Vinte horas antes da tempestade...
Django estava encostado na porta da loja a menos de dois minutos, com os braços cruzados frente ao peito, esperando para alimentar as fantasias com alguma universitária que por ventura passasse pela calçada, mas a única coisa que viu foi o carteiro vindo embaixo do leve sol das cinco da tarde.
— Fala, Seu Carlos!
— O quê tu me alega, Negão?
O carteiro parou na frente da loja, vasculhando a bolsa de cartas.
— Teus, são esses.
— Que jeito, homem?! Deus que te livre, aqui não tem nada meu.
O carteiro sorriu, balançando a cabeça e seguiu caminho com um aceno animado. Assim que o homem desapareceu na esquina, Django caminhou para dentro da loja folhando a correspondência em suas mãos, entrou no escritório de cabeça baixa, falando sem parar.
— Henrique, Já fiz tudo o que tu pediu. Limpei as armas, organizei o estoque, conferi a entrega e deixei as notas no caixa, não sei se tu viu. Tava na lo...
— Django. – Interrompeu.
O pequeno homem levantou a cabeça e viu um negro colossal de barba por fazer sentado frente a seu chefe. Os olhos do homem trabalharam como um scanner sobre o corpo de Django. Era o tipo de olhar treinado que um policial teria. O coturno bico de aço nos pés do homem, não chamou tanta atenção quanto à corrente de ouro pendurada em seu pescoço. Um pequeno crucifixo pendulava de um dos elos daquela corrente, quase desaparecendo em meio ao largo peitoral.
— Django, esse é o investigador Claudio. Ele quer ter uma prosa contigo.
A voz do chefe soou preocupada e repreensiva ao mesmo tempo. Django acenou com a cabeça, mas manteve o silêncio. A cabeça do pequeno homem voltou para as últimas noites de bebedeira, das confusões que tentara evitar causar no Mania e no Stadium. Se a polícia estava ali, coisa boa não poderia ser.
— Seu Henrique, tu pode nos deixar sozinhos um pouco? – disse o policial em tom neutro.
— Claro...
O gerente se levantou, dando dois toques na madeira da escrivaninha e rumou a porta, fuzilando o baixinho com os olhos. Django pôde ouvir a porta fechando atrás de si, e sentiu um longo e silencioso minuto recair sobre a sala, até que Django tomasse a iniciativa.
— No que posso te ajudar, Seu Claudio?
— Te senta, Django, vamos conversar.
Django caminhou até o lugar de Henrique e se sentou, esfregando as mãos suadas nos braços da cadeira.
— Sempre quis saber se essa cadeira era confortável – disse, rindo.
O policial não esboçou emoção alguma, Django sentiu a face esquentar.
— Teu nome é Emanuel Django Mota?
— Se eu não tiver te devendo, sim.
Tentou o alívio cômico mais uma vez e novamente sem sucesso. O homem abriu uma pasta e retirou duas fotos. As escorregou pela mesa enquanto falava.
— Tu conhece Luiz Olavo Filippini e Adilson Schmidt?
Django olhou as fotos, desconfiado.
— Tchê, o de cabelo preto é enfermeiro. Ele me atendeu uma vez no hospital. Mas só conheço de vista.
— Onde tu tava há dois dias perto das sete e meia da noite?
Django franziu o cenho ponderando a resposta.

VOCÊ ESTÁ LENDO
3 DIAS
HorrorOBRA VENCEDORA DO WATTYS 2019 - CATEGORIA TERROR PARANORMAL Depois que uma terrível tempestade isolou a cidade de Caçapava do Sul, a população foi acometida por uma intensa insônia, enquanto a polícia investigava uma série de estranhos assassinatos...