Capítulo 4

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Eu poderiam mandar uma mensagem. Eu queria mandar uma mensagem. Mas eu deveria mandar uma mensagem? 

Não sei. 

Quer dizer, aquilo foi um flerte? Foi um flerte, não é? Ah, droga. Sou péssima nisso, é mais fácil ler sobre isso do que realmente agir. Meu celular vibra me atraindo a atenção. 

Uma mensagem. Desbloqueio. 

De: .....

Para: Laila. 

" Poxa, você não leu o script? Quando um cara usa seu celular pra ligar pra ele e pede pra fazer isso, não se demora tantas horas... " 

Sua mensagem me fez rir. 

De: Laila. 

Para: Rafael. 

"Não me entregaram o script, desculpa. Mas então vamos lá, oiii, tudo bem?"

De: Rafael. 

Para: Laila. 

"Estou ótimo, e você, fugitiva?"

De: Laila. 

Para: Rafael. 

"Muito bem,  na verdade pensando se eu deveria ir observar o céu. Soube que hj terá um eclipse. "

Pressiono enviar, e espero por uma mensagem de resposta, contudo o visor de meu celular indica uma chamada. O som do toque ecoa confirmando-a. 

-Hm, oi. 

-A hora que eu li eclipse soube que era sério demais pra conversar por mensagem. -Ouço a voz do Rafael, sua fala me faz rir. 

-Claro, até porque entre politica e eclipse temos um campeão no quesito seriedade. 

-O eclipse, claro. Isso não deveria ao menos ser discutido. -Responde me fazendo rir. -O som da sua risada é legal, diferente. 

-É uma forma fofa de dizer que é parte da minha estranheza? 

-Bem, não disse isso, mas ser estranho é  bom! Tá afim de ver o eclipse? 

-Tô, pior que eu tô. -Ouço-o rir. 

-Beleza, em dez minutos tô aí pra te levar à um lugar especial. 

-Aí já me dá um pouco de medo. 

-Eu sou o mochinho dessa história. 

-Ah, estamos numa história? 

-Acho que todos estamos, em uma intitulada "vida". Já já tô aí, beijo. -Com essa frase a chamada é encerrada. 

-Laila. -A voz de Allan soa na porta me fazendo pular devido ao susto. 

-Vai assustar sua mãe, Allan! 

-Foi mal. -Diz sorrindo. -É que, eu tava pensando em fazer algo especial pra Paula, quer dizer, ela ficou em recuperação em algumas matérias e tá bem focada em passar nas provas... Achei interessante distraí-la. 

-Acho uma ótima ideia. Sabe aquele lance de sermos irmãos? -Ele assente. -Isso dura até você magoar ela! -Seu riso preenche o ambiente. 

-Eu queria saber se você não fica triste de sairmos só nós dois. -Desvio meu olhar do seu. 

-Claro que sim, vou chorar a noite toda. Mas pelo menos vou chorar acompanhada pelo seu amigo. 

-O que? 

-Ele me chamou pra ver o eclipse, e eu aceitei. -Vejo-o assentir, um tanto surpreso. -Ele é confiável? 

-O Rafael é um dos homens mais decentes que conhece, se é isso que quer saber. Conheço ele há uns dez anos e sempre pude contar com ele. Pode confiar. 

Assenti. 

-Mas se mesmo assim não se sentir confortável, ou algo do tipo, pode me ligar. Ao contrário de você, se sua prima e eu terminarmos ainda serei seu irmão. -Diz se aproximando ainda mais. Abraço-o. 

-Obrigada, Allan. 

-Valeu, e se divirta Laila. Você só tem dezessete anos, não seja tão rigorosa consigo mesma. 

Assinto sabendo que sua fala provavelmente não surtirá efeito, contudo ele não precisa saber disso, certo... Allan me deixa só no meu quarto, e o som do toque do meu celular ecoa. Atendo. 

-Já tô aqui na frente. 

-Beleza, já tô descendo. -Encerro a chamada. Visto meu tênis all star, vejo meu reflexo mais uma vez no espelho, um bom e velho jeans rasgado e uma camisa do Game of Trones, melhor impossível, certo? 

Desço as escadas encontrando minha prima com seu namorado sentados na sala. 

-Hm, eu vou sair com o Rafa e... 

-Rafa? -Paula me interrompe. -Estão bem íntimos, heim! 

-É só que encurta o tempo da fala... Enfim, você tem o aplicativo onde nos rastreamos, por mais que Allan diz que ele é confiável. 

-Ele é, meu bem. Acha que eu ia deixar minha prima mais nova sair com um cara que não é confiável? 

-Tá, amo vocês. -Falo terminando a caminhada até a porta. 

-Juízo!! -Ouço minha prima gritar. 

-É o que eu mais tenho. 

Ou a falta de coragem, mas isso não vem ao caso. 

Vejo Rafael dentro de seu jipe com um sorriso descontraído. Algo que não imaginei acontece, ele sai do carro, dá a volta no mesmo e abre a porta para mim. 

-Obrigada. -Agradeço sorrindo. 

Com um sorriso ele fecha a porta após adentrar. Vejo-o contornar o carro novamente e entrar no lado do motorista. 

-Já viu um  eclipse antes? -Pergunta acelerando o carro. 

-Hm, uma vez vi um, mas não sabia que era um... Isso conta? -Ouço-o rir. 

-Eu acho que conta. Mas hoje você vai ver um, sabendo que tá vendo um, vai ser mágico.-Fala me fazendo rir. 

-Já viu alguns? 

-Todos que tenho a oportunidade. Sabe, eu tenho uma vibe de humanas, mesmo sendo de exatas. Aliás, você tem preferencia por alguma ciência?

-Gosto bastante das biológicas e humanas, mas não sei ainda o que quero fazer. 

-Eu sempre me dei muito bem com  números, então só fui. 

Sorrio, observo a paisagem distintamente moderna da cidade. Após uns trinta minutos de conversa chegamos à um lugar afastado, parece uma floresta. Descemos do carro, e lado a lado caminhamos pela trilha que nos permite adentrar entre as árvores. 

-É, o caminho nem tá assustando, não, imagina! -Falo fazendo-o rir. 

-Na cidade não dá pra ver direito, e levando em consideração que começa daqui uns quinze minutos conseguiremos chegar e pegar todo o espetáculo. -Disse sorrindo. Assenti. 










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