Diego acordou atrasado para trabalhar, levantou num pulo e enfiou a primeira roupa que encontrou. Mônica tomava café e Gabriela fazia sua vitamina matinal. Sentou-se e virou a garrafa de café no copo, sujando a toalha de mesa. Foi fuzilado pelos olhos de sua mãe.
– Não come correndo, tá indo tirar seu pai da forca? – Mônica repreende.– Você sabe que eu deixaria ele lá.
– A propósito, você precisa convidá-lo.
– Não quero.
– Eu também não, mas é preciso, infelizmente.
– Os convites já foram impressos contados.
– Eu mandei fazer mais alguns, inclusive mandei pra Laura. Como que você me esquece deles?!
Gabriela derrubou a tampa do liquidificador e encarou o irmão, que travou a xícara no meio do caminho, já não sabia se estava a levando à boca ou voltando à mesa. Droga, não era para convidá-los.
– Mas mãe, eles não estavam na lista.– Uai moleque, você é um grude só com eles e não quer que eles venham? Pensei até que seriam seus padrinhos.
– Tem razão, mãe. Obrigado por enviar o convite do meu casamento por mim.
Diego virou o pouco que restava de seu café, pegou seu capacete e saiu batendo a porta, sequer se despediu. Mônica olhou para Gabriela sem entender, que deu de ombros, como se também não soubesse e continuou limpando a bagunça que fez.A primeira aula acabou. Diego foi até a cozinha, pegou seu café e se sentou na cadeira mais afastada da falação dos professores das outras turmas. Desbloqueou seu celular e foi até a conversa de Duda. Não conseguia pensar em outra coisa desde que chegou na escola. Conseguia imaginar com perfeição a reação de Duda ao receber o convite, e isso o embrulhava o estômago. Imaginou quantas palavras diferentes ela foi capaz de xingá-lo. Suas últimas palavras para ela foram "Vai ficar tudo bem", e, de repente, as coisas não estavam nem perto de bem.
Chegou a procurar seu número, mas não sabia se ela o atenderia. Enviou uma mensagem. "Queria falar com você". Tomou dois copos de café e roeu todas as unhas da mão esquerda enquanto encarava a tela do celular. No segundo em que viu "online" escrito embaixo do nome dela, bloqueou a tela. Maior que o medo da resposta, era o medo de não tê-la. Seu celular vibrou e todo o seu interior também.
– Pode falar.– Queria me desculpar.
– Pelo quê?
– Pelo convite.
– Tá.
– Não fui eu que mandei. Vocês não estavam na minha lista. Minha mãe se sentiu no direito de mandar.
– Ok.
– Eu sei que vocês não vão vir, mas, ainda assim, me desculpa.
– Tá bom.
– Tão monossilábica.
– O que você quer que eu diga?
– Eu não sei. Só me diz algo. Me xinga, sei lá. Só me diz alguma coisa.
– Não tenho muito mais pra te dizer. Eu tô tentando te apagar.
– Não diz isso...
– Você pediu para que eu dissesse algo. Você quer que eu diga mais o quê? Que eu chorei quando vi o convite enfeitando a mesa? Ou que eu tô indo embora e deixando tudo pra trás, incluindo você?
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Imperfeitos
RomanceE se toda a sua vida mudasse de repente? Foi isso o que aconteceu com Duda. Maria Eduarda tinha apenas 14 anos quando perdeu seu pai e sua felicidade naquela quente manhã de janeiro, onde seu grito precisou ser sufocado pelo travesseiro. Cinco anos...