III

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Vinte horas antes da tempestade...

Django estava encostado na porta da loja a menos de dois minutos, com os braços cruzados frente ao peito, esperando para alimentar as fantasias com alguma universitária que por ventura passasse pela calçada, mas a única coisa que viu foi o carteiro vindo embaixo do leve sol das cinco da tarde.

— Fala, Seu Carlos!

— O quê tu me alega, Negão?

O carteiro parou na frente da loja, vasculhando a bolsa de cartas.

— Teus, são esses.

— Que jeito, homem?! Deus que te livre, aqui não tem nada meu.

O carteiro sorriu, balançando a cabeça e seguiu caminho com um aceno animado. Assim que o homem desapareceu na esquina, Django caminhou para dentro da loja folhando a correspondência em suas mãos, entrou no escritório de cabeça baixa, falando sem parar.

— Henrique, Já fiz tudo o que tu pediu. Limpei as armas, organizei o estoque, conferi a entrega e deixei as notas no caixa, não sei se tu viu. Tava na lo...

— Django. – Interrompeu.

O pequeno homem levantou a cabeça e viu um negro colossal de barba por fazer sentado frente a seu chefe. Os olhos do homem trabalharam como um scanner sobre o corpo de Django. Era o tipo de olhar treinado que um policial teria. O coturno bico de aço nos pés do homem, não chamou tanta atenção quanto à corrente de ouro pendurada em seu pescoço. Um pequeno crucifixo pendulava de um dos elos daquela corrente, quase desaparecendo em meio ao largo peitoral.

— Django, esse é o investigador Claudio. Ele quer ter uma prosa contigo.

A voz do chefe soou preocupada e repreensiva ao mesmo tempo. Django acenou com a cabeça, mas manteve o silêncio. A cabeça do pequeno homem voltou para as últimas noites de bebedeira, das confusões que tentara evitar causar no Mania e no Stadium. Se a polícia estava ali, coisa boa não poderia ser.

— Seu Henrique, tu pode nos deixar sozinhos um pouco? – disse o policial em tom neutro.

— Claro...

O gerente se levantou, dando dois toques na madeira da escrivaninha e rumou a porta, fuzilando o baixinho com os olhos. Django pôde ouvir a porta fechando atrás de si, e sentiu um longo e silencioso minuto recair sobre a sala, até que Django tomasse a iniciativa.

— No que posso te ajudar, Seu Claudio?

— Te senta, Django, vamos conversar.

Django caminhou até o lugar de Henrique e se sentou, esfregando as mãos suadas nos braços da cadeira.

— Sempre quis saber se essa cadeira era confortável – disse, rindo.

O policial não esboçou emoção alguma, Django sentiu a face esquentar.

— Teu nome é Emanuel Django Mota?

— Se eu não tiver te devendo, sim.

Tentou o alívio cômico mais uma vez e novamente sem sucesso. O homem abriu uma pasta e retirou duas fotos. As escorregou pela mesa enquanto falava.

— Tu conhece Luiz Olavo Filippini e Adilson Schmidt?

Django olhou as fotos, desconfiado.

— Tchê, o de cabelo preto é enfermeiro. Ele me atendeu uma vez no hospital. Mas só conheço de vista.

— Onde tu tava há dois dias perto das sete e meia da noite?

Django franziu o cenho ponderando a resposta.

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