Ao encontro do amor

Choque de realidade

Eu estou a três dias enfurnado no quarto sem sair de casa direito e recebo um aviso de papai que tenho que pregar no culto de jovens da igreja de meu tio Tadeu. Levanto a contra gosto da cama chamando a atenção de Will que está em seu note book na cama ao lado. O ignoro e entro no banheiro saindo já arrumado de terno e gravata para ir na igreja.

- Vai para o culto? - ele pergunta e eu sento ao seu lado.

- É o jeito. - digo cabisbaixo.

- Posso te perguntar algo?

- Claro que pode!

- Por que cargas d'água você está tão para baixo esses dias? - eu tenho vontade de sorrir com a pergunta dele, mas não o faço.

- Eu estou só preocupado com esse casamento. - digo o olhando e ele tira os olhos da tela e me mira sério.

- Well, você vivia suspirando por essa menina, tem um book dela no seu celular, quase morreu quando soube que era ela e agora quer dar para trás? Juro primo que não te entendo.

Olho meu primo e levanto caminhando para a janela do quarto, eu também não me entendo e não sei como dizer isso a ele.

- Eu não sei te explicar, mas eu sinto que ela não gostou de saber que sou eu, ela adiantou-se para desligar o telefone e tem me respondido ultimamente muito monossílaba e seca. Sei que a amo com todas as minhas forças, mas estou achando que não vamos ser tão felizes assim, pois não sei se meu amor suportará a indiferença dela por mim.

- Well presta atenção. - ele diz retirando o computador da perna e se ajeitando na cama. Fico lhe olhando tentando ver se precisa de mim para algo, mas ele está bem familiarizado com a sua condição. - Você a conheceu e se apaixonou, nunca conversaram dez minutos só e só agora você troca mensagens com ela; ela aceitou viajar quase duas horas para conhecer um futuro marido que não sabia nem o nome e mesmo tendo dado errado o encontro olhou para seu pai e disse que o acordo estava de pé. Eu acredito que tenha sido um choque ela descobrir que o rapaz que seria seu noivo está numa cadeira de rodas, passou por cinco cirurgias em um mês e depois que ela viveu todo esse drama descobre que o seu pretendente é o que está bom das pernas e pode andar.

- Não vem ao caso esse assunto Will. - digo me aborrecendo com ele se lamentar.

- Vem ao caso sim primo, você é são e pode fazer o que quer da vida e fica aí se lamentando, chorando pelos cantos a possibilidade de um dilúvio onde pode sair e começar construir sua arca. Essa menina precisa lhe ver pessoalmente, conversarem, tomar sorvete, ir ao culto e se apaixonar por você como você é por ela.

- Acredita que poderá haver a possibilidade de ela gostar de mim?

- Claro que acredito. - ele diz. - Precisa voltar para sua casa, já estou bem e tenho a chance de voltar andar com a fisioterapia. Não precisa se prender aqui por mim.

- Não é só por você. - digo passando as mãos na cabeça. - Eu me sinto melhor acompanhando seu tratamento, se eu não tivesse te levado comigo você não teria caído da moto.

- Acontece que você não manda no destino, as coisas de Deus ninguém explica. Eu precisava cair, sofrer o que sofri para dar valor a vida e a Deus. Eu era um filho do pastor que só ia na igreja para cumprir tabela. - ele diz secando uma lágrima e vejo que também choro. Estou levando um choque de realidade aqui do meu irmão e primo e não sei o que responder. Logo eu que sempre achei que era mais cabeça que ele.

- Eu vou para o culto. - digo batendo na sua perna.

- Não primo, nós vamos ao culto e amanhã irás para casa.

- Só vou se eu puder vir te acompanhar nas consultas.

- Tá certo mamãe eu deixo. - nós dois rimos e eu o coloquei na cadeira.

Passei o percurso todo pensando que ele está certo, eu poderia mesmo ir para casa e voltar estudar perto dela e tentar me aproximar mais e quem sabe ela se apaixonar por mim. Meu primo está certo, vou fazer isso e seja lá o que Deus quiser.