Capítulo 18

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Isto é estranho. É novo, diferente me deixa nervosa e inquieta. É estranho esse desejo de querer ver uma outra pessoa feliz, eu nunca entendi o que as pessoas descrevem como "amor". Não digo que estou apaixonada pelo Gustavo. É difícil descrever o que eu sinto por ele.

Continuei sentada no banco olhando ele ir embora, uma parte de mim queria correr atrás dele e pedir para ele continuar ali, não precisava falar ou fazer nada. Só queria que ele ficasse ali, sentado do meu lado. A companhia dele me faz bem, mesmo ele sendo rude, grosso e ás vezes cruel. Será que sou a única que vejo o quanto ele está sofrendo?

Quando ele some de vista eu me levanto e pego minhas coisas indo pra casa. Não consigo entender por mais que tente, por mais que me esforce não entendo. Talvez ele não esteja passando por nada, talvez ele seja apenas uma pessoa que não gosta de muito contacto com outras e eu estou forçando a barra tentando fazer com que ele deixe eu entrar na vida dele sendo que ele não me quer lá.

Durante o caminho para casa considerei bastante essa hipótese mas ela não parece convincente. Mesmo se ele fosse uma pessoa mais reservada ele não teria um olhar tão vazio e tão vago. Um olhar tão sofrido e que pede por carinho.

Será que só eu estou vendo isso?

Quando estou chegando em casa, vejo alguém conversando com a minha mãe na entrada de casa. Logo reconheço a pessoa. Alto loiro e bem simpático, ele conversa com a minha mãe como se já fosse íntimo dela.

- Filha você chegou. - diz a minha mãe quando me vê.

- Oie mãe, Angelo que surpresa. - digo com um sorriso forçando mas percebo que ninguém percebeu isso.

- Desculpa vir na sua casa sem avisar. - diz levantando e ficando na minha frente - É que eu queria conversar com você sobre o meu comportamento na escola.

- Ah tudo bem, não precisa se preocupar. Pode vir quando quiser você é bem vindo.

Ele sorri quando digo isso e a minha mãe sai de fininho. Quando ela entra em casa eu aproveito e me sento onde ela estava sentada e o Angelo também se senta a uma certa distância de mim. 

Sempre um cavalheiro e bastante respeitoso.

- Porquê quer me pedir desculpas? - digo dando inicio á conversa.

- Eu sei que você percebeu que eu não estava bem legal com o meu irmão e eu não quero que você tenha uma ideia errada de mim.

- É, eu realmente achei muito estranho o jeito que você falou com o Gustavo. Aconteceu alguma coisa entre vocês que te deixou chateado? - pergunto descaradamente fazendo o Angelo suspirar - Olha desculpa se fui muito intrometida.

- Não, tudo bem. Eu acho que vou ter que te contar de qualquer jeito se quero que entenda o motivo da minha mudança de comportamento.

Ele faz uma longa pausa, parece estar pensando em como contar o que estava acontecendo. Eu não faço nem digo nada, deixo ele pensar e decidir como e o que contar para mim.

- Bom...eu acho que já te disse que o Gustavo não ficou com a minha mãe depois que os nossos pais se divorciaram. - diz calmamente.

- Sim você comentou algo por alto.

- Na verdade, o Gustavo só foi embora com o nosso pai porque ele nunca aceitou o facto de eu ser o preferido da nossa mãe. Ele odeia a nossa mãe por isso.

- O que? 

- Sim eu sei. É que...a nossa mãe sempre tratou a gente de forma diferente. Mas ela não fazia por mal, eu ficava mais com ela, eu ajudava mais ela com as coisas da casa. O Gustavo era o contrário, ele preferia ajudar e imitar o nosso pai que não fazia nem ligava para nada dentro de casa.

- Mas...eu achei que ele tinha decidido ir embora com o pai de vocês.

- Sim ele foi. A nossa mãe pediu para ele ficar mas ele não quis. A nossa mãe descobriu que estava doente muito antes de toda a decisão de divorcio. A doença dela é grave e custa muito dinheiro o tratamento. O nosso pai não queria gastar dinheiro com uma mulher que ele nem se importava mais, então ele pediu o divórcio. Quando nós soubemos disso, eu fiquei indignado. Briguei com o nosso pai defendi a nossa mãe mas o Gustavo ficou na dele. Preferiu não escolher nenhum lado. Durante todo o processo do divórcio ele nunca disse com quem ia ficar até o dia da audiência no tribunal. A nossa mãe tinha conversado com ele uma hora antes dele entrar na presença do juíza e ele não tinha dito nada a ela. Quando ele disse na frente da juíza que queria ficar com o nosso pai porque a nossa mãe desprezava ele e só se importava comigo.....aquilo partiu o coração da nossa mãe. Ela se sentiu muito humilhada e isso piorou muito o estado dela.

O Gustavo humilhou a própria mãe? Não, ele não faria tal coisa. Ele não é assim, tudo bem que ele é mal criado ás vezes mas ele nunca humilharia ninguém, ainda mais a própria mãe.

- Durante todo o tratamento ele nunca visitou ela. Nunca ligou, mandou uma carta, uma foto. Enquanto que ela sofreu por muito tempo. Nunca se deve afastar um filho de uma mãe. Até que teve um dia que ele atendeu uma chamada minha. Eu expliquei para ele o estado da nossa mãe, como ela queria ver ele antes de..... - ele desvia o olhar.

Também deve ser difícil para ele falar sobre tudo isso.

- Enfim - diz depois de suspirar - Eu conversei com ele e ele me garantiu que viria ver a nossa mãe. Por isso que ele voltou para cá. Então hoje de manhã eu te disse que ele tinha saído. Eu descobri que ele foi até o hospital visitar a nossa mãe.

Ele faz uma grande pausa, ele parece bastante perturbado.

- O que aconteceu?

- Ele....voltou a humilhar a nossa mãe. Os médicos me disseram que a visita dele foi tão ruim que tiveram que sedar a nossa mãe.

Eu olho pro Angelo sem saber o que dizer e ele sinceramente não parece esperar nenhuma resposta.

Não consigo acreditar nisso. Eu não quero acreditar nisso. O Gustavo não é essa pessoa. Essa pessoa não é a mesma que se divertiu comigo na feira, não é a mesma pessoa com um sorriso tão meigo e feliz que eu vi. O Gustavo.....

O Gustavo é alguém que eu realmente não conheço. Será que eu me enganei esse tempo todo? Será que ele nunca foi vitima de nada e sim um vilão o tempo todo?

- Bom....foi por isso que eu agi daquela forma com ele. E queria pedir desculpas se te deixei em uma situação embaraçosa de alguma forma.

- Não...tudo bem eu entendo.

- Alicia?

Ele segura o meu queixo me fazendo olhar para ele e nesse momento sinto o meu rosto queimar.

- Eu não quero que você pense nada mau de mim. Eu não suportaria isso. Você é uma garota linda, bondosa e divertida. E eu quero muito continuar com você perto de mim e quero muito te conhecer melhor também. - diz sorrindo.

MEU DEUS DO CÉU ELE ESTÁ MUITO PERTO! ALICIA SE MEXE MINHA FILHA!

- Obrigada....você também é muito legal e eu também quero conhecer você melhor. - digo me afastando e tirando a mão dele do meu rosto.

O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

- Acho melhor você ir...antes que fique escuro. - digo sorrindo amigavelmente para ele.

- Claro. Te vejo na segunda então. - diz sorrindo também e antes de ir me dá um beijo no rosto.

 O QUE TEM DE ERRADO COM VOCÊ ALICIA?

Eu não sei. O jeito que ele tocou no meu rosto, me deixou com vergonha mas não foi do mesmo jeito que o Gustavo faz. Não me fez sentir do mesmo jeito que o Gustavo faz.

Gustavo....essas coisas são verdades? Você fez isso?

Gustavo....quem é você?



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