17 - Sete Bilhões

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          A sexta feira amanheceu quente, diferentemente dos últimos dias. Duda encarava o fundo do copo sujo de leite enquanto todos conversavam na mesa do café. "Vocês vão embora amanhã a noite, a gente precisa sair hoje!", Gabi insistia. Jonathan concordava com a prima. "O que você acha, Du?", ele perguntou. "Vocês que sabem", responde ainda encarando o copo. Diego resmungou um "pode ser" fajuto enquanto saía da mesa.

          Gabriela, Diego e Jonathan passaram o dia na piscina. Duda intercalava a rede com a espreguiçadeira, mas sempre em silêncio. Não via a hora de ir embora, a viagem não foi tão boa assim para fugir dos problemas, só lhe causou mais alguns.

***

          Se arrumaram e foram para o mesmo bar do dia em que chegaram. No caminho, Jonathan e Gabriela planejavam a próxima visita. "Agora é nossa vez de ir pra São Paulo", ela disse de imediato. Diego olhava para Duda pelo espelho do carro esperando alguma reação... Nada. Ela olhava para o céu através da janela, mas seu olhar estava perdido.

          Chegaram no bar e se sentaram no mesmo lugar. O músico já estava afinando seu violão para começar a tocar. Diego pediu cerveja para todos, Gabriela quis brindar a amizade que construíram.

          A noite corria e só Gabriela e Jonathan conversavam. Ele até percebeu que fazia um julgamento errado da prima. Ela era exatamente como ele antes de quebrar a cara. Acreditava que ela podia mudar, assim como ele mudou. Só esperava que ela não precisasse passar pelo mesmo que ele. O músico disse que tocaria uma de suas músicas favoritas, de sua banda favorita. "Quem souber, canta junto!"

"Pra ser sincero não espero de você
Mais do que educação
Beijo sem paixão. Crime sem castigo.
Aperto de mãos. Apenas bons amigos"


          Duda se levantou com os olhos marejados e foi para fora do bar rapidamente, trombando em outras mesas. Estava com o choro entalado na garganta a noite toda e não aguentava mais segurar. A música foi o estopim. Diego largou seu copo na mesa e a seguiu. Gabriela olhou para Jonathan sem entender, quis ir atrás, mas ele pediu para ela ficar ali. Duda encostou na parede de tijolos toda suja e deixou as lágrimas correrem em silêncio. Diego se aproximou, tentou tocá-la, mas ela se esquivou.

– Por favor, Du, me fala o que tá acontecendo.

– Eu não sei, Diego, eu não sei! Eu só quero ir pra minha casa.

– Me desculpa, de coração, me desculpa por eu te deixar na rua aquele dia... Eu fui um idiota, um babaca.

– Essa viagem era para eu me distrair das coisas que me aconteceram lá... E eu só tô voltando com mais dúvidas.

– Eu não sei o que te dizer... Só me desculpa.

– Por que eu, Diego?

– Eu também não sei.

          Ele a abraçou, ela continuava chorando. A música chegava abafada do lado de fora. "Nós dois temos os mesmos defeitos. Sabemos tudo a nosso respeito. Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos...", ele cantava baixinho em seu ouvido. Ficaram mais ou menos meia hora abraçados em silêncio, até ela se acalmar. Ela quis entrar, enxugou as lágrimas meio secas, fingiu um sorriso e voltou para a mesa junto com Diego.

          Gabriela quis questionar onde estavam, mas assim que começou a perguntar, Jonathan fez sinal com a cabeça para ela não falar nada. Ela ficou quieta contra a vontade. Diego pagou a conta e foram embora mais cedo do que esperavam. Voltaram todo o caminho em silêncio. Chegaram no sítio e cada um foi para o seu quarto. "Se quiser conversar, eu tô aqui", Jonathan disse antes de deitar. "Eu tô bem, fica tranquilo", Duda respondeu. Não queria encher a cabeça do irmão com suas neuras.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora