19 - Dezoito chamadas

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          O sábado chegou, e com ele a ligação que Diego esperava há semanas, o resultado de uma entrevista de emprego. A vaga era dele. Não era grande coisa, seria professor de informática em uma pequena escola de cursos livres na cidade vizinha, trabalharia segunda, quarta e sexta no período da manhã e da tarde. Seus conhecimentos eram bons, tinha alguns cursos na área e o fato de ser ex aluno da escola o ajudou na seleção. O salário também não era dos melhores, mas ele não tinha grandes despesas, então estava tudo bem.

          Jonathan, ao contrário, enviava currículos todos os dias, porém ninguém o contatava. Nem ao menos uma entrevista. Não aguentava mais sua mãe dando indiretas sobre o seu desemprego. Não queria voltar para dentro de um escritório, mas era sua única experiência. Tinha certeza que se continuasse nesse ramo acabaria um viciado em trabalho, igualzinho a sua mãe.

         Anoiteceu, Laura chegou do trabalho com uma caixa de pizza para o jantar. Comeram enquanto conversavam assuntos aleatórios, desde a notícia do jornal sensacionalista até a fofoca do vizinho da frente. Duda lavava a louça à medida que sua mãe arrumava a mesa. "Seu celular tá tocando. Diego... É o Diego da Mônica?", perguntou, fazendo Duda largar o copo ensaboado que lavava e pegar o celular rapidamente. Limpou as mãos cheias de sabão na roupa e foi para o quarto.


– Alô?

– Oi Du, tudo bem?

– Oi... Estou bem, e você?

– Estou ótimo! Fui contratado por aquela escola que te falei.

– Que bacana, parabéns! Começa quando?

– Segunda.

– Meus parabéns, senhor assalariado!

– Obrigado!

– ...

– ...

– Então...

– Não... Não foi só por isso que eu liguei.

– E então...

– Mês que vem é meu aniversário...

– Eu sei, dia sete.

– Eu sei que depois de tudo o que rolou talvez seja cedo pra falar sobre a gente se ver de novo, mas eu queria muito, muito mesmo que você e o Jonathan viessem pra cá no meu aniversário. Sua mãe também, se ela quiser. Eu vou fazer uma festa com alguns amigos, ainda não sei se vai ser no sítio ou em casa, mas eu faço questão da presença de vocês.

– Eu... agradeço o convite. Eu não te dou certeza agora porque em um mês e pouquinho muita coisa acontece, né? Mas... eu vou falar com ele.

– Tudo bem, eu espero, depois você me manda mensagem confirmando ou não. Sei que é feriado, mas como ele cai no domingo, acredito que não atrapalhe muito os planos de vocês. Eu quero muito que vocês venham. Sério.

– Eu quero ir também. Espero que dê certo.


          Continuam conversando por mais alguns minutos, mas as coisas não eram mais iguais. Havia um silêncio entre uma frase e outra, algo que antes nunca acontecia. Desligaram depois de uma despedida rápida. Duda voltou para a sala e se sentou ao lado de Jonathan, que assistia televisão sozinho.


– E aí, ele tá bem? O que ele queria?

– Tá sim. Queria conversar. Contar que conseguiu um emprego.

– Que bom!

– Ele também convidou a gente para o aniversário dele. Vai ser no feriado, ele ainda não sabe se vai ser no sítio ou na casa dele. Diz que faz questão...

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