Capítulo 19

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Eu não consigo parar de pensar em tudo o que o Angelo me contou. O Gustavo é uma pessoa tão diferente do que eu pensava, será mesmo que eu me enganei tanto quando olhei para ele?

Fico sentada na banheira aproveitando a água quente e pensando no que devia fazer com toda aquela informação. Uma parte de mim queria confrontar o Gustavo e ouvir aquilo que ele tem a dizer para se defender, mas outra parte diz que é melhor eu não me meter. Tenho a sensação de que acabaria por perder o Gustavo de vez se realmente jogasse na cara dele tudo o que o Angelo me disse.

Estava sozinha em casa, a minha mãe teve que ir trabalhar durante a noite então a casa estava num silêncio absoluto, o que piorava a minha situação. Não tinha ninguém com quem conversar para me ajudar a decidir o que fazer. Essa é a pior parte de não se ter um melhor amigo, alguém que esteja ao seu lado, alguém em quem você possa confiar tudo.

Eu sempre via nas séries uns amigos tão leais e sinceros mas nunca consegui encontrá-los. Primeiro porque segundo a escola eu sou a "gótica esquisita" e segundo porque da última vez que deixei alguém entrar na minha vida essa pessoa partiu o meu coração. Desde esse dia eu acho que nunca mais quis procurar me relacionar verdadeira com outras pessoas, até me sentia aliviada pelas pessoas da escola não se aproximarem de mim.

Mas agora, um melhor amigo, não seria má ideia.

Obrigada pela parte que me toca.

Saio do banheiro e vou pro meu quarto já com o meu pijama vestido. Arrumo o cabelo e desço pra sala. Sexta-feira a noite é dia de assistir séries a madrugada inteira sem ter que me preocupar em acordar cedo no dia seguinte para ir pra escola. Vou até á cozinha e pego tudo aquilo que vou precisar. Doritos, chocolate, bebidas, pipocas, brigadeiro, sorvete e levo tudo para a sala.

Na sala preparo o meu "forte". Coloco bastantes almofadas e cobertas no sofá deixando o sofá ainda mais confortável. Abro o sofá para poder deitar com as pernas esticadas e antes de me sentar verifico se a casa está toda fechada.

Tudo pronto, ligo a televisão e me sento no sofá. Dou play na primeira série da noite "Friends". Começo sempre pela melhor, se deixar vejo uma temporada inteira num só dia. A série é muito legal e mais uma vez a ideia de ter amigos como eles passa pela minha cabeça. Fico imaginando como seria conhecer um garoto bonito como o Joey, engraçado como o Chandler e romântico como o Ross. Encontrar esse garoto, me tornar melhor amiga dele e depois perceber que sou completamente perdidamente apaixonada por ele. O melhor de tudo seria se eu pudesse ser uma mistura da Rachel da Monica e da Phoebe. Sem brincadeira, eu seria a garota perfeita. A beleza da Rachel, a alegria da Phoebe e com algumas das manias da Monica eu seria a garota perfeita.

Ilusões de jovens não é mesmo, quem nunca as teve?

Estou na quinta temporada no episódio 17. A Rachel beijou sem querer o homem que estava entrevistando ela para um novo emprego e a partir daí ela já gritou com o homem achando que ele queria dormir com ela e pensou que ele queria beijá-la por ela ter a boca toda suja de tinta.

O melhor de assistir séries sozinha é poder rir á vontade sem ter alguém te olhando e achando você uma retardada. E sempre que eu assisto "Friends" eu rio até chorar.

Estava tudo bastante tranquilo, ia começar a assistir a minha segunda série da noite "Arrow" quando escuto a campainha da casa tocar. Olho no relógio sem acreditar que já fosse de dia para a minha mãe ter chegado. No relógio são 02:30 então definitivamente não é a minha mãe. Será que estava rindo muito alto e incomodei os vizinhos?

A campainha continua tocando, então me levanto saindo do quentinho do meu ninho e vou até a porta.

Você vai abrir assim? Na cara dura? E se for algum ladrão ou pior um assassino ou pior um estuprador? Você que gosta tanto de assistir filmes devia saber que não se abre assim a porta de madrugada para alguém ainda mais estando sozinha em casa.

Para de drama, isto é a vida real não um filme "Scary Movie". Mas precaução nunca é de mais né?

- Quem é? - pergunto segurando a chave e a maçaneta da porta para impedir que a pessoa tente abrir.

Silêncio.

Será que estou imaginando coisas? Será que imaginei que alguém tinha tocado á campainha? Espero mais um pouco mas não escuto nada nem ninguém. Deve ter sido coisa da minha cabeça só pode. Estou vendo muito filme e série e até já escuto os sons dos episódios.

Volto pro meu querido sofá e quando estou completamente quentinha e aconchegada escuto a campainha tocar de novo. Dessa vez tenho certeza de que não foi coisa da minha cabeça. Com o coração a mil me levanto de novo e vou até a porta e de novo seguro na chave e na maçaneta.

- Quem é? - pergunta com o medo evidente na minha voz.

Espero uma resposta mas não escuto nada. Como a minha rua é pouco iluminada também não consigo ver nada pela pequena abertura no fim da porta.

- Abre a porta.

Espera aí eu conheço essa voz!

Gustavo?

- Por favor. - diz depois de uma breve pausa e com uma voz muito estranha.

O que o Gustavo está fazendo aqui? Ainda mais a essa hora?

Destranco a porta e abro devagar olhando pro garoto na minha frente que não me encara de jeito nenhum. Ele esta encarando o chão com o capuz na cabeça e com o MP3 quebrado na mão. Ele está estranho, não consigo ver o rosto dele mas tenho certeza que está acontecendo alguma coisa.

Essa minha ideia é confirmada quando vejo lágrimas caindo dos olhos dele e molhando o tapete da entrada. Nesse momento parece que o meu coração quebrou.

Porquê ele está chorando? Ele não devia estar chorando!

Sem pensar eu avanço para perto dele e o abraço. Não penso, não faço a menor ideia do porquê estou me sentindo tão mal por ver ele assim. Apenas o abraço e sinto ele corresponder o meu abraço logo de seguida, como se estivesse desesperado por carinho.

Sinto ele apoiar a cabeça no meu ombro e esconder o rosto no meu pescoço. Instantes depois sinto o meu ombro molhado. Ele está chorando e muito. Eu nunca me senti em um momento tão único como este. O garoto que sempre me irritou que é rude comigo mas que é o responsável por provocar vários sentimentos novos em mim está nos meus braços chorando.

O jeito que ele esta agarrado a mim deixa claro o quanto ele está precisando de alguém naquele momento e saber que ele veio até mim enche o meu peito de alegria. Deixo ele chorar. Não falo nada, não pergunto nada porque não acho que seja o momento certo para isso. Apenas deixo ele chorar e colocar pra fora tudo o que estava sentindo.

Tiro o capuz dele e começo a acaricia os cabelos negros e macios. Nunca me imaginei em algo assim antes, mas tenho que admitir que não quero soltar ele. Quero que ele continue aqui. Perto de mim, precisando de mim do jeito que ele está agora.

Será você Gustavo? Será você o garoto que eu estava esperando todo esse tempo? Será que eu estou apaixonada por você?

Qual deles é o tal?Onde histórias criam vida. Descubra agora