Claudio guiou as garotas para a cozinha, deixando que Ludwig as algemassem, cada uma em uma cadeira, enquanto se acomodava do outro lado da mesa. Os olhos atentos caçavam qualquer vestígio de mentira que pudesse escapar das garotas a sua frente, mas ele só conseguia sentir medo exalando de uma e raiva da outra, não podia dizer que estava descontente com isso. Medo e raiva eram duas coisas que deixavam a certeza de que ele estava fazendo seu trabalho direito.
— Tchê – disse –, eu quero saber onde vocês entocaram as drogas e se as duas gurias sonharem em me lograr, a coisa vai ficar bem feia.
Gaya continuou sustentando o olhar raivoso para cima do homem, já Amora expressou sua confusão em um inclinar cômico de cabeça.
— Mas a gente não tem droga, tchê! – disse, Amora.
Claudio não queria acreditar, mas os olhos da bela moça pareciam bem sinceros, já os da outra nem sequer se moveram. Parecia que Gaya se concentrava na raiva que sentia, enquanto deixava que a mente trabalhasse para uma fuga. Claudio sentia a engenhosidade da garota exalando pelos poros. Se não fosse uma criminosa, provavelmente a garota seria uma ótima policial.
— Eu sei que tem droga nessa casa. – Blefou – Nós temos imagens pra provar.
Gaya sorriu, finalmente abrindo a boca.
— Tu tá blefando, policial.
A fúria de Claudio transpareceu nos olhos e Gaya se deu por satisfeita, deixando-se rir um pouco mais alto.
— Tu tá achando graça, guria?
— Bah, mas ela tá dizendo a verdade, Tchê!
Gaya sentiu o descontrole na voz da irmã, prevendo que algo de bom não sairia de sua próxima fala.
— Cala a boca, Amora! – Ralhou, Gaya, transferindo-lhe a mesma raiva com a qual fitava o policial.
— Quem manda calar aqui sou eu... Gaya... Se ela é a Amora então tu deve ser a Gaya, não é?
Gaya fuzilou o investigador, aumentando e sustentando a própria raiva até que percebeu a ira crescente nos olhos do homem. Ela baixou o olhar rapidamente. Poderia prejudicar mais do que ajudar se continuasse se entregando àquela raiva. Acabara de entregar uma informação que eles não tinham por que não conseguira se controlar.
O policial voltou a encarar Amora, aproveitando-se de seu medo. Obviamente ela era o elo mais fraco naquela cozinha e ele se aproveitaria disso. O tempo encurtava cada vez mais. Agora não restava muito para que a noite caísse e que as ruas enchessem de boêmios ansiosos pela Semana Farroupilha.
Ludwig permanecia escorado na parede atrás das meninas. Além de uma estratégia tática, ele nunca fora bom em ler pessoas vivas. Odiava ter de pensar assim, mas era um fato. O investigador calvo tinha uma grande afinidade com a morte.
— Então, Amora. Tu vai me dizer onde a droga tá entocada ou eu vou ter que revirar essa casa?
Amora negou com a cabeça em movimentos frenéticos. Estalando os olhos, quase os fazendo saltar das órbitas.
— Eu já disse pra ti, tchê! A gente não mexe com isso!
— Onde tu escondeu, Amora?! – Gritou, Claudio inclinando-se com as mãos espalmadas sobre a mesa.
— Não tem droga nenhuma! – Gritou de volta
— Aonde tá?!
A loira começou a chorar, tremendo o corpo em cima da cadeira onde foi acorrentada.
— Eu já disse pra ti que não tem... – Soluçou. – Eu achei que tu tivesse vindo por causa da rep...
— Amora! – Berrou, Gaya, deixando que o desespero transparecesse.
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HorrorOBRA VENCEDORA DO WATTYS 2019 - CATEGORIA TERROR PARANORMAL Depois que uma terrível tempestade isolou a cidade de Caçapava do Sul, a população foi acometida por uma intensa insônia, enquanto a polícia investigava uma série de estranhos assassinatos...