Treze de novembro. Diego terminava de montar os móveis da nova casa. Olhava a parede do quarto e tinha a certeza de que não era um pintor tão ruim. Talvez tivesse ficado um pouco manchado por ter largado a parede pela metade, não tinha certeza, mas, ainda assim, estava ótimo. Sentou-se na beirada do colchão ainda envolto no plástico e encarou os tantos presentes que ganharam, mas que continuavam embrulhados.
O pânico começou a tomar conta. Dentro de cinco dias as coisas começariam a mudar, mas em dez dias... em dez dias, tudo mudaria de vez. Não sabia como seria, e a cada vez que pensava nisso a gastrite dava sinais. Antes, depois de toda e qualquer discussão com Nicole, cada um ia para sua casa e não se falariam até os ânimos se acalmarem. Mas agora tudo precisaria ser resolvido naqueles quatro cômodos minúsculos. Não queria se casar. Não acreditava que ia se casar. Seu salário mal dava para se sustentar, imagine três pessoas? As pontadas no estômago continuavam. Ainda tinha Duda... por que raios não conseguia parar de pensar nela? "Ela vai embora, cacete!", murmurou. Não adiantava, ela ainda tomava sua mente todos os dias.
***
Duda estava largada no sofá quando Jonathan passou apressado, derrubando o controle remoto. Ela olhou para o irmão todo de social e estranhou. "Jonathan...", chamou. Nada. Ele continuava afobado, procurando por algo que ela não sabia o que era. "Jonathan!", chamou ainda mais alto.
– Fala!– Aonde você vai?
– Eu tenho uma entrevista daqui a pouco, mas não acho minha carteira.
– Nossa, e eu só estou sabendo agora?!
– Eu comentei ontem, mas você tava ocupada demais com a sua viagem.
– Grosso.
– Não é grosseria. A gente mal conversa mais.
– Claro que não!
– Claro que sim. Me diz a última vez que a gente sentou e conversou igual antes?
Duda tentou puxar na memória, mas realmente não se lembrava. Jonathan cortou a conversa e continuou andando pela casa procurando por sua carteira. Duda se levantou e foi atrás do irmão.
– Mano, por que você tá puto comigo?!– Eu costumava ser o seu melhor amigo, Du. Seu confidente.
– Você ainda é!
– Não, mano. Eu não sou. Você decidiu de uma hora pra outra ir embora e eu fiquei sabendo pela mãe!
– Você tá bravo por isso?
– Mas é claro! Você queria que eu ficasse como?! Porra, minha irmã decide ir pra outro país do nada e eu fico sabendo por terceiros! E tá indo embora por causa de homem!
– Nossa, cala a boca! Eu tô indo embora por mim! Eu tô indo fazer algo por mim em vez de esperar as coisas caírem do céu no meu colo igual a você! Nunca foi por homem nenhum não, desde o início foi por mim!
– Na boa, Eduarda, não vou me estressar com você. Que bom que você vai embora. Se você me der licença, eu tenho que encontrar minha carteira e ir pra minha entrevista pra ver se o emprego cai no meu colo.
Duda continuou parada na porta encarando o irmão. "Sua carteira tá jogada lá do lado da mesa", falou. Jonathan pegou a carteira caída no chão e foi em direção à porta. "Boa sorte", ela disse. Ele não respondeu e saiu batendo a porta. Ela se jogou de volta no sofá, irritada. Não queria ir embora brigada com o seu irmão. Respirou fundo e deixou a discussão de lado, antes do atrito estava animada, pois suas duas amigas combinaram de saírem juntas naquela noite para comemorar a viagem de Duda e ela não queria sair com um clima ruim.
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Imperfeitos
RomanceE se toda a sua vida mudasse de repente? Foi isso o que aconteceu com Duda. Maria Eduarda tinha apenas 14 anos quando perdeu seu pai e sua felicidade naquela quente manhã de janeiro, onde seu grito precisou ser sufocado pelo travesseiro. Cinco anos...