11 - Mais quatro pra conta

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A quinta-feira chegou. Jonathan sentia todo o peso do mundo em suas costas. Escovou os dentes e encarou o espelho. Seu olho ainda estava bem roxo e o supercílio machucado. Lembrou da noite da briga, algumas pessoas do escritório presenciaram. Não sabia o que o esperava quando chegasse. Fechou a camisa e saiu.

Chegou no escritório de óculos escuros e fones de ouvido. Não queria conversar com ninguém. Ouviu alguns comentários baixinhos. Tirou os óculos e percebeu alguns olhares. Sentou-se em sua mesa e tentou se concentrar em sua caixa de e-mails lotada. Lucas chegou um pouco atrasado. Conversou com todo mundo como se nada tivesse acontecido. Estava com o olho roxo e um curativo no nariz. A vontade de Jonathan era ir até ele e acertar o outro olho, mas precisava se conter.

Seu chefe o chamou durante a manhã para perguntar o que tinha acontecido. Ainda frisou que nunca imaginou que um rapaz tão sério e íntegro como Jonathan se envolveria em uma briga de bar – desculpa que ele usou para explicar os hematomas. Lucas também foi chamado, mas disse que foi um tombo. Ambos foram advertidos, pois alguns clientes visitavam o escritório e todos precisavam estar impecáveis o tempo todo.

O relógio bateu meio-dia, Jonathan se levantou para almoçar e viu Renata parada na porta de sua sala. Ela olhava para ele com um olhar de agradecimento. Quando passou por ela, ouviu um sussurro. "Muito obrigada". Ele olhou para trás e ela sorriu. Finalmente ele se sentiu bem naquele lugar.

***

Antes de dormir, Duda olhava seu Facebook. "Em um relacionamento sério com um otário", ela repetiu. Removeu o relacionamento, bloqueou Lucas, apagou as poucas fotos que tinha dos dois. Olhava as atualizações dos amigos e viu uma foto de Diego com Nicole na pizzaria. Se sentiu traída, mas nem soube o porquê. Reparou bem na foto e... 

– Ah, Diego, não acredito! 

Precisava mandar uma mensagem para ele, mas não sabia se seria bem-vinda depois de tanto tempo. Também não queria parecer que estava o chamando apenas por estar solteira, como um plano B. Talvez só ela pensasse nisso, talvez ele nem se importasse. Digitou, respirou fundo e enviou.

– Oi! Tá podendo falar comigo?

– Oi! Claro! Quanto tempo...

– Você está bem?

– Estou sim, e você?

– Você tem certeza que está bem? rs

– Uai, por quê?

– Ketchup na pizza, Diego? Você sabe que vai para o inferno se colocar ketchup na pizza, né? Haha

– NOSSA NEM ME FALE, a Nicole que pediu! Na hora que ela pediu eu fiquei sem reação, só pensei em você!

Duda não soube o que responder. Ele voltou com ela, isso era certo, mas... pensou nela? Isso era novidade. Logo Diego tentou puxar assunto. Não era tão fácil quanto antes, ficava caçando as palavras para não ficar ainda mais estranho do que já estava.

– Sinto tanta saudade de conversar com você. E o Lucas (é Lucas né?), tá bem?

– Não sei. Não sou mais namorada dele.

– Desculpa, não sabia. Mas aconteceu algo?

– Nada demais... Levei ele lá na coxinha divina e ele não gostou. Não posso ficar com alguém que não gosta da melhor coxinha do mundo. – mente.

– Como alguém pode não gostar? É maravilhosa! Haha

Duda não respondeu mais. Se pegou pensando no que diria para as outras pessoas que perguntassem dele. Dizer que estava em um relacionamento abusivo a machucava. Como não percebeu antes o buraco que estava se enfiando? Pessoas abusivas tentam mostrar a todo custo que são seres humanos incríveis e que você tem muita sorte em tê-los, que sem eles você não é ninguém. Duda caiu no conto e agora sentia vergonha. Diego a conhecia, tinha certeza que a resposta dela foi só uma desculpa, mas não insistiu. Duda também sabia que ele não acreditou.

ImperfeitosOnde histórias criam vida. Descubra agora