IV

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Quarenta horas antes da tempestade...

De volta à cena do crime, o investigador atravessava o gramado em direção a porta da casa. Ele girou a maçaneta, enchendo os pulmões com o cheiro de morte. O legista encontrava-se frente à vítima.

— Alguma novidade Ludwig?

Disse enquanto colocava as luvas

— Sim, a coagulação sugere que ele ainda tava vivo quando teve as pernas cortadas e os olhos perfurados.

— Meu Deus...

— Considerou crime passional?

— Ninguém cria uma obra de arte sem planejamento, Ludwig.

O policial encarou a cena:

A sua frente uma tela de pintura, e nela uma cesta de frutas com dois abacates paralelos longitudinalmente à esquerda, seguidos de duas bananas na mesma posição à direita, sendo uma delas descascadas, sobre as bananas duas batatas e no topo das frutas uma tangerina que, sobre sua casca, possuía dois pincéis espetados. Um a doze horas e outro à três horas. Ao lado da cesta havia um cálice de vinho.

Aquele que olhasse de fora se apaixonaria pelo quadro de arte simples, não fosse o que estava além dele, servindo como modelo para o artista.

No chão havia uma bacia de alumínio forrada com um tapete de crochê, sobre o tapete duas pernas paralelas longitudinalmente à esquerda, seguidos de dois braços na mesma posição a direita das pernas, um dos braços tinha quatro tiras de pele estranhamente dobradas como as de uma casca de banana, sobre os braços encontravam-se as duas metades, peito a peito, do que fora o tronco. Sobre o tronco havia lascas do que antes seriam a pele de um rosto, e sobre essa pele, uma cabeça em carne viva com pincéis atravessados nos olhos. Um à doze horas e outra à três horas. Ao lado do festival de horrores havia uma jarra de cristal para flores e dela o sangue rubro levemente coagulado transbordava.

Claudio pôs a mão na cintura e andou de costas para aumentar o campo de visão, tudo parecia limpo entorno do corpo.

— É impossível criar algo nesta escala sem pensar nela antes.

Ludwig permaneceu em silêncio, ciente do que o parceiro queria dizer.

Claudio caminhou para mais perto da obra, estreitando os olhos para o crânio deitado, lembrando-se de algo que vira um dia antes. As sobrancelhas arquearam e o investigador encarou o parceiro.

— Ludwig! Os guris já conferiram os quartos?

O medo foi estampado na cara de Ludwig.

— Tchê! Tava todo mundo atucanado em cima do corpo!

Claudio cruzou a grande sala, correndo em direção para o que acreditava ser o quarto. A cama do casal estava vazia, bem arrumada, flanqueada por um criado mudo que portava um exemplar de "O Código da Vince".

Claudio estacou na porta. Sobre um dos travesseiro o investigador visualizou a lasca de madeira e o estranho pó branco ao seu lado.

— Ludwig! – Gritou.

O homem correu pela casa, parando ao lado do negro, com um sorriso satisfeito no rosto.

— Guri, pelo jeito, esse é o padrão. – Bateu nas costas do parceiro. – Tu já conseguiu pegar os resultados da análise daquela amostra que te levei, Tchê?

Ludwig engoliu a seco. Sabia que já estava em tempo das análises saírem, mas com tudo o que vinha acontecendo, acabou por esquecer de passar no laboratório.

— Já saíram, mas não tive tempo de ler o relatório. – Mentiu.

O grandalhão anuiu, ignorando a obvia mentira do parceiro. Com toda aquela loucura que vinha acontecendo nos últimos tempos, todos os homens estavam trabalhando de mais.

3 DIASOnde histórias criam vida. Descubra agora