Ao encontro do amor

Tomando decisão

Estou na escola para mais um ensaio da peça, mas confesso que não estou com cabeça para ensaiar. Faz mais ou menos uma semana que estamos ensaiando e a cada dia tem se tornado uma tortura para mim estar nesse lugar. O fato é que estou fazendo par com Lais e isso tem sido muito ruim para meu processo de desapaixonamento. Ela é doce, alegre, sorridente e para completar a perfeição em pessoa, ela é linda. Acho que a menina mais linda que já vi em toda minha vida.

Eu sei que não podia me apaixonar,  estou comprometido com Deus sabe quem, mas eu sou ser humano, não sou uma máquina, impossível passar desapercebido tanta beleza e suavidade de uma criatura só. Esse período de ensaio serviu para ela se achegar mais a mim, sem falar que a Rayenne é da minha igreja e praticamente as duas não se desgrudam, aliás ainda tem mais uma que não recordo o nome.

Me afasto um pouco para olhar a mensagem do meu pai que acabou de chegar e fico rindo só olhando a tela do celular, não sei se ri de nervoso ou de ansioso mesmo.

("Filho, estou pensando em acelerar o processo e decidir logo a noiva, assim dará tempo de vocês orarem e se conhecerem para casar no final do ano. Que acha?")

Fico olhando para a mensagem no celular e pensando uma forma de dizer a papai que não quero esse acordo, levanto os olhos para o céu e sem dúvida do que devo fazer, digito um pode ser.

- Espero que Deus esteja no controle dessa situação. - digo suspirando ao olhar Laís ao longe.

Volto para dentro da sala no exato momento que vamos repassar a canção, cantar com essa moça da voz de violino não é o que eu queria, a voz dela impregna em minha mente me tirando o sono e não sei o que fazer para me livrar de um sentimento que não posso alimentar.

- Wendel posso trocar duas palavras contigo? - o diretor da escola me pergunta e eu assinto com a cabeça.

Vamos até sua sala e ele me indica um lugar para sentar.

- A que devo a honra de ser chamado na direção? - pergunto arrancando uma gargalhada do homem, eu não entendi o motivo do riso mais tudo bem.

- Estou te sentindo distante. - ele é curto e grosso e não sei se posso me abrir com alguém.

- Só alguns problemas básicos de adolescente.

- Sei... - ele diz me estudando.

- João me desculpe, mas não sei se posso contar isso a alguém. - digo sendo sincero.

- Eu não sou alguém, sou João Navarro Filho seu diretor e orientador espiritual nos encontros de jovens. - ele diz fazendo um gesto que não posso deixar de rir.  - Ninguém deve carregar o fardo só.

- Eu acho que estou apaixonado. - digo sentando minha mão na testa preocupado.

- Até agora não vejo um problema aqui, pode me explicar?

- Meu pai ele é o problema, a algum tempo ele  fez um voto que me inclui, estou preso a esse voto e não sei como será meu futuro.

- Voto?

- Sim ele prometeu que me casaria com a moça que Deus o mostrasse, como um acordo para que eu me case com uma mulher de Deus. E uma forma de decidir o que devo fazer eu penso assim.

- Isso é magnífico. Bela atitude de seu pai. - não pude deixar de fazer uma careta.

- Eu diria a mesma coisa se não estivesse no século vinte e um. - ele rir e verdadeiramente não sei por que ele rir de mim.

- Seu pai está preocupado com seu futuro e quer que faça um bom casamento só isso. Ele me contou que os jovens da igreja de vocês tem uns que se envolveram com meninas fora da igreja e estão tendo problema para manter esses jovens na igreja. Acho muito normal um pai se preocupar com o filho assim como o seu faz.

- Seria perfeito se meu coração não batesse dois compassos a mais quando vê uma certa garota. - digo me sentido esgotado. - Estou a um mês tentando sufocar as batidas e cada dia que a vejo nasce um novo som aqui dentro.

- Isso sim é o problema. - ele diz se encostando na poltrona.

- E dos grandes meu amigo. - digo rindo forçado. - Como vou casar com a pessoa que não conheço escolhida por meu pai e meu coração batendo por uma outra que meus próprios olhos viram e escolheram?

- Olha, eu acredito que Deus trabalha da maneira Dele e em silêncio. Não posso dizer que essa garota que te enche os olhos é sua prometida ou a que seu pai escolher, mas posso dizer que você vai casar com a melhor delas se esperar em Deus. As vezes o inimigo nos lança petiscos para que agente peque.

- Sabe o que me pego pensando? - digo me levantando e começando a caminhar até a estante de livros. - Penso como vou olhar para minha futura esposa e em meus pensamentos comparar ela com a outra. Como vou sorrir para ela e lembrar do sorriso da outra? Estou tão ferrado João que não tenho dormido direito.

- Cuidado jovem para o inimigo não cegar seu entendimento, acho que o melhor a fazer é orar pedindo a Deus discernimento e sabedoria para essa situação e ficar no Salmo 40.

- Desse salmo eu sou o último versículo. - digo me jogando na poltrona novamente.

- Que bom, pois quando estamos fracos é que somos fortes. - ele sabe qual é o último versículo do Salmo mesmo? penso.

- Obrigado por ter se preocupado comigo.

- Vamos orar?

Nós ficamos em pé e oramos pedindo a Deus a direção divina para minha vida, confesso que saí da sala um tanto aliviado. Vou continuar orando nesse propósito.