XVI

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Agora todos estavam ensopados, sentados no banco da viatura. Claudio achou por bem não algemar as duas meninas, mas fez questão de que o parceiro fosse no banco traseiro com a arma pronta para ser sacada.

Parecendo impossível, a chuva piorou. Ludwig podia ouvir as pedras de gelo se chocando contra a lataria do carro. A menina loira, ao seu lado, parecia sentir medo e ele pôde jurar que os cabelos da castanha estavam eriçados além do plausível.

Claudio notou o aparente desconforto do parceiro, mas buscou se concentrar nas ruas. A visão, cada vez mais dificultada pela chuva, só alcançava dois metros à frente. Os postes não acenderam como de costume em dias de neblina. O investigador não se lembrava da última vez que vira algo como aquilo. Não se lembrava se alguma vez já tinha visto.

Gaya sentia que algo muito errado estava para acontecer. Encarou a irmã que também parecia pressentir algo ruim. A loira respondeu engolindo em seco, movida por puro pavor.

— Hein, não querendo ser abusada, mas tu pode me dizer as horas? – disse a castanha, encarando o retrovisor.

Claudio estranhou a pergunta da menina, jogando uma breve olhada pelo espelho, mesmo assim encarou o painel. O mostrador piscava zero horas ininterrupto, causando uma estranha sensação no investigador. Ele sempre mantinha aquele relógio funcionando. Era muito útil para as ocorrências que sempre atendia, se lembrava de tê-lo conferido pela manhã.

— Mas tchê! – Sussurrou.

O investigador puxou o celular do bolso, sentindo-o molhado e prevendo a desgraça. Nada. O celular se fora com a chuva. O de Ludwig provavelmente também se fora.

— Ludwig, o velho relógio ainda funciona?

Ludwig assentiu em silêncio, puxando a manga ensopada da jaqueta. A cabeça do investigador se inclinou para trás e Claudio pôde ver o homem batendo no vidro do relógio com o indicador. Dois toques. Depois, alternando entre a estrada e o retrovisor, viu o parceiro levar o pulso até a orelha.

— Mas não é possível, tchê!

Claudio sentiu as rugas tomando conta de sua testa.

— O que foi, Ludwig? – disse, apontando o retrovisor para o homem.

Ludwig negou com a cabeça, espalmando a mão para cima. Tinha certeza de que dera corda pela manhã, como sempre fazia. Aquilo não podia estar certo. As engrenagens do relógio continuavam em seu tic-tac teimoso e irritante, entretanto o horário com certeza estava errado. Tinha que estar errado.

— Bah... O que eu tenho pra te dizer, tchê? – Encarou o retrovisor. – Acho que meu relógio faleceu...

— Que jeito, Ludwig? – Sentiu os vincos da testa aprofundarem.

— Não sei, tchê, mas não tem como isso tá certo de jeito maneira... Só se eu tiver ficando doido!

Gaya começou a sentir os temores se tornando reais. Na hora em que perguntou, não sabia definir o que a tinha feito elaborar aquela pergunta, mas agora, antes mesmo que o policial respondesse, ela sabia do que se tratava. A chuva era o menor de seus problemas.

— Desembucha, Ludwig! – Gritou, Claudio. – Tu só precisa dizer as horas!

— Hein, antes me responde uma coisa. Tu lembra que horas a gente saiu da delegacia?

Claudio concentrou os olhos na rua, enquanto apontava a memória para o relógio acima da porta, no departamento.

— Bei... Acho que era umas quatro e quinze, não era?

Ludwig soltou uma gargalhada medonha, assustando a loira que estava ao seu lado. Ela parecia querer chorar novamente e o investigador jurou que existia uma corrente elétrica naquele carro, levantando cada vez mais os cabelos de Gaya.

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