Capítulo 11

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Durante todo o percusso da montanha russa o Gustavo ficou segurando a minha mão. Eu esqueci completamente o medo que eu sentia dessa montanha russa, me diverti tanto que até soltamos as mãos para ficar com os braços para cima nas partes mais radicais da montanha russa e fizemos uma competição para ver quem gritava mais alto.

- Meu Deus eu vou ficar sem cabelo! - digo rindo e tentando segurar o cabelo enquanto a montanha russa faz os looping's mais loucos do mundo.

O Gustavo ri da minha cara cheia de cabelo e eu sorrio vendo ele rir. Parece tão feliz tão mais leve quando ele está assim, sorrindo rindo. Ele parece o tipo de pessoa que esconde muita coisa, muita coisa que aconteceu e o marcaram. Ele não parece, ele é o tipo de pessoa que está carregando um fardo muito muito pesado e isso o impede de ser essa leveza que ele está mostrando agora.

Segurando a minha mão e gritando aproveitando a montanha russa ele parece alguém ainda mais gentil e bondoso que o Angelo. Parece uma criança que acabou de ganhar o presente de natal mais legal do mundo.

- Vem ai a melhor parte! - diz animado quando a montanha russa se aproxima da subida mais alta.

Saio dos meus devaneios e reparo o quanto estamos altos e o medo logo se instala. Neste momento estou pensando em todas as possibilidades desta viagem acabar comigo espatifada no chão. Fecho os olhos com força tentando me livrar destes pensamentos até que sinto uma mão no meu cabelo.

Viro o rosto e me deparo com o rosto do Gustavo a milimetros do meu. Parece que o meu coração está batendo mais rápido do que o de uma garota quando conhece o ídolo musical. Olho nos olhos dele, são verdes, só agora percebi isso. Um verde tão vivo, tão cheio de alegria. O olhar dele me passa uma sensação de segurança tão grande que por momentos esqueço os meus medos. Ele mexe a mão no meu cabelo e percebo que ele está tentando colocar o fone dele no meu ouvido. Ainda estou com o MP3 dele, eu coloco o fone enquanto o carrinho da montanha russa ainda sobe e ele pega o MP3 da minha bolsa mexendo nele. Eu olho para saber o que ele está fazendo e então percebo que ele está escolhendo uma música.

Ele dá play. A música começa com uma melodia suave mas vai ganhando ritmo e parece que eu sou tudo aquilo que a música fala. Eu me sinto tão confiante, tão dona de mim mesma que eu me atrevo a olhar para baixo e ver o tamanho das pessoas estando tão alta.

A música ganha mais velocidade e ritmo e neste momento eu me sinto completamente livre de medos. Curto a música dançando no carrinho, da maneira que podia, e o Gustavo do meu lado olhando com um sorriso. Quando a música chega no seu ápice o carrinho desce a toda a velocidade.

Nesse momento começo a gritar. Grito com toda a voz que tenho, com todo o ar que tenho nos pulmões. Mas não é um grito de medo, é um grito de liberdade. Como se eu estivesse no topo do mundo depois de o conquistar completamente. Grito como se aquele grito mostrasse que não tenho medo de nada. Que tudo o que existe no mundo é meu, eu que conquistei. Me sinto tão forte tão confiante com a música e o vento batendo no meu cabelo bagunçando ele por completo.

O Gustavo também está gritando mas parece estar sentindo tudo o que eu estou sentindo só que com muito mais intensidade. Tudo parece voltar "ao normal" quando o carrinho para de se movimentar e a música acaba.

Estou ofegante, descabelada, com o corpo tremendo de excitação mas mesmo assim quero andar de novo, dar play na música de novo e sentir tudo o que senti de novo. De novo. De novo. O Gustavo estava rindo quando os cintos do carrinho são destravados, ele está no mesmo nível ou talvez num nível mais alto que o meu de adrenalina.

- Meu Deus não sei como ainda tenho voz. - digo saindo do carrinho da montanha russa rindo.

- Amanhã você fala isso tá bom? - o Gustavo diz rindo segurando a minha mão e me levando para longe da montanha russa.

Não sei porque mas sempre que ele toca a minha mão parece que o tempo para e eu fico só sentindo o calor da mão dele. Ele está agindo de uma maneira tão diferente, parece outra pessoa neste momento.

Vamos até onde o Angelo estava sentado assitindo série no celular mas com uma cara nada boa.

- Angelo? Está tudo bem? - digo me aproximando dele e logo o Gustavo solta a minha mão ficando mais para trás.

- Ah...sim claro. Tudo bem. Eu só estou com um pouco de dor de cabeça, acho que vou voltar para casa. - diz olhando para mim com uma cara péssima.

- Tudo bem vamos voltar, podemos passar numa farmácia para você comprar algum comprimido. - digo me aproximando e tocando na testa dele - Bom você está um pouco quente, pode estar ficando doente.

- Então a gente veio até aqui só para andar um brinquedo e depois ir embora? - diz o Gustavo chateado.

- Olha vocês podem.... - começa o Angelo mas eu o interrompo.

- Nós viemos os três juntos, se um quer ir embora devemos ir todos.

- Lá porque partilhei o mesmo ventre que ele, isso não quer dizer que eu devo andar agarrado a ele. - retorquiu o Gustavo bem chateado.

- Alicia está tudo bem, o Gustavo tem razão. Não percam a tarde de brincadeira por minha causa. Vocês podem ficar, eu não quero ser o pivo do fim da diversão.

O Gustavo ri sem humor e eu fico sem entender essa atitude mas o Angelo acaba me convencendo a ficar com o Gustavo para aproveitar a feira e vai para casa sozinho.

- Você podia ter sido mais compreensivo. - digo enquanto andamos pela feira procurando algo para fazer, penso eu.

- Compreensivo? - diz com ironia - Ele quem fez este circo todo para virmos aqui e assim que chegamos temos que voltar para trás?

- Ele é seu irmão. E não estava passando bem. Como é que você pode ser tão egoísta? Só sabe pensar em você. - digo parando de andar.

Ele não responde nada só fica parado na minha frente sem olhar para mim. Ficamos em silêncio e começo a pensar que talvez tenha falado mais do que devia.

Você acabou de estragar todo o clima minha querida.

Pela primeira vez, ou talvez não, vou ter que concordar com você. Ele estava tão tranquilo, tão divertido. Parecia estar sendo ele mesmo e eu acabo por dizer que ele é um egoísta que não se importa com o irmão.

- Gustavo.... - começo mas ele me interrompe.

- Pode ir embora. - diz começando a andar e se afastando de mim bem depressa.

- Ei! Calma ai. - digo o alcançando - Eu vou ficar. Vamos nos divertir como antes. Aproveitar os brinquedos, você tinha razão, nós não viemos aqui para ir embora sem aproveitar. - digo andando juntamente com ele mas sempre um pouco atrás.

- Vai embora! - diz continuando a andar sem retardar o passo.

- Gustavo! - digo ainda andando atrás dele - Desculpa eu não queria dizer aquilo, não queria te magoar eu só....

- Você só pensou no coitadinho do Angelo! Pois então vai lá cuidar dele e não enche o meu saco! - diz virando para mim irritado da mesma forma que eu sempre o via.

Paro de andar e olho nos olhos dele. Vazios, sem vida. O verde alegre e vivo dá lugar para uma cor escura, parece até que ele tem os olhos cinzentos. Por isso nunca reparei que os olhos dele eram verdes. Ele já não parece mais aquele garoto da montanha russa. Ele vira de costas e compra bilhetes para a casa assombrada e entra me deixando sozinha.

E agora? Vamos embora?

Qual deles é o tal?Onde histórias criam vida. Descubra agora