"Gabi, pelo amor de Deus, chega de enfeite!", Diego implorou enquanto Gabriela montava a mesa do bolo e o ignorava. Jonathan ficou responsável pelas batidas e drinks, inclusive a tal "Fantástico Mundo de Bobby", então passou a tarde na cozinha. Era muita bebida, ninguém ficaria sóbrio naquele lugar. O DJ chegou duas horas antes da festa para montar seu equipamento. Diego ficou surpreso ao ver todo o equipamento profissional, pensou que fosse um DJ de festa de bairro, um pendrive e uma caixa de som. Tinha luzes, fumaça, laser, tudo.
Faltava uma hora para começar a festa, Jonathan foi o primeiro a se arrumar, colocou uma camiseta do Ramones e uma calça vinho. Diego saiu do banho, se vestiu de preto da cabeça aos pés, exalando o luto. Duda decidiu usar a camiseta da mosca com uma calça jeans. Gabriela ainda estava no banho, mas separou um shorts preto e uma blusinha amarela. Duda estava terminando de se arrumar quando Diego entrou.
– Ei, posso te pedir uma coisa?– Claro, se for do meu alcance.
– Vem aqui fora comigo?
– Diego...
– É rápido, eu juro. Vai demorar uns quatro... cinco minutos no máximo.
Duda assentiu e o seguiu. Ele fez um sinal para o DJ e a levou para trás da casa, no mesmo lugar que costumavam observar o céu. A melodia da primeira música que dançaram juntos começou a tocar. "Dança comigo?", pediu.
– Não sei se é uma boa ideia...– Ah Du, é meu aniversário, por favor... – sorri.
Ela retribuiu o sorriso e segurou sua mão. Diego ainda não levava muito jeito para dançar xote, mas conseguia se virar. Ele abraçou sua cintura e ela recostou a cabeça em seu peito, sentiu as mesmas borboletas no estômago de dois dias atrás. Diego fechou os olhos e por alguns minutos se esqueceu da montanha-russa que estava vivendo. A música acabou e eles continuaram abraçados, dançando no silêncio. Queriam que o tempo parasse. Duda ouviu algumas vozes desconhecidas e voltou ao mundo real.
– Diego, acho que seus convidados estão chegando.– Espera... – segura sua mão.
– ...
– Obrigado... Por aceitar dançar comigo.
– Obrigada por me convidar... – sorri.
– Não existiria outra pessoa pra isso.
Duda sorriu desconcertada e voltou para o quarto. Pegou o celular e viu algumas mensagens de Lucas através de um novo número. Mensagens de ódio apenas porque soube que ela foi viajar. Ele sabia exatamente como atingi-la.
• "Foi viajar pra pular de macho em macho? Porque é só isso que você sabe"• "Vagabunda, eu tenho nojo de você"
• "Você fica procurando macho, mas vai morrer sozinha, ninguém te suporta, nem mesmo sua mãe, por isso ela trabalha tanto, pra ficar longe de você"
• "Seu pai morreria de desgosto ao ver a piranha que você se tornou... Ah, espera, ele já está morto".
Ela não entendia tanto ódio. Vagabunda, piranha... Nada disso a atingia, mas falar do seu pai era jogar baixo demais. Ele extrapolou todos os limites, ainda jogou a ausência da mãe como sal na ferida. Na cabeça de Lucas, ela só não estava com ele por conta de "machos" e não porque ele era abusivo. Abusou física e psicologicamente, só não sexualmente porque Jonathan chegou a tempo. Ele não conseguia enxergar que o problema todo era ele, sempre seria ele. Duda tentou não se abater, sabia que não era verdade, mas, lá no fundo, sentia vontade de sumir.
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Imperfeitos
RomanceE se toda a sua vida mudasse de repente? Foi isso o que aconteceu com Duda. Maria Eduarda tinha apenas 14 anos quando perdeu seu pai e sua felicidade naquela quente manhã de janeiro, onde seu grito precisou ser sufocado pelo travesseiro. Cinco anos...