Naquela mesma noite, Duda recebeu a visita de sua mãe e seu irmão. Laura entrou primeiro, chorou aliviada ao ver a filha acordada. Perguntou como a filha estava, tentando esconder a emoção. Ela ainda falava pouco, sentia falta de ar constantemente, então sussurrou que estava bem.
Laura estava agoniada, queria fazer perguntas para Duda, perguntas dignas de um interrogatório, mas o médico do plantão pediu para evitar quaisquer assuntos que pudessem agitá-la. Saiu com o coração na mão por deixar sua filha ali.
Jonathan entrou em seguida, já emocionado por saber que sua irmã estava acordada. Sentiu todo o peso sair de suas costas quando ela sorriu ao vê-lo. "Me desculpa por não estar ao seu lado quando você precisou", sussurrou ao abraçá-la. "Você não teve culpa de nada", Duda respondeu com a voz abafada pelo abraço. Ele fazia carinho em seu cabelo sem saber o que dizer, só agradecia silenciosamente ao universo por vê-la bem.
A visita acabou e Jonathan encontrou sua mãe no saguão. Ela carregava uma sacola com o celular destruído e as roupas que Duda estava no dia do acidente. "Ela vai ficar bem", ele tentava consolar Laura, que não conseguia ver sua filha com tantos fios, furos e cortes.
Chegaram em casa e ela colocou a sacola em um canto, olhar para a roupa cheia de sangue só a fazia imaginar o estado que Duda ficou. O que os olhos não veem, a mente imagina três vezes pior.
***
Diego acordou mais cedo na quarta-feira, perdeu o sono quando o sol ainda saía. Se revirou para tentar dormir, mas a preocupação não o permitia pregar os olhos. Foi para a sala e ligou a televisão. Deixou no noticiário matinal, não estava muito interessado, mas queria uma distração. Desviou o olhar para aquela sacola no chão. Espiou por cima do sofá e reconheceu a blusa toda suja e amassada. Sua mente se voltou instantaneamente para o acidente, para a Maria Eduarda aparentemente sem vida no meio da estrada de terra. Se lembrou de como olhava fixamente para ela, ansiando por qualquer movimento que sugerisse uma respiração.
Laura levantou para tomar água e viu Diego sentado no sofá segurando a camiseta suja nas mãos. Ele nem percebeu que pegou, quando se deu conta, já estava contornando as manchas de sangue seco com a ponta dos dedos.
"Está tudo bem?", ela questionou, o tirando do poço de lembranças que entrou. "Sim, está sim. Me desculpa, eu só... só... Essa camiseta era minha, sabia?", respondeu, confuso. Laura se sentou ao lado dele e segurou a camiseta nas mãos. "Eu sei. Era a camiseta favorita dela", respondeu. Ela não se deu conta, mas falou com se Duda não estivesse mais ali. Diego engoliu seco, não conseguia aceitar essa hipótese.
"Por favor, não se desfaz dela. Era a minha camiseta favorita também", pediu. Laura concordou e entregou a camiseta de volta para ele antes de voltar para a cama. Ele continuou abraçado às lembranças até a hora de ir trabalhar.
***
Por volta das onze da manhã, Jonathan recebeu uma ligação do hospital. Antes mesmo que pudesse se desesperar, a atendente do outro lado da linha informou que Duda receberia alta da UTI e seria transferida para o quarto. As visitas seriam permitidas das duas da tarde às sete da noite, sendo até quatro visitantes por dia, porém só entrariam dois por vez.
Laura e Jonathan foram os primeiros a entrarem no quarto. Laura estava ansiosa para perguntar sobre o acidente e principalmente sobre a gravidez, mas Jonathan mudava de assunto todas as vezes que percebia que sua mãe tentava abordar um destes temas.
Duda estava um tanto quanto impaciente, ainda falava pouco, não aguentava mais aquele ambiente e evitava tocar no assunto do acidente até mesmo com os médicos, por mais que precisasse contar.
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Imperfeitos
RomanceE se toda a sua vida mudasse de repente? Foi isso o que aconteceu com Duda. Maria Eduarda tinha apenas 14 anos quando perdeu seu pai e sua felicidade naquela quente manhã de janeiro, onde seu grito precisou ser sufocado pelo travesseiro. Cinco anos...