Perdendo A Linha

BONANÇA • Parte 1/2

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🔥 ▪ Tom Marcory ▪

Uma coleira. A porra de uma coleira.

Eu nunca havia usado uma, não em mim. A sensação colante do silicone em meu pescoço, repuxando um pouco da pele sempre que eu ousava esquecer da sua presença ali, e então fazia um movimento muito brusco com a cabeça, servia à um propósito: me lembrar do quanto Enna tinha domínio sobre meu corpo.

Eu poderia ter simplesmente recusado, ela aceitaria, imagino. Mas havia algo no modo que pendurou e balançou o objeto à minha frente, enquanto ditava as regras daquele encoleiramento. Mas eu aceitei.

Por Deus, eu não me arrependia.
Em tantos anos na prostituição eu nunca tinha me submetido, as mulheres sempre optaram por serem dominadas, e mesmo sabendo do grande leque de submissão masculina, nunca me ocorreu a idéia de dominação.

E que dominação.
As lembranças da noite passada ainda atordoavam minha calça sempre que eu olhava distraído para a morena, que conversava na porta da casa com Yohanna. Ontem eu tive a certeza que meu orgulho se esvaira do meu corpo. Enquanto eu fracassava nas tentativas de comer Enna como eu queria, me dei conta enfim do que ela queria dizer. Quem fodia era ela. Apenas.

E querendo ou não, eu deveria aceitar, deveria me contorcer em espasmos e segurar meu orgasmo enquanto ela rebolava aquela delícia de corpo em cima de mim simplesmente por que ela queria assim.
Simplesmente. Tinha a breve impressão que nada com Enna é simples.

Todos já tinham acordado, Katrine inclusive estava malhando com Dona Luana, trocando dicas sobre saúde, Yohanna e Enna conversavam enquanto Thaygo bebia com o pai. Eu apenas fiquei na minha, os observando de longe, aproveitando a calmaria do lugar.

- Tom! - Thaygo gritou por mim, e o olhei, vendo que ele apontava para o meu celular vibrando em cima da mesa. Me levantei, indo até o mesmo e vejo que é Mariah.

Atendo já com um sorriso estampado no rosto.

- Bom dia flor do dia. - Chamei cantarolando.

- Bom dia nada, estou brava contigo! - Avisa e eu franzo o cenho. - Ontem você disse que ia ligar! - Ralhou, me fazendo lembrar também que estava tão cansado a noite que nem lembrei da minha promessa.

- Ah, me desculpe meu amor. Eu tive uns probleminhas. - Olhei de relance para Enna, que ria com alguma besteira de Yohanna. Severamente linda. - Infelizmente não é sempre que posso te ligar para te dar boa noite..

- Eu sei, mas estou com saudades da sua voz... De você. - Resmungou manhosa, lambi o lábio inferior, me sentindo mal por precisar ser tão distante quanto sou, mesmo que seja para manter minha família, ficar meses afastado era uma tortura.

- Eu também sinto sua falta sabia? - Tento refocar o assunto.

- Sei sim. Mas então, tá tudo bem? É verdade que aí tem praia? - Sua voz se desfaz numa genuína satisfação e eu confirmo com um "ahram". Ouço ela gritar animada sobre o quão legal deveria ser o mar, e Mah me fez prometer levá-la um dia, pela primeira vez na praia. E seguindo assim, fomos emendando assunto após assunto, até que quando dei por mim já era meio-dia, e Yo me chamou para ir almoçar.
Com um aperto enorme no coração desliguei a chamada, me levanto e entro na casa dos Ciprio, me sentando à mesa com eles, ao lado de Enna.

- Tudo bem? Aconteceu algo? - A morena pergunta, me olhando. Minha cara estava tão abalada assim?

- Não, só minha irmã me ligou e... - Respondo mas ela logo se levanta.