hoje!- Uma voz masculina ecoa pela sala, viro me deparando com Josh Riggeto com seu porte atlético, olhos azuis e cabelos castanhos claros sendo quase que levado pela pequena aglomeração de pessoas ao seu lado. 

-Você vai? 

-A festa? -Aline assente. -Não, já basta suportar eles na escola. 

-Ah, mas ia ser legal. A gente tá no último ano e você meio que tem um abismo pelo Brian, não acha que tá na hora de tentar? 

Brian, realmente há um tempo atrás ele realmente era minha paixão secreta desde... Sempre? Mas, algumas coisas mudaram desde o último verão, e por mais importável que tudo o que eu vivi lá venha se repetir ainda sinto algo. É estranho, pois poucas foram as vezes que eu pude ser realmente eu, sem restrições... Com Rafael foi uma das vezes, e retornar ao mundo real não foi tão fácil, não tem sido fácil. 

Mas pelo menos o Brian está aqui, certo? 

-Você tá com a cara estranha de quando começa a viajar. Sua mãe ficaria muito triste de saber que não tá vivendo. 

-Ela não morreu, Aline. 

-Mas isso não muda o fato de que ela ficaria muito triste em ver que a menininha dela não tá de divertindo. 

-Ela tem problemas demais, esse só vai ser mais um. 

-Nós vamos, seu pai vai ficar contente de você arrumar um namorado no último ano e vocês irem pra faculdade dos sonhos juntos. 

Respiro fundo sabendo o quão difícil é tirar algo da cabeça dela, e talvez ela tenha razão eu posso ir à uma festa sem preocupações, não? 

-Tá, tá. A gente vai, mas não se empolga tanto. 

O gritinho dado por ela me fez ver que a frase dita por mim não surtiu nenhum efeito. Antes que eu tivesse a chance de dizer mais alguma coisa o professor Harley adentra dando inicio a aula de geometria. 

Quase Um clichê perfeito...Onde histórias criam vida. Descubra agora