20 - Como uma bala perdida

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          A quarta-feira amanheceu ensolarada em São Paulo. Sairiam rumo à Minas Gerais naquela noite. Duda estava chegando com alguns pães de queijo para o café da manhã e uma coxinha gigante quando viu Lucas apoiado no muro do prédio. Ela sentiu o corpo congelar, o coração acelerar. Ele deveria estar no trabalho, não ali. Acuada, abaixou a cabeça e tentou passar direto por ele, mas ele a puxou pelo braço.


– O que você quer?

– Você não responde meus e-mails, quero saber se está tudo bem com você.

– Eu estou ótima. Se eu não te respondi é porque não quero falar com você.

– Mas por quê?

– Solta o meu braço.

– Aquilo já passou, conversa comigo... – sua voz é calma.

– Me solta. Você está me machucando.

– Eu te amo, Maria, não tem um dia que eu não penso em você, eu tento sair com outras pessoas, mas não adianta, você me dominou de uma maneira única. O que passou, passou, deixa lá atrás. O seu lugar é comigo e não sozinha.

– Solta o meu braço ou eu faço um escândalo aqui.

– Que escândalo que você vai fazer? Vai chamar seu irmãozinho pra te defender de novo? – aperta o braço ainda mais forte.

– Você é completamente louco! – se altera.


          Duda conseguiu se soltar e entrou no prédio. "Eu não aceito o seu não, Maria!", Lucas gritou. Ela caminhou pela portaria sem olhar para trás. Entrou no elevador e reparou no espelho o seu braço vermelho com a marca da mão dele. Entrou em casa e Jonathan cochilava no sofá. Foi para seu quarto e começou a chorar. O que fez para merecer aquilo? Não sabia. Puxou na memória se fez algo ruim para o ex namorado, algo que fosse realmente culpa dela. Não conseguia se lembrar de nada. Olhou novamente para o braço, estava menos vermelho, mas ainda dava para ver o contorno da mão de Lucas. Um pequeno hematoma se formou onde ele apertou com mais força. Ela enxugou as lágrimas, vestiu uma blusa de mangas longas e voltou para a sala. Jonathan já havia acordado.


– Nem te vi chegar da padaria... – se espreguiça.

– Eu entrei em silêncio.

– Você chorou?

– Não. – mente.

– Estranho, seus olhos estão vermelhos... Igual a quando você chora.

– Deve ser de sono.


          Duda desconversou e entregou o saco de pães de queijo para ele. Ambos comeram enquanto assistiam a um programa de gosto duvidoso na TV a cabo. Terminaram o café e foram arrumar as malas. Laura trabalharia só até meio-dia, queria descansar antes de pegar a estrada.

***

          O relógio marcava nove e meia quando acomodaram as bagagens no porta-malas e entraram no carro. Os três revezariam o volante durante a noite. "Na estrada! Amanhã de manhã estaremos aí!", Duda mandou para Diego, seguida de uma selfie abraçada a um travesseiro no banco traseiro. Apesar de fingir que estava tudo bem, ela estava apreensiva, não sabia como seria encontrá-lo depois da última vez. Mal sabia que ele estava mais apreensivo do que ela.

          Doze horas depois, finalmente chegaram na casa de Mônica. Ela os aguardava na calçada com um sorriso no rosto. Jonathan estacionou do outro lado da rua e Laura desceu do carro cansada, porém feliz ao rever a prima. Subiram até o apartamento e encontraram Gabriela terminando de coar o café. Duda olhava ao redor, mas não havia nem sinal de Diego. Jonathan percebeu a ansiedade da irmã e pergunta do primo. "Ele já deve estar chegando, eu pedi para ele ir ao mercado", Mônica respondeu enquanto arrumava a mesa para o café da manhã.

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